Grande Sertão: Veredas. Clássico da literatura, obra de linguagem revolucionária e um cartapácio com mais de 600 páginas. Por essas e outras razões, entrega-se a um baita desafio quem se aventura a interpretar a obra-prima de Guimarães Rosa. Bia Lessa encarou a missão em 2006, com exposição comemorativa dos cinquenta anos de lançamento do livro montada na inauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Destemida, voltou a Grande Sertão: Veredas. O espetáculo homônimo em cartaz no CCBB beira o romance em cena, transporte literal dos originais para o que se diz no palco. Todas as falas de Caio Blat — em atuação notável, um marco na sua carreira, ele se incumbe de uma quantidade de texto inacreditável — foram escritas por João Guimarães Rosa (1908-1967). No papel do jagunço Riobaldo, ele encabeça o elenco de dez atores em desempenhos vigorosos. Luisa Arraes encarna o personagem na infância e desdobra-se por outros tipos da trama, a exemplo de seus pares. Nas idas e vindas da montagem, Luíza Lemmertz também sobressai como Diadorim, mulher na pele de homem que embaralha os sentimentos de Riobaldo, e brilha em um dos momentos mais bonitos da apresentação. A diretora (responsável pelo desenho de luz e, a cada sessão, presente no controle do som) afastou a peça dos três teatros do CCBB. Na rotunda, a plateia, instalada em uma arquibancada de dois andares, recebe fones de ouvido para evitar tropeços na acústica e é recompensada pela audição cristalina da música de Egberto Gismonti, além de gravações de ruídos da natureza. Vista dos lugares mais altos, a encenação revela detalhes e ganha em beleza. De volta às fabulosas vivências de Riobaldo, Bia Lessa constrói imagens belíssimas, provoca a imaginação do público e entrega uma experiência surpreendente e rica, como a proporcionada pelo romance de Guimarães Rosa (140min). 18 anos. CCBB. Rua Primeiro de Março, 66, Centro. Quarta a domingo, 21h. R$ 20,00. Até 31 de março.