O quintal da infância, onde o pai, o operário Avelino Gomes, tocava seu violão, ficava na localidade de Moça Bonita, hoje conhecida como Vila Vintém, espremida entre os bairros de Realengo e Padre Miguel. Naquela época, a menina já gostava do que ouvia, mas, vejam só, tinha medo do Carnaval. “Fui educada de forma rígida, via os blocos nas ruas, as batalhas de confete, mas lugar de criança era dentro de casa”, recorda. Em 1969, já uma cantora consagrada, Elza Soares entrou no circuito dos desfiles pela porta da frente: foi convidada para puxar o samba do Salgueiro, sobre o enredo Bahia de Todos os Deuses. Nem desconfiou do que a aguardava, mas topou na hora. “Estava um sol terrível, eu não sabia que cantaria tantas vezes, mas dei conta”, diz. Deu mesmo, e a prova é que um novo convite partiu da Mocidade Independente de Padre Miguel. Para a escola nascida na mesma região onde passou a infância, Elza Soares defendeu os sambas-enredo de 1973 (Rio Zé Pereira), 1974 (A Festa do Divino), 1975 (O Mundo Fantástico do Uirapuru) e 1976 (Mãe Menininha do Gantois). Além de soltar a voz, Elza começou a torcer pela verde e branco de verdade. “Era uma loucura. Teve um ano em que choveu muito, fomos tremendamente prejudicados. Encontrei o governador (Raimundo Padilha, mandatário entre 1971 e 1975) e implorei a ele que não deixasse nos rebaixar”, conta. Da sua escola do coração, a estrela, hoje com 86 anos, ainda ganhou a amizade do lendário diretor de bateria Mestre André (1932-1980), o inventor da paradinha e autor de pelo menos um sucesso, Salve a Mocidade. “Por onde eu fui, cantei meu amor pela escola”, derrama-se.