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Gerald Thomas dirige Ney Latorraca em Entredentes

Comédia evoca momentos vividos pelo ator em 2012, quando esteve à beira da morte

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 dez 2016, 12h41 - Publicado em 3 out 2014, 09h00
Maria de Lima, Edi Botelho e Ney Latorraca: nonsense fragmentado
Maria de Lima, Edi Botelho e Ney Latorraca: nonsense fragmentado (LENISE PINHEIRO/divulgaçÃo/)
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Ao longo de sua carreira, Gerald Thomas se acostumou a escrever peças direcionadas para os atores que as encenariam sob sua direção. Foi assim em Beckett Trilogy, de 1985, com o americano Julian Beck (1925-1985) no papel de um moribundo, quando o próprio estava morrendo de câncer. Brasileiros também participaram de seus exercícios de metalinguagem: em The Flash and Crash Days, de 1991, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, mãe e filha, encarnaram duas gerações que se enfrentavam. Marco Nanini viveu um ator com o mesmo nome de seu intérprete em Um Circo de Rins e Fígados, de 2005. No ano seguinte, Marília Gabriela representou uma entrevistadora de programa de TV em Esperando Beckett. Na comédia Entredentes, seu quarto trabalho com Ney Latorraca, Thomas evoca em vários momentos a experiência vivida pelo ator no fim de 2012, quando ficou internado por quase dois meses, à beira da morte, devido a complicações decorrentes de uma cirurgia de vesícula. Não espere, no entanto, uma peça biográfica. Em cena, Latorraca e Edi Botelho — posteriormente em companhia da atriz portuguesa Maria de Lima — sugerem algo da dupla Vladimir e Estragon, de Esperando Godot, de Samuel Beckett (1906-1989). Sob o comando de Thomas, o trio abre mão de uma narrativa convencional para despejar um jorro de ideias sobre quase tudo: crise na Ucrânia, tensões no Oriente Médio (parte da montagem tem o Muro das Lamentações como cenário) e novelas brasileiras. Há bons momentos, como a cena em que Maria desfia aos espectadores um rosário de problemas históricos do Brasil, para em seguida interromper a fala e explicar que as críticas não são dela, mas de Thomas, e reiterar seu amor pelo país, citando, porém, razões comicamente questionáveis, como a existência de favelas. O elenco se entrega com notável gosto à proposta nada tradicional — e Latorraca, luminoso, é uma atração à parte. Mas, mesmo considerando o afamado caráter experimental da obra de Thomas, aqui a multiplicidade de referências absolutamente descosturadas por vezes se perde no vazio e suscita uma incontornável impressão de maneirismo de diretor. Ou de confusão pura e simples vendida como genialidade (90min). 16 anos. Estreia prometida para sábado (10).Teatro Sesc Ginástico (513 lugares). Avenida Graça Aranha, 187, Centro, ☎ 2279-4027. → Quinta a domingo, 19h. R$ 20,00. Bilheteria: a partir das 13h (qui. a dom.). Até 2 de novembro.

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