Valorizar soluções criativas, lançar novas tecnologias, apresentar materiais, destacar talentos e, sobretudo, espelhar o jeito carioca de morar — com toda a sua pluralidade, simplicidade e elegância. A proposta da mostra Casa Cor, que abriu as portas na terça (11), encaixa-se perfeitamente no endereço escolhido para a sua 26ª edição carioca. A chamada Casa Rosa da Gávea, como é conhecida a mansão que pertenceu ao empresário Celso da Rocha Miranda, dono de um conglomerado de empresas, entre elas a extinta companhia aérea Panair do Brasil, é símbolo de um rico período da história da cidade, iniciado na quarta década do século passado. Embora a residência ostente ares majestosos, ao entrar na exposição o visitante depara com uma sucessão de ambientes em escalas comedidas, de 11 a 70 metros quadrados, compatíveis com os apartamentos que existem hoje no Rio. Tudo isso emoldurado por um jardim de 5 000 metros quadrados, com lagos e fontes, que leva a assinatura do mestre Roberto Burle Marx (1909-1994). Trata-se do cenário perfeito para os 67 profissionais convidados, entre arquitetos, decoradores e paisagistas, criarem 45 ambientes, internos e externos. “Em tempos de redes sociais, em que se quer tudo rápido e conciso, fizemos uma edição que reúne as principais tendências apresentadas pelos melhores profissionais do Rio”, resume Patricia Mayer, da 3Plus, que organiza o evento junto com a sócia Patricia Quentel.
Desde a sua estreia no Rio, em 1991, quando ocupou uma mansão na Urca, a Casa Cor passou por construções centenárias, condomínios recém-lançados, um shopping e até uma vila histórica restaurada, como aconteceu em 2015. Como já é um ícone local, a casa da Gávea, além de sediar o maior evento de arquitetura e decoração das Américas, deve se transformar em um ponto de encontro até 20 de novembro, com seus bares, restaurantes, cafés e lojinhas. A expectativa é que, em pouco mais de um mês de duração, a mostra receba 60 000 pessoas. O palacete em estilo eclético, que por quarenta anos foi morada da família Rocha Miranda e palco de grandes festas e reuniões de amigos, não poderia ser mais adequado para comemorar os trinta anos da Casa Cor, marca pertencente ao Grupo Abril, que edita VEJA RIO. Desde o surgimento, na capital paulista, a mostra ganhou edições em vinte cidades do Brasil e em outros três países (Bolívia, Equador e Peru). Em 2017, será a vez de o evento estrear em Miami, nos Estados Unidos. Nas páginas a seguir, trazemos alguns dos destaques da montagem carioca.
Entre o clássico e o moderno
O ambiente que recebeu o projeto da arquiteta Paola Ribeiro para a sala de estar trazia características marcantes: pé-direito alto, piso de peroba do campo e janelões de ferro. Com tais recursos à mão, ela misturou o antigo com o contemporâneo e o sofisticado com o casual no living que é a porta de entrada da mostra. Uma antiga cômoda portuguesa de madeira clara, por exemplo, contrasta com uma mesa espelhada. Obras de arte de nomes que vão de Alexandre Rato (a pintura da foto) a Oscar Niemeyer cobrem todas as paredes. A iluminação indireta foi escolhida para proporcionar uma atmosfera intimista.
Piscina e lareira
Usada como entrada lateral, a varanda da casa virou um convidativo espaço para relaxar. No ambiente criado por Maurício Nóbrega, peças e móveis contemporâneos em tons claros se contrapõem às linhas ecléticas da residência. Para quebrar a monocromia, uma escultura colorida ganhou destaque. Ao fundo, piscinas em desnível formam um spa com hidromassagem, ducha e cascata que podem ser acionados pelo celular. O toque inusitado é dado pela lareira horizontal junto às piscinas. Uma parede espelhada reflete o jardim.
Nas asas da Panair
Inspirada em seus antigos moradores, a sala de leitura de Mário Santos mistura decoração e história. Objetos achados no casarão durante os preparativos da mostra foram incorporados ao projeto. Entre eles destacam-se a maquete de um avião DC-7 da Panair do Brasil e um pôster do documentário feito sobre a extinta companhia aérea. Duas grandes poltronas de couro com pufes, painéis de louro-freijó e uma mesa-lareira de granito, com nichospara livros, dão um clima sóbrio e acolhedor ao espaço.
Quarto na despensa
Cada espaço da antiga despensa, com 11 metros quadrados, foi aproveitado por Paula Costa. Com a proposta de estimular a criatividade, televisão e computadores ficaram de fora do refúgio da meninada. Uma cabana de tecido com um pufe funciona como o cantinho da leitura. Os livros e brinquedos ganharam nichos especiais. Uma mesinha e um quadro negro compõem a área dedicada ao desenho. Para revestir uma das paredes foi usado um papel feito sob medida no qual o rosto dos personagens pode ser trocado por fotos da família.
Viagem aos anos 1920
Com estilo irreverente, Carlos Carvalho e Rodrigo Beze despontam entre os novos talentos da arquitetura e design cariocas. Inspirados na estética de O Grande Gatsby, criaram na sala do antigo casarão um ambiente que resgata o requinte dos anos 1920, com cristais, objetos de antiquário e detalhes em latão dourado. Tudo mesclado a pinceladas contemporâneas como o sofá de veludo azul e um quadro de Vik Muniz.
Escritório com vista
Concebido por Gabriela Eloy e Carolina Freitas, e com o deslumbrante jardim de Roberto Burle Marx como cenário, o escritório tem paredes de vidro que valorizam a natureza ao redor. Para reforçar o clima de refúgio e de contemplação, Maneco Quinderé criou iluminação em LED em um espaço onde predomina a cor cinza, o tom coringa da temporada. A tecnologia de ponta com preocupação ecológica está presente no ar-condicionado sustentável, cujo consumo de energia é quase nulo, ao captar o ar quente externo e transformá-lo em ar frio.
Suíte no jardim
A dupla de arquitetas Márcia Müller e Manu Müller, mãe e filha, projetou um pavilhão de hóspedes que, além de confortável, se destaca pela sustentabilidade. De ferro, vidro e madeira com selo verde (oriunda de florestas com manejo controlado), a estrutura ganhou decoração que mescla peças de antiquário com mobiliário moderno. Nesse último quesito, encaixa-se a cama de casal automatizada, que oferece diversas inclinações e função massageadora. Os tecidos são assinados pela artista Mucki Skowronski.
Pátio modernista
O projeto de Patricia Marinho e Manuèle Colás foi pensado a partir do mural de azulejo criado pelo arquiteto Noel Marinho, que trabalhou no Plano Piloto de Brasília e é pai de uma das idealizadoras do espaço. Protegido do sol e da chuva por um toldo retrátil, o ambiente se integra ao jardim. A bandeja da mesa lateral e o apoio entre os sofás também foram revestidos de azulejos. Dois biombos criados por Patricia Marinho limitam o local. Para dar uniformidade à área, a paleta do mobiliário e dos tecidos tem variações de branco, caramelo, cinza e azul-água, as mesmas cores das peças de cerâmica.
Cabana ecológica
Sucesso na edição 2014 da Casa Cor, a arquitetura modular de Duda Porto está de volta. O recanto de linhas retas e traços simples demorou apenas quinze dias para ser montado, sem gerar resíduos e com mínimo impacto. O loft de estrutura metálica, construído sem tijolo nem cimento, ganhou revestimento de madeira de reflorestamento e tem isolamento térmico de PET reciclado. Sustentável, confortável e elegante, o espaço é dotado ainda de janelas com aberturas diagonais para melhor captação do vento, placas de energia solar e calhas para a reutilização de água da chuva. Do lado de fora, uma casa na árvore completa o projeto.
Banheiro versátil
O banheiro de Marta Guimarães e Daniele Faraco foi concebido como um cômodo dinâmico e funcional, com móveis que podem ser deslocados em caso de mudança — incluindo armários, porta-toalhas e bancada metálica com tampo de mármore. As cores verde, azul e cinza-claro remetem à natureza e aparecem em pinceladas no ambiente, como nos quadros pendurados acima da banheira portátil feita de material resistente à oxidação. Por fim, a parede de seixos do box quebra a frieza do mármore e esconde o ralo no chão.
Um mergulho na história do café
O grupo formado por Carolina Escada, Patrícia Landau, Carolina Lerner, Gabriella Mello e Sabina Kalaoun pesquisou a fundo a história, as curiosidades e os benefícios do café para criar um espaço repleto de informação sobre o produto. Mudas de diferentes tipos decoram as mesas do armazém, acompanhadas por cartõezinhos que explicam a procedência e as características de cada planta. Em tons terrosos como marrom, laranja, cobreado e bordô, o salão é ornamentado com peças de artesanato. Do lado de fora, Celina Llerena criou uma estrutura de bambu e cordas náuticas seguindo conceitos de bioarquitetura.