No Rio de Janeiro, cavaquinho, flauta e pandeiro choram dia e noite — e não é força de expressão. À medida que as rodas de chorinho se proliferam pela cidade, surgem opções para quem quer curtir música durante a semana, após o expediente de trabalho, ou nas manhãs dos fins de semana. O #hellocidades, iniciativa da Motorola que desbrava novos sabores, locais e ritmos das cidades, mostra como esses eventos têm ajudado os cariocas a se reconectar com sua capital.
No bairro da Glória, há três anos, o saxofonista Diego Terra estava preocupado com um lote vago que se degradava na sua rua, a Benjamin Constant. Ele propôs a um amigo, também músico, a ideia de organizar uma roda de chorinho no local. Deu tão certo que o espaço, que não tinha uso, hoje mal dá conta do público que vai, nas noites de quarta-feira, prestigiar o agora famoso Choro da Glória.
“Como moradores, rapidamente notamos uma reocupação do entorno, não só com música, mas também com gente vendendo e gente comprando comidas e bebidas, com amigos ouvindo chorinho ou se encontrando com os amigos”, comemora Diego.
É que mais do que eventos musicais, as rodas de choro no Rio de Janeiro têm o papel de reaproximar as pessoas de uma expressão cultural legitimamente carioca, que se recusa a ficar apenas nos livros de história e nas notas agudas das vitrolas. “[Os encontros] têm uma função social. A roda de choro oferece cultura gratuitamente. Há pessoas de diversas classes sociais que estão ali usufruindo da música e do evento”, destaca Diego, que contabiliza mais de 150 apresentações já prepara um CD com as canções que executa com os outros cinco instrumentistas do grupo — todos músicos profissionais.
Tamanha diversidade e qualidade musical fizeram crescer a fama do encontro, e o que era uma reunião de amigos de bairro virou um evento que atrai gente de toda a cidade. Como é o caso da analista de marketing digital Fernanda Rezende, que vem de Ipanema prestigiar o evento.
“Eu gosto de frequentar esses lugares porque eles são abertos, todo mundo pode participar”, resume Fernanda. Além disso, segundo ela, é difícil encontrar um evento de chorinho que não seja gratuito.
Música com sol e chuva
Organizados geralmente em locais públicos, as rodas de choro costumam não ter fins lucrativos. Para arcar com os gastos básicos, como cópia das partituras ou toldos para proteger os músicos nos dias de chuva, os organizadores utilizam a velha estratégia de passar o chapéu entre o público.
“Arrecadamos em média R$ 150 por domingo. Se levar em conta que são 15 músicos, não é nada”, explica Ana Caetano, fundadora de uma das rodas de choro mais badaladas da Zona Sul, a Arruma o Coreto. “Nosso objetivo não é ganhar dinheiro. Eu faço porque amo tocar flauta. É algo que eu espero fazer até o dia em que eu morrer”, explica Ana.
Moradora de Laranjeiras, ela levou a roda de choro para a Praça São Salvador, em 2007, pela falta de espaço em casa. “No começo, convidava os amigos para tocar na minha sala. Mas foi crescendo, não cabia todo mundo em casa, resolvemos descer para a praça”, conta.
Dez anos mais tarde, a roda de choro da São Salvador, como ficou conhecida entre os moradores da região de Flamengo e Laranjeiras, atrai, além dos músicos, muitas famílias com crianças e carrinhos de bebês, no melhor estilo manhã de domingo carioca. “Nós tocamos até sob garoa. Nestes dez anos, deixamos de tocar, no máximo, uns cinco domingos”, explica Ana.
Além de poder treinar a execução do instrumento de que tanto gosta, Ana revela que as rodas de choro lhe trouxeram ganhos pessoais. “Sempre fui muito tímida, e hoje as pessoas me reconhecem na rua, me associam com o chorinho. Ganhei amigos e mais desenvoltura”, diz.
Assim como os grupos de Ana e de Diego, centenas de outras rodas de chorinho estão espalhadas pela cidade. O #hellocidades relaciona algumas delas, mas a lista não para por aqui. Encontre sua opção de roda de chorinho e poste nas redes sociais com a hasthag #hellocidades. Redescubra o Rio em hellomoto.com.br.
Chorinho com sol
Veja algumas opções de rodas de choro diurnas:
Arruma o Coreto
A praça bucólica entre os bairros de Flamengo e Laranjeiras ganha ares de interior com a apresentação dos músicos aos domingos de manhã. Além do chorinho, feira de artesanato e de comidinhas completam o programa.
Praça São Salvador, sem número. Flamengo. Todo domingo, das 11h às 14h.
Facebook: https://www.facebook.com/Arrumaocoreto/
Pixin Bodega
Em atividade desde 2009, o grupo homenageia os clássicos do choro — como Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Barracas de frutas orgânicas, trailers vendendo chope artesanal e rodas de capoeira compõem a atmosfera hippie-chique do local.
Rua Belisário Távora, 1. Laranjeiras. Todo sábado, das 11h às 14h.
Facebook: https://www.facebook.com/PIXIN-Bodega
Chorinho com lua
Veja algumas opções de rodas de choro à noite:
Bip Bip
Aqui, é difícil dizer o que é mais mítico: as canções tocadas com primor por músicos profissionais que acompanham figurões como Chico Buarque; a localização — a poucos passos da praia de Copacabana; ou o dono do bar, senhor Alfredinho, que interrompe as músicas para dar bronca em voz alta nos frequentadores, se julgar que a conversa está atrapalhando quem quer ouvir as canções.
Rua Almirante Gonçalves, 50, Copacabana. Rodas de Chorinho às segundas e terças, das 19h às 22h.
Choro da Glória
Ao som de clássicos do choro, uma concentração de jovens descolados da Zona Sul e do Centro ocupa a base de uma das escadarias que conectam Glória e Santa Teresa. Se a fome bater, uma opção é pedir um caldinho no boteco Pé de Santa, ao lado.
Rua Benjamin Constant, 104. Quarta-feira, das 19h às 22h.
Facebook: https://www.facebook.com/ChorodaGloria/
Choro da Esquina
Formação jovem — começou em 2015, esta é uma boa opção para quem quer se concentrar na música: estudantes e profissionais se reúnem para treinar melodias e testar arranjos de chorinhos em um bar despretensioso do Flamengo, o Boteco Bom Gosto.
Rua Marquês de Abrantes, 45. Segunda-feira, das 19h às 22h.