Enquanto a inauguração do YouTube Space no Rio, espécie de escola de formação profissional para youtubers, se desenrolava na Zona Portuária na noite desta terça (8), com uma legião de estrelas do vídeo digital e atrações como Wesley Safadão, um dos campeões de audiência na internet, Felipe Neto, de 29 anos, seguia à risca o plano de ignorar a festança. No mesmo dia, e na mesma hora, ele levou ao ar com seu irmão Luccas Neto, também youtuber, um vídeo ao vivo na plataforma digital (ou live, como é conhecido no meio), patrocinado por uma marca de café, na nova mansão da dupla na Barra da Tijuca. Avaliada em 6,5 milhões de reais, o casarão com piscina e até sala de cinema é o novo QG do recém-lançado canal Irmãos Neto – sim, aquele mesmo que, em 24 horas, bateu o recorde de um milhão de inscritos, tornando-se o canal que mais recebeu assinantes em seu primeiro dia na história do YouTube. O clima era de oba-oba na transmissão até que os irmãos foram informados, ao vivo, que haviam acabado de bater novo recorde (nacional): 240 000 pessoas estavam assistindo à live simultaneamente (o número passou para 314 000 em poucos minutos). E não parou por aí. Logo em seguida, o canal de Felipe Neto alcançou 13 milhões de inscritos. Já o Irmãos Neto ultrapassou 2 milhões de assinantes.
Visivelmente emocionado, com os olhos marejados, Felipe decidiu então fazer o que ele sabe de melhor: soltar o verbo. Em um depoimento surpreendente, bateu pesado no próprio YouTube, empresa pertencente ao gigante digital Google. “Eu quero falar, o diretor vai ficar p… comigo”, começou, em seu estilo mais que espontâneo, fugindo do script original. “Vou falar uma coisa porque é verdade. Eu estou há sete anos no YouTube. Quando eu comecei a gravar vídeo ninguém sabia o que era fazer vídeo no YouTube. Eu não sabia o que era. Quando comecei a desbravar esse mundo, ninguém acreditava que eu poderia ser profissional. Ninguém achava que eu ia viver disso. Todo mundo xingava, falava que eu era idiota. Eu lutei contra coisas que vocês não fazem a menor ideia. Foi muito difícil chegar aqui onde eu estou agora.”
E prosseguiu, criando o clímax para o ataque à plataforma onde publica seus próprios vídeos: “E teve UMA empresa”, frisou, “que NUNCA me apoiou. E essa empresa se chama YouTube. Nunca me apoiou, nenhuma única vez. Apoiou outros, deu privilégios para muitos outros youtubers. Hoje é um dia em que eu comemoro quebrar o recorde mundial de uma live no YouTube sem ter recebido apoio do YouTube”, desabafou. E explicou, com ressentimento, por que não estava na festa do YouTube Space na Zona Portuária – apesar de ter sido convidado, recusou o convite: “Eu não estou no evento que está ocorrendo no YouTube, não vou fingir que não está rolando. Não vou fingir que não existe, até era esse o plano. Tem um monte de youtubers lá. Eu não estou lá porque eu não vou aguentar mais a falta de reconhecimento e a falta de carinho que o YouTube tem com a gente. Meu irmão hoje faz 100 milhões de visualizações por mês. Sabem quantos canais fazem isso no Brasil? Não chega a cinco. E ele não foi convidado para o evento do YouTube. Então, desculpa, aqui é família”, finalizou, e seguiu com a programação prevista. Procurado, o YouTube preferiu não se manifestar.
Há sete anos, o youtuber carioca Felipe Neto ajudou a desbravar o matagal da internet brasileira. Aos 22 anos, inspirado por vlogs americanos, o garoto decidiu fazer vídeos para o YouTube. Quando ninguém ainda o fazia no Brasil, lá estava ele em frente ao computador, câmera ligada, fazendo caras e bocas. Não demorou a passar da experimentação à polêmica (coisa que mais dá audiência seja na rede mundial de computadores ou na televisão). Em seu antigo canal Não Faz Sentido, formato pioneiro criado por Felipe para a internet, ele interpretava um personagem reclamão que usava óculos escuros enquanto tecia críticas ácidas a tudo e a todos. Virou um fenômeno: foi o primeiro canal de língua portuguesa a ultrapassar a marca de 1 milhão de inscritos no YouTube. Mais tarde, virou até livro, o “Não Faz Sentido! – Por Trás da Câmera”, lançado em 2013, e também peça de teatro, Minha Vida Não Faz Sentido, que correu diversas cidades brasileiras a partir de 2015.
Em 2011, Felipe Neto fundou a Paramaker, primeira empresa de network dentro do YouTube brasileiro, visando à profissionalização do ramo. Entre os mais de 5 000 canais gerenciados pelo hub estavam os famosos Rezendeevil e o 5inco Minutos, da curitibana Kéfera Buchman, respectivamente o sexto e o sétimo canais mais populosos da plataforma no país atualmente, além do Eu Fico Loko, de Christian Figueiredo, e do canal de humor Parafernalha. Em 2015, com o desejo de retomar a produção de conteúdo próprio, Felipe vendeu a Paramaker para a multinacional francesa Webedia por uma fortuna guardada a sete chaves. Em seu currículo, o youtuber tem ainda um show de humor lançado na plataforma de streaming Netflix, no ano passado, e sabe-se lá o que ainda vem por aí. Sem dúvida, (muito) mais sucesso.
A seguir, um rolé pela nova casa dos Irmãos Neto: