Uma vez por mês, a atriz Cora Zobaran sai de casa para realizar um trabalho extra. Devidamente caracterizada como a personagem que lhe deu fama, ela embarca em uma van e, após uma viagem de até duas horas, chega a alguma unidade da rede de supermercados da qual é garota-propaganda. Lá, Cora vira dona Marta, a velhinha que só quer uma coisa da vida: preço. Durante as visitas, ela distribui autógrafos e tira selfies. “Sempre faço questão de cumprimentar todas as caixas”, diz a artista, que acaba de vencer um novo desafio. Aos 88 anos, ela participou das filmagens de Back to Maracanã, que terminaram há menos de um mês. No longa, interpreta Serena, avó de uma família brasileira que vive em Israel e vem ao Brasil para ver os jogos da seleção na Copa de 2014. Com o desfecho deprimente da partida contra a Alemanha no Mineirão, a obra, que estreia nas telonas em 2018, só poderia mesmo ser um drama.
A agenda de Cora anda cheia. Só nos últimos três anos, foram três filmes lançados. Uruguaia, ela viveu até os 15 anos no Rio Grande do Sul, quando se mudou para o Rio. Em 2009, foi escolhida para fazer a propaganda, após três dias de testes. O sucesso com a interpretação espevitada transformou o trabalho temporário em definitivo. “Dona Marta é uma mulher que busca se atualizar, viajar, fazer pilates, conversar com os netos — e economizar”, afirma Cora, atriz com um longo currículo. São trinta anos dedicados ao teatro e quase vinte de pequenos papéis na TV, em atrações como Malhação, A Diarista e A Grande Família. “Cheguei até a fazer algumas edições do Linha Direta”, recorda.
Ver marcas que se associam a idosos ainda é raro, mas há anunciantes que deliberadamente optam pelos mais velhos. A L’Oréal escolheu Jane Fonda, de 79 anos, para ser sua estrela na Austrália, e a grife italiana Ermenegildo Zegna elegeu Robert de Niro, 74, para suas campanhas americanas. No Brasil, a cantora Elza Soares, 80, protagoniza desde agosto um anúncio da Natura. Todos esses, porém, são famosos desde a juventude, o que faz com que o feito de Cora seja mais relevante. A tendência é que casos assim se tornem mais frequentes. Só no Rio, há 1 milhão de moradores com mais de 60 anos, segundo o IBGE. Em um cenário sedento por renovação criativa, a presença de vovôs e vovós é mais que louvável. ß