As reuniões de videoconferência necessitam de organização para que um participante não interpele o outro. Ao transpor, em tempos de pandemia, o teatro para esse tipo de plataforma, um dos grandes desafios dos encenadores – principalmente quando há muitos atores em cena – é fazer com que cada um seja ouvido.
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A Armazém Companhia de Teatro foi engenhosa ao criar Parece Loucura Mas Há Metódo, peça virtual apresentada pelo aplicativo Zoom. Dirigidos por Paulo de Moraes, dez atores transformam o espaço de videoconferência num campo de duelos.
O Mestre de Cerimônias (Sérgio Machado) explica tudo e convida o espectador a participar ativamente da peça-jogo. Nove personalidades shakesperianas – que não revelam seus nomes – se apresentam rapidamente e, já de bate-pronto o público deve eliminar um deles.
A partir daí, começam os duelos entre os personagens – definidos por sorteio – e os espectadores têm o poder de eliminar um jogador a cada etapa, por uma enquete, até que o vencedor seja eleito. Portanto, nenhuma sessão é igual a outra. Teatro na essência, mesmo que através de uma tela.
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Cada ator participa de sua casa, com poucos adereços cênicos. O foco está no texto de Shakespeare. Além de definir quem segue ou quem sai da disputa, a graça, para o espectador, é tentar descobrir quem são ou de que obra saiu aquele personagem.
É um deleite ver Luis Lobianco interpretando o bufão Falstaff, que aparece em As Alegres Comadres de Windsor e Henrique V, assim como as atuações de Patricia Selonk, que dá vida a Ricardo II, e Vilma Melo (Henrique V), ainda que curtinhas, são de encher os olhos. Destaque também para o Iago de Charles Fricks e Kelzy Ecard como Faulconbridge.
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A música e os efeitos sonoros ajudam a criar uma atmosfera de tensão, mas em alguns momentos o volume fica alto demais, prejudicando a compreensão do texto.
Para quem até outro dia torcia o nariz para peças de teatro interativas, o modelo on-line se mostra uma boa opção para ‘prender’ o espectador e fazê-lo essencial para a trama, sem a necessidade de subir ao palco ou falar alguma coisa.
Ao fim do espetáculo, os atores dizem ‘somos feitos da mesma matéria dos sonhos’. As janelas – e os microfones – do público se abrem para os aplausos e a sensação é de estar numa plateia de verdade. Para viver da arte, é necessário seguir sonhando.