Poeta, romancista, ensaísta, folclorista, crítico literário e agitador cultural, Mário de Andrade (1893-1945) deixou um legado indiscutível. Não à toa, no ano que marca sete décadas de sua morte, ele foi escolhido como o homenageado principal da 13ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece de 1‚ a 5 de julho. No período, cerca de 20 000 visitantes deverão invadir as ruelas da cidade calçadas de pedras, o que significa uma acirrada disputa pelos 850 lugares na Tenda dos Autores e nas áreas abertas com telões que transmitem as conferências dos 42 escritores nacionais e internacionais que prestigiam o evento. É óbvio que muita gente vai ficar de fora, principalmente das palestras mais concorridas. Tal déficit, entretanto, não significa que aqueles que não conseguirem estar no festim principal serão excluídos desse banquete cultural. Além da festa em si, as editoras e as entidades participantes oferecem um consistente cardápio de atrações capaz de saciar qualquer apetite. “Teremos atividades por todos os cantos”, garante Paulo Werneck, curador da feira. “Como se trata de um lugar isolado, onde todo mundo circula a pé, as pessoas estão abertas a diferentes experiências”, acrescenta.
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De uma forma geral, os eventos paralelos seguem um modelo semelhante ao da programação oficial, com mesas-redondas, debates e palestras com personalidades, muitas delas presentes, inclusive, no espaço principal da Flip (veja os destaques abaixo). O tema das apresentações é que costuma ir por outros caminhos. Na Casa do Instituto Moreira Salles, que vai receber dez escritores presentes na Tenda dos Autores, os palestrantes escolhem entre um personagem ou um livro favorito para discorrer a respeito. “É uma oportunidade de o público conhecer o lado leitor do escritor que admira”, diz Marília Scalzo, coordenadora de comunicação e marketing do IMS. A Casa Rocco, mantida pela editora homônima, abrirá as portas para duas autoras que estão lançando suas publicações no evento principal. Uma delas é a inglesa Sophie Hannah, novelista de prestígio no Reino Unido, que ganhou autorização da família de Agatha Christie para usar um de seus personagens mais emblemáticos, o detetive Hercule Poirot. Já na Off Flip das Letras, cinquenta escritores se juntarão a editores e agentes literários para conversar sobre os rumos e os desafios do meio editorial, como o novo cenário criado após o surgimento dos livros digitais.
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Com um público heterogêneo e interessado em ler, ouvir e debater, é natural que os temas extrapolem o campo da literatura. Na Casa da Liberdade, as discussões terão como fio condutor os desafios do Brasil em diferentes áreas, como economia, infraestrutura e democracia. Com isso, entre os participantes das mesas-redondas estão cientistas políticos, jornalistas, advogados, filósofos e empresários. “Aproveitar os festivais culturais para falar de temas ligados ao futuro do país e do mundo é uma tendência mundial”, afirma Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e um dos curadores da casa. A referência utilizada por ele foi o Festival Sundance, nos Estados Unidos, que, mesmo tendo como assunto central o cinema, estende a programação com atividades focadas em outras áreas. É o que fará também o Centro Cultural Sesc, com oficinas de arte, espetáculos teatrais e intervenções artísticas ao ar livre, sempre buscando valorizar e incentivar a cultura local. Não importa o estilo da programação, quem sai ganhando com toda essa variedade é o visitante.