Em meio aos preparativos um tanto quanto atabalhoados para receber os maiores nomes do esporte na Olimpíada, o Rio se tornará a capital mundial do surfe a partir de terça (10). Para a turma da prancha, os dias também não têm sido fáceis. Os organizadores do Oi Rio Pro, a quarta etapa do Samsung Galaxy World Surf League Championship Tour 2016, precisaram rever seus planos para driblar os danos causados pela ressaca que atingiu a cidade na última semana. A grande estrutura montada no Postinho, na Barra da Tijuca, que contava até com uma passarela para os surfistas chegarem ao mar, foi abalada pelas ondas e as provas precisaram ser transferidas de última hora para Grumari. A decisão foi tomada depois que um engenheiro emitiu laudo sobre a estrutura. O evento, que na última edição levou mais de 100 000 pessoas às areias, um recorde em toda a história da competição, terá seus cálculos revistos, já que o acesso à praia em área de preservação ambiental é limitado. “Planejamos por seis meses, trabalhamos ao longo de um mês montando o local e, em uma semana, nosso sonho foi, literalmente, por água abaixo. Agora, resta reorganizar e trabalhar”, afirma Xandi Fontes, responsável pela World Surf League (WSL) na América do Sul.
Campeões como Adriano de Souza, o Mineirinho, dono do título de 2015, além de Gabriel Medina, do americano Kelly Slater e do australiano Joel Parkinson, terão doze dias para encontrar as melhores ondas e completar a prova, que termina em 21 de maio. Os 54 surfistas irão todos ao mar na primeira rodada, divididos em grupos de três atletas. Os mais bem colocados se classificarão para a terceira fase e os demais tentarão as vagas disponíveis na repescagem. O Postinho, que seria o palco principal, servirá como ponto de apoio, e parte da estrutura de conveniências, como telões, permanecerá. Já o acesso a Grumari será restrito, como na Operação Verão da prefeitura. A cancela será fechada quando o estacionamento abrigar 600 carros, e depois só se poderá entrar a pé, de bicicleta ou nos ônibus disponibilizados pela organização na estação do BRT do Recreio.
Quem conhece bem o mar carioca sabe que a geografia da cidade pode aumentar bastante a dificuldade até para os mais experientes. “No Rio, o mar não é tão grande e as ondas quebram perto da praia. Por isso, ele é um dos mais imprevisíveis. Na competição, é importante ser radical para ganhar boas notas”, explica Mineirinho. O prognóstico é bom para o time de dez brasileiros que vão participar da disputa. “Hoje, os nossos surfistas se tornaram o time a ser batido. Já fomos o país da Fórmula 1, do futebol e agora somos do surfe. O tamanho dessa paixão se revela no mercado de surfwear. Somos o segundo maior do mundo, perdendo apenas para os americanos”, comenta Bruno Cremona, gerente de patrocínios e eventos da Oi.
Há 26 anos o Rio recebe torneios do circuito mundial. O primeiro cenário escolhido na cidade é ponto de encontro tradicional do esporte, o Arpoador. Foi lá que Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o Pepê (1957-1991), começou sua história e ajudou a incluir o nome dos brasileiros entre os grandes surfistas. Na temporada de 2016, os paulistas Caio Ibelli e Alex Ribeiro estreiam no pelotão de elite, classificados no WSL Qualifying Series. A disputa ainda terá outras sete etapas até que se conheça o grande vencedor, posto ocupado em 2015 por Mineirinho. Os competidores ainda enfrentarão ondas em paraísos como Teahupo’o, no Taiti, e Tavarua, em Fiji, a próxima parada, logo depois do Brasil. Basta agora torcer para que, assim como os esportistas, a qualidade das nossas praias não decepcione, já que a poluição acabou deixando atletas de cama no ano passado. Pelo que tudo indica, o prognóstico não é bom: o rompimento da ecobarreira na Lagoa da Barra arrastou lixo para o mar, levando 15 toneladas de gigogas para a praia na terça (3). “Tenho fé em que será melhor neste ano. A etapa do Rio não pode ficar marcada por uma situação ruim como a poluição”, torce Adriano de Souza. Nós também.