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Beije Minha Lápide

Texto de Jô Bilac narra a história de um escritor que tem adoração pela obra de Oscar Wilde

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 dez 2016, 12h43 - Publicado em 17 set 2014, 19h27
Cabéra/divulgação
Cabéra/divulgação (Redação Veja rio/)
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AVALIAÇÃO ✪✪✪✪✪

Atração parisiense quase tão famosa quanto a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo, o cemitério de Père-Lachaise guarda os restos mortais de algumas das maiores celebridades da história. Por lá, um dos túmulos mais procurados é o do dramaturgo irlandês Oscar Wilde (1854-1900). Em torno de sua sepultura criou-se a inusitada tradição: grande parte dos seus visitantes beija a lápide com a boca lambuzada de batom vermelho. Ao longo dos anos, a prática deteriorou tanto a pedra que, em 2011, foi instalada uma barreira de vidro para preservar o mausoléu. A partir desse episódio real, o autor Jô Bilac urdiu o drama Beije Minha Lápide. Na história, o escritor Bala (Marco Nanini) tem adoração pela obra de Wilde, idolatria tal que resvala em mimetização: assim como seu ídolo, o sujeito é brilhante, sarcástico e orgulhosamente homossexual. Já na primeira cena, ele se encontra preso por ter quebrado a proteção que envolvia a sepultura de seu herói. Sugestivamente, sua cela é também inteiramente envidraçada: um cubo sobre o qual incidem luzes e projeções, dominante na belíssima cenografia de Daniela Thomas. Três personagens gravitam ao redor dessa improvável figura. Tommy (Paulo Verlings) é um carcereiro com pendores medíocres para a escrita, Roberta (Carolina Pismel), advogada incumbida de defender Bala, parece ter alguma dificuldade de ser levada a sério profissionalmente e Ingrid (Júlia Marini), filha do prisioneiro e guia turística do Père-Lachaise, cultiva alguma indefinição quanto aos rumos de sua vida e ainda nutre uma paixão não correspondida pela defensora do pai. Assim, o confinamento de Bala se revela apenas a face mais visível das situações de impedimento e proibição que perpassam a vida de todos, mas, na trama, apenas o único fisicamente encarcerado parece conseguir se projetar para além de suas barreiras. Pontuado por citações de Wilde, o texto reafirma a qualidade da carpintaria dramática de Bilac, da qual a diretora Bel Garcia extrai o melhor proveito. Integrantes da Cia. Teatro Independente, Verlings, Carolina e Júlia demonstram entrosamento e conferem verdade a papéis que poderiam se diluir como meros coadjuvantes, ainda mais diante da força do protagonista. É até redundante dizer, mas Nanini, em atuação exuberante (atenção para o monólogo final), confirma novamente ser um dos maiores intérpretes do país (80min). 16 anos. Estreou em 29/8/2014.

Centro Cultural Correios (200 lugares). Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro, ☎ 2219-5165.→ Sexta a domingo, 19h. R$ 20,00. Bilheteria: a partir das 15h(sex. a dom.). Até 5 de outubro.

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