Reaberto em outubro, depois de quase dois anos silenciado pela pandemia, o Circo Voador engrena uma programação compatível com a pluralidade musical iniciada em 1982, na lona do Arpoador, e consolidada aos pés dos Arcos da Lapa. Barão Vermelho, dia 18, e Diogo Nogueira, dia 23, fecham o ano marcado ainda por incertezas e dificuldades financeiras no setor cultural.
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Janeiro reforça o ritmo eclético. Reúne desde Baile da Penha e Mart’nália, dias 7 e 8, até Black Alien (15/16), Lagum (22/23) e Lenine e Bruno Giorgi (28/29). A retomada de shows presenciais soma-se ao cardápio crescentes de atrações on-line, como entrevistas e apresentações gravadas, intensificadas durante a paralisação pandêmica.
Decisivo à sobrevivência na crise sanitária, o acervo digital assume agora um caráter estratégico para expandir o tônus e artístico do espaço. “Tentamos usar toda a memória de shows e conteúdo audiovisual que tínhamos para manter a memória do Circo viva”, conta a produtora cultural do Circo Voador, Gaby Morenah.
Com o avanço da vacinação, o Circo Voador seguiu os passos de outros teatros e casas de espetáculo. Reabriu as portas há cerca de dois meses, mediante a apresentação do comprovante de vacina e o uso de máscara.
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O primeiro fim de semana da reabertura foi comandado por Marcelo D2. Fora a densidade histórica e simbólica do reentro entre artista e plateia, os três dias serviram de teste – para os músicos, para o público, para o próprio Circo Voador. “O que está dando segurança no retorno é a exigência do passaporte de vacinação”, ressalta Gaby.
A iniciativa bem-sucedida reatou de vez o repertório historicamente caracterizado pela diversidade. Rock, samba e pop misturam-se em dezembro e janeiro. Seus acordes emitem o mesmo recado: o Circo voltou.
Mesmo depois da reabertura presencial, o mundo virtual seguirá num compasso forte. “Tem sido uma experiência nova e muito rica juntar shows presenciais com a internet, tanto em transmissões ao vivo quanto em conteúdos de acervo. É uma coisa que não queremos perder”, enfatiza a produtora.
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Os shows passam a ser gravados e ficam disponível sob demanda. Investe-se, portanto, na construção da memória. Não só como consumo de entretenimento e cultura, mas como patrimônio histórico. Essas imagens contam a história do Circo, da cidade, das suas veias culturais, suas transformações. Servem até como objeto de estudo.
O ambiente on-line é usado também para revelar artistas. O projeto Acorde – “palco virtual do Circo Voador”, como diz Gaby – apresenta jovens talentos em início de carreira.
Já o canal do Circo no YouTube reúne vídeos de aproximadamente 20 minutos. Combinam apresentações e conversas com artistas.
Frescor aos 40 anos
Inaugurado em janeiro de 1982, quando o país buscava o reencontro com a democracia, o Circo Voador fincou seu primeiro palco no Arpoador, em Ipanema. Nasceu como um movimento de resistência e reafirmação cultural guiado por jovens artistas de teatro, música, dança. Um respiro aos anos de ditadura.
Regina Casé, Evandro Mesquita, Hamilton Vaz Pereira, Patrícia Travassos e Katia B foram alguns desses precursores. “Muita gente das artes que está hoje em dia na TV, no teatro, na música, na poesia, se constituiu ali.”, conta a cantora Katia B.
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No começo, não existia a pretensão de atingir as proporções que o Circo tem hoje. “Era amador, mas com amor”, orgulha-se Kátia B. O sonho de uma noite de verão ganhou força, e o provisório se tornou permanente com a migração, meses depois, para a Lapa.
Prestes a completar 40 anos, o Circo Voador conserva o frescor e a genética plural e experimental. Até por isso segue frequentado pela juventude carioca, de diversas gerações. “Ele se mantém um lugar de experimentação, de várias gerações, vários artistas, vários tipos de música. É um espaço aberto e criativo, não um espaço burocrático. Os artistas têm muita liberdade, e isso mantém sua força”, avalia Katia B.
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*Gabriela Botafogo, Francisco Borges e Maju Chibante, estudantes de jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.