A partir de 15 de setembro, quando tem início o Rock in Rio, até o dia 24, um mar de gente vai se apertar diante do palco para assistir às apresentações de Lady Gaga, Justin Timberlake e Guns N’Roses, entre outras estrelas de primeira grandeza. Quer impressionar? Diga que, na verdade, está curioso para conhecer o Coral do Rei. Enquanto as atrações principais seguem em turnê por estádios mundo afora, dez cidadãos africanos ensaiam duas vezes por semana em uma pequena igreja no subúrbio de Brás de Pina. Nos encontros, interpretam música e dança típicas. A caráter (confira os croquis dos figurinos na imagem abaixo), o grupo, formado por imigrantes do Congo e de Angola, terá a missão de fazer o show de estreia da versão 2017 do festival: eles vão abrir os trabalhos na Rock Street, área de convivência que neste ano tem o continente africano por inspiração. Existe um aspecto humanitário no projeto — o que, convenhamos, só ajuda na tarefa de provocar o seu amigo admirador de Maroon 5 (a banda americana encerra as apresentações de 16 de setembro): entre os cantores há refugiados e todos visitam o RiR pela primeira vez.
Sagrasse Menga deixou o Congo há três anos, grávida, trazendo pelas mãos uma filha pequena. Ela arregala os olhos quando ouve que 100 000 pessoas são esperadas a cada dia na cidade do rock. “Conte mais do Rock in Rio. O que é?”, pergunta. Seu conterrâneo Leandre, no Rio desde 2012, explica, em português fluente, que trabalhava em uma ONG defensora dos direitos femininos e fugiu da terra natal para salvar-se de perseguições do governo. Ele já planeja as horas de folga. “Gostaria muito de conhecer a Ivete. A Lady Gaga vem? Quero vê-la também! Assisti ao festival pela TV, mas nunca fui. É uma oportunidade incrível”, conta. Artistas de palco e de rua vão ocupar a Rock Street África, espaço que propõe um mergulho na cultura desse continente. Mais de 25 países serão representados pela arquitetura das casas, todas dotadas de placas informativas. “O Coral do Rei terá papel fundamental. Ele vai abrir a programação, apresentar o local e as atrações a quem estiver ali, como se comandasse um cortejo”, explica Marisa Menezes, diretora artística da rua cenográfica. O repertório ensaiado em Brás de Pina traz quinze canções festivas, com letras nas línguas lingala, kikongo e swahili. Apresentações diárias em formatos variados, acompanhadas de instrumentos ou a capela, às vezes interagindo com os artistas de palco, prometem surpreender. Quem sabe o conjunto não chega ao final da festa com os próprios fãs?
Confira abaixo um pouquinho do ensaio: