Quem passa pela beira da Lagoa Rodrigo de Freitas já deve ter percebido: a movimentação de operários na porta da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) intensificou-se nas últimas semanas. Toda a correria foi para garantir que a nova fachada ficasse pronta antes da cerimônia de comemoração do aniversário de noventa anos da agremiação, celebrado em maio. Instalada na Lagoa desde a segunda metade da década de 50, a entrada social do clube ficava escondida por grandes grades azuis de ferro. “Apesar de este não ser um momento economicamente favorável, a gente precisava modernizar a estrutura e os serviços para não perder receita”, explica o engenheiro George Neder Cardoso, vice-presidente de patrimônio da AABB. A reforma é apenas a parte mais visível de um investimento de 5,3 milhões de reais feito nos últimos três anos, acompanhado de maciça campanha para atrair novos associados — medidas, aliás, adotadas em vários outros clubes da cidade. Para garantir a saúde financeira do caixa em meio à crise econômica, tradicionais instituições cariocas foram obrigadas a rever normas antigas, além dos valores de joias e títulos, que hoje chegam a ser negociados com descontos de até 80% e parcelados em muitas vezes sem juros.
Na AABB, por exemplo, não é mais exigido que o candidato a sócio seja funcionário ou parente de funcionário do Banco do Brasil. No vizinho Clube Monte Líbano, títulos antes à venda por 70 000 reais agora são negociados a 20 000 reais, ou menos. Detalhe: o pagamento ainda pode ser dividido em até dez vezes. Em termos de estrutura, a grande novidade no Monte Líbano é a piscina: completamente remodelado, o espaço ganhou um deque molhado com espreguiçadeiras e vista para o Cristo Redentor. Outro complexo de esporte e lazer à beira da Lagoa, a sede do Flamengo abre a possibilidade de uso de suas dependências a interessados mediante o pagamento de mensalidades a partir de 183 reais. Com parte da verba proveniente do comitê olímpico dos Estados Unidos, que utilizou as instalações rubro-negras durante a Rio 2016, o clube executou várias obras. Foram gastos 18 milhões de reais nos últimos cinco anos para as reformas do parque aquático, das quadras de tênis, do campo de futebol society e dos tanques de remo. A construção de uma arena multiúso para o basquete, apesar de adiada, mantém-se nos planos. No fim de 2017, a agremiação ainda inaugurou um boxe de 500 metros quadrados para praticantes de crossfit, em parceria com uma das maiores redes da modalidade no país, a Crown — os alunos têm direito a aproveitar as dependências do clube nos fins de semana.
Na disputa por novos sócios, essas instituições fizeram investimentos que vão muito além das áreas esportivas. Nas cozinhas, por exemplo, tornou-se coisa do passado apresentar aquele clássico filé com fritas como a atração principal do cardápio. Dentro da AABB, que hoje abriga em seus domínios o badalado restaurante de carnes Charbon Rouge, o preparo das receitas para os sócios fica aos cuidados da chef Monique Benoliel. No vizinho Paissandu, Andréa Tinoco, chef de renome com bons serviços prestados aos menus da cidade, assumiu as panelas. O mesmo se dá na Sociedade Hípica Brasileira, que, submetida à maior reforma em oitenta anos de vida — alimentada por investimentos do comitê olímpico francês por ocasião dos Jogos —, ganhou um SPA e um restaurante, que tem como consultor o chef francês Frederic Monnier, ex-comandante da Brasserie Rosário. Também nos endereços mais exclusivos, como é o caso da Hípica, novos associados são muito bem-vindos, e promoções estão em vigor. Foram abertas 150 vagas para sócios contribuintes, categoria que dispensa a aquisição de título: paga-se uma taxa mensal de salgados 1 760 reais para a família, incluindo os filhos de até 23 anos. “Com isso, pretendemos aumentar em 50% o quadro societário”, diz o presidente, Felipe Gomes. Para quem sempre sonhou em entrar num desses clubes, a hora é agora.