Na véspera do Dia da Consciência Negra, a série de live #VejaRioAoVivo recebeu a atriz e cantora Elisa Lucinda. Em conversa com a repórter Marcela Capobianco, ela, que nesta sexta (20) encena seu espetáculo Parem de Falar Mal da Rotina, falou sobre temas como racismo, cultura e pandemia.
“A arte foi a nutrição da alma durante essa quarentena”, afirmou Elisa. Pela primeira vez no palco após 8 meses em casa, ela também criticou a conduta do governo federal diante da crise sanitária causada pelo novo coronavírus. “Nós tivemos duas nuvens em cima de nós: o vírus e o presidente”, disse.
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E não poupou reflexões sobre o racismo estrutural presente no país. “A branquitude nunca se importou com essa pauta, é algo recente. Antes eles achavam que era mérito, mas viram que, na verdade, era privilégio de um jogo roubado”.
Ao final da conversa, a atriz, que também é poetisa, indicou leituras fundamentais para começar a desconstrução do racismo estrutural dentro de si.
Confira abaixo alguns trechos da entrevista (a versão completa está disponível mais abaixo):
Não falem mal da rotina
“Estou ansiosa querendo ver o que vai acontecer nessa nova temporada que começa amanhã. Sempre faço adaptações a cada novo espetáculo, que dirá a cada temporada?! Amanhã é especial por ser o dia da consciência negra. Vou falar da pandemia, dos novos exemplos de racismo, o ponto que estamos. O texto nunca é o mesmo. Eu sei como começa a peça, mas não é decorado. É sempre um novo começo. E esse é o grande pulo do gato da rotina: é estrear todos os dias dentro dela. Ela parece uma repetição, mas não é. E essa vez marca a minha primeira vez no teatro durante a pandemia”.
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Arte
“O que seria de nós sem a arte durante esse período? Teríamos ido de vez. Ela foi a nutrição da alma. Estamos vivendo um período complicado, parece que tem uma nuvem que não passa. Aliás, tem duas, porque também tem esse governo que é uma vergonha em muitos sentidos: ambientalista, sociopolítico, mundial. Eu tenho vergonha do presidente, isso também mexe com a nossa autoestima. O Brasil sempre foi tão querido”.
Padrão estético
“Eu fui uma das poucas, senão a única voz negra, naquele tempo, em 2000, em cartaz falando sobre o racismo. Todos esses anos depois e a piada do cabelo ruim continua. Esse cabelo crespo é muito maltratado pelas pessoas, muito desrespeitado. É impressionante. É como se fosse o cabelo errado. A minha geração cresceu como se esse cabelo fosse defeito. Os cabeleireiros agora incluíram trança e outras opções, mas o destino dele era sempre ser alisado”.
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Vidas negras importam
“É muito importante fazer a peça amanhã. Estamos num momento inédito. Eu luto nessa trincheira há muitos anos e posso dizer: nós nunca fomos tão ouvidos pela branquitude. A branquitude nunca tinha colocado isso na sua pauta. Como se brancos antes não tivessem nada a ver com isso. Mas agora eu vejo jornalistas, filósofos, artistas, falando: Elisa, eu não sabia que tinha privilegio, mas sim mérito. E não é mérito porque o jogo é roubado”.
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Mês de novembro
“Estamos sendo cada vez mais ouvidos, vidas negras realmente importam. Mas ainda assistimos a certos padrões se repetirem, por exemplo: as revistas que só usam negros na capa em novembro. Elas estão pagando mico. Ninguém é mais bobo. Está constrangedor. Eu me lembro que os grandes diretores de teatro, quando cheguei no Rio, raramente tinham um preto no seu elenco. Um preto sonhava em ser convidado para as peças. O que a gente não quer é ser restrito ao problema, só falar disso (racismo). Eu posso falar sobre criança, educação, poesia, literatura. Eu e um bando de gente. É necessário que a gente possa estar em todos os lugares”.
Dicas de leitura:
Todos os artigos de Sueli Carneiro
Angela Davis
Djamila Ribeiro – coletânea – feminismo plural
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