Edição de verão do Festival Panorama reúne grandes nomes da dança
Projeto comemora 30 anos com a volta do modelo presencial, depois de dois anos de formato on-line, ocupando palcos, praças e ruas
Um dos mais importantes festivais de dança e performance da América Latina, o Panorama celebra 30 anos com a volta ao formato presencial, depois de dois anos com edições on-line. De 13 e 28 de janeiro, grandes nomes da dança contemporânea brasileira irão passar por espaços como os teatros João Caetano e Nelson Rodrigues, o Museu de Arte do Rio (MAR), a Praça Tiradentes e as Arenas Dicró e Fernando Torres. Também haverá projeções surpresa pelas paredes da cidade.
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O evento apresenta algumas das peças, performances e intervenções urbanas mais emblemáticas dos últimos anos, trazendo de volta à cidade grandes nomes da dança brasileira, como Alejandro Ahmed, Cristian Duarte, Alice Ripoll e Marcelo Evelin, além de trabalhos inéditos de novos nomes do gênero, como Tieta Macau e Idylla Silmarovi.
Em homenagem à sua fundadora, a coreógrafa Lia Rodrigues, o Panorama receberá a estreia em teatros cariocas de mais recente trabalho da artista, Encantado. O espetáculo será apresentado no Teatro João Caetano nesta sexta (13) e sábado (14), depois de ter passado pelos festivais de Outomne e Kunsten e pela Brooklin Academy de Nova York, além de ter tido uma temporada no Centro de Artes da Maré e outra, lotada, em São Paulo.
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Outro destaque é Z, de Alejandro Ahmed, fundador da companhia Cena 11 — uma das mais importantes da dança brasileira —, que volta a se apresentar para público carioca depois de 20 anos. O artista, que ficou surdo, expressa nessa obra músico-coreográfica relação de seu corpo com o som.
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O espetáculo The Hot One Hundred Choreographers, por sua vez, retorna ao festival depois de 11 anos para a edição comemorativa de três décadas. O solo de Cristian Duarte revive a história da dança numa peça com trechos de cem diferentes coreógrafos, dos clássicos e contemporâneos aos pop.
Programação completa:
Encantado | Lia Rodrigues Companhia de Danças (RJ)
13 jan | 19h
14 jan | 18h
Teatro João Caetano (Praça Tiradentes, s/nº, Centro)
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada e lista amiga)
Duração: 60 min
Classificação indicativa: 16 anos
A palavra ‘encantado’, do latim incantatus, designa algo que é ou foi objeto de encantamento ou de feitiço mágico. ‘Encantado’ é também sinônimo de maravilhado, deslumbrado ou fascinado e uma expressão de cumprimento social. No Brasil, a palavra ‘encantado’ tem ainda outros sentidos. O termo se refere às entidades que pertencem a modos de percepção de mundo afro -ameríndios. Os ‘encantados’, animados por forças desconhecidas, transitam entre céu e terra, nas selvas, nas pedras, em águas doces e salgadas, nas dunas, nas plantas, transformando-os em locais sagrados. São seres que atravessam o tempo e se transmutam em diferentes expressões da natureza. Não experimentaram a morte, mas seguiram em outro plano, ganhando atribuições mágicas de proteção e de cura. Deste modo, as ações predatórias que ameaçam a vida na Terra, a destruição sistemática das florestas, dos rios e do mar impactam também a existência dos Encantados. Não há como separar os encantados da natureza ou a natureza desses seres.
Looping: Rio Overdub | Felipe Assis, Rita Aquino, Leonardo França (BA)
Resultado de residência artística realizada durante o Panorama 30 Anos
13 jan |20h30
Circo Crescer e Viver (Rua Carmo Neto, 143, Cidade Nova) Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Duração: 90 min
Classificação indicativa: 16 anos
Festa, dança e política. As festas de largo de Salvador e suas contradições são a paisagem predominante deste projeto, que emerge do encontro entre pensamento sonoro e pensamento coreográfico e adquire novas cores e sotaques em cada cidade. Looping constitui um estudo do tempo: repetição e acumulação. Movimentos de tensão e distensão da cultura, através de procedimentos que organizam sonoridades, corpos e espaços. Assim como nas ruas, o que está em jogo são arranjos coletivos através de uma participação estético-política. Looping: Rio Overdub é uma edição especial que comemora os 30 anos do Festival Panorama com a participação de artistas locais.
The Hot One Hundred Choreographers | Cristian Duarte (SP)
14 jan | 19h30
15 jan | 18h
Teatro da Caixa Nelson Rodrigues (Av. República do Paraguai, 230, Centro)
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada e lista amiga)
Duração: 52 min
Classificação indicativa: Livre
O artista escocês Peter Davies elaborou uma série de pinturas nas quais figuram textos que tomam a própria arte como assunto, fazendo dela sujeito e matéria para discutir o papel do artista na definição da cultura pop. Nesses text paintings, Davies transportou para as telas alguns de seus rankings pessoais. The Hot One Hundred é sua lista particular de cem artistas. Com The Hot One Hundred Choreographers, Cristian Duarte cria uma experiência coreográfica a partir deste procedimento-lista de Davies. Ele “devorou” vários ícones da dança, coreógrafos e peças que o instiga(ra)m para construir um solo onde a coreografia é gerada pelo trânsito de referências e memória do corpo. A “hot list” pode ser conferida no site Lote 24hs. The Hot One Hundred Choreographers retorna ao Festival Panorama após 11 anos para duas apresentações dentro da programação que celebra as 30 edições do festival.
Z | Alejandro Ahmed (SC)*
20 e 21 jan | 19h30
22 jan | 18h
Teatro da CAIXA Nelson Rodrigues (Av. República do Paraguai, 230, Centro)
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada e lista amiga)
* programação acompanhada de conversa sobre corpo e tecnologia
Duração: 60 min
Classificação indicativa: Livre
Z é uma criação em dança com direção e performance de Alejandro Ahmed. Uma obra músico-coreográfica desenvolvida na imbricação entre corpo, composição generativa e coreografia. Em Z a co-implicação entre o som e o mover propõe a construção de um espaço que se constitui como um ecossistema. Dança e música são sobrepostas e moduladas no corpo. Z propõe o som como um acionamento sinestésico de movimento. O corpo se retroalimenta da interdependência com o ambiente que constitui e em que é constituído. Uma peça formulada como labirinto melódico, cinético e ritual guiado por uma guitarra ao mesmo passo instrumento, objeto, corpo estendido, signo, que evoca voz, respiração, forma e palavra sem memória como uma incorporação de alteridade. As apresentações de Z no Panorama 30 Anos marcam o retorno de Alejandro Ahmed aos palcos cariocas como bailarino após 20 anos.
Barricada | Marcelo Evelin (PI)
Resultado de residência artística realizada durante o Panorama 30 Anos
21 e 22 jan
LOCAL E HORÁRIO A CONFIRMAR
Duração: 50 min
Classificação indicativa: Livre
O nome barricada refere-se às táticas populares de insurreição que surgiram no século XVI, estruturas únicas e improvisadas que são construídas como um movimento de confronto, mas também funcionam como um espaço de proteção para uma determinada comunidade. Barricada, de Marcelo Evelin, é uma prática coletiva que propõe pensar proximidade como estratégia de defesa e o estar juntos como uma posição política. Uma figura coreográfica na qual um conjunto de corpos encadeados se articula e desarticula para marcar um momento no tempo e no espaço, e questionar noções de autonomia e resistência. Uma arquitetura de corpos firme e porosa, que interrompe fluxos, desloca identidades e fricciona fronteiras.
Este projeto vem sendo desenvolvido por Evelin e pela Demolition Incorporada, sua plataforma de criação, desde 2019. As apresentações no Panorama 30 Anos contarão com artistas locais previamente selecionados para residência artística com o coreógrafo.
Suave | Cia. Suave + Alice Ripoll (RJ)
27 e 28 jan | 19h
Teatro da Caixa Nelson Rodrigues (Av. República do Paraguai, 230, Centro)
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada e lista amiga)
Duração: 50 min
Classificação indicativa: 12 anos
Tudo é uma questão de flow, de manhã, não tem o erro, o atraso, o que saiu da linha, porque o que realmente importa é o jeito: como você vibra, como você pulsa, como se move? Se a gente força, não acontece o que era pra acontecer, perde a espontaneidade. Então tenho que fazer outras coisas pra estar trabalhando, não as que eu costumo fazer. Mas criar é mesmo inventar novos modos de criação. Que desafio pode ser maior? A dança do passinho é engraçada: parece um bezerro que acabou de nascer e está lutando pela vida e ao mesmo tempo comemorando e brincando. Os intérpretes me presenteiam com uma explosão de criatividade e coragem. Coragem de saber que a vida passa — já diz a tatuagem do Gabriel: one life one chance — e o melhor é a gente se mexer pra valer, sem medo, e aí tanta coisa começa a acontecer, me ensinam estes jovens e geniais cronistas do cotidiano.
tReta — Uma Invasão Performática | Original Bomber Crew (PI)
27 e 28 jan | 20h30
SuperUber (Rua Silvino Montenegro 78, Gamboa)
Entrada franca
Duração: 50 min
Classificação indicativa: 16 anos
É um conflito, uma explosão, é um ato premeditado para envolver o outro, onde o público se arrisca para fazer a selfie do dia. É testemunha da violência compartilhada, dos corpos descartáveis no Brasil. A desigualdade das posições sociais e os atritos gerados a partir disso, a parte crua das situações, as cores e os valores. A treta do Palácio do Planalto, a do vizinho, a da batalha de breaking. A treta do Dirceu com as outras quebradas e nossa própria treta que trás a dança como posicionamento no mundo. Os movimentos dessa dança são a expressão de moléculas do que de fato acontece, da realidade do corpo e do cotidiano. tReta é uma criação do Original Bomber Crew, Teresina – Piauí – Brasil.
Ka’adela — Ação Coletiva de Contra-Ataque | Idylla Silmarovi + Juão Nyn (MG)
Resultado de residência artística realizada durante o Panorama 30 Anos
20 e 21 jan | 18h
Praça Mauá
Entrada franca
Classificação indicativa: Livre
A plataforma Ka’adela vem desde 2021, a partir da parceria com o festival Panorama Raft, realizando cartografias de monumentos coloniais nos espaços urbanos e criando estratégias performativas de disfarce, reocupação e destituição dos imaginários coloniais presentes na cidade na efemeridade das artes da presença. Dessa forma, propõe a reativação de memórias que desafiam os sistemas coloniais e que trazem à tona, por sua vez, as memórias ofuscadas por esses mesmos sistemas que estão presentes não na arquitetura das cidades, mas nos corpos.
Por se tratar de um coletivo composto por pessoas de diversos territórios, a estratégia de criação acontece a partir de residências artísticas entre os membros do coletivo, para a elaboração das performances criadas nos monumentos. Agora, comemorando os 30 anos do Festival Panorama, Ka’adela propõe abertura do processo criativo com o público, em formato de residência artística para criar, coletivamente, uma ação com mais corpos, criando novas redes de contra ataque à este imaginário colonial.
Dessa forma, as pessoas interessadas à essa discussão e experimentação são convocadas a somar forças para a criação de um ato coletivo por monumentos do Centro do Rio de Janeiro.
Rezos Para Rasgar o Mundo | Tieta Macau (MA)
13 jan | 17h30
Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB)
Entrada franca
Duração: 30 min
Classificação indicativa: Livre
Chão de areia, alguns escritos, pés que amaciam o chão. Em comunicação com o invisível plurisônico, caboclos bradam. Versos e curas. O que de passagem passa, envulta, o que não se vê, entre o som e o giro, ponto e presença se firmam. Rezos é um dos rastros no qual Tieta (en)cruza o som pa|lavra, da escrita ao ponto cantado, enquanto aparição de cura|ataque e de inversão lexical da lógica do pretenso norte global (em declínio). Um mergulho no estudo do tempo como dimensão incorporada, e por ele a possibilidade de diálogo com um invisível, que nem sempre é transparente. Algo alinhado com a passagem de Beatriz Nascimento que nos recorda que incorporar é lembrar. Em algumas ações Macau vem se deslocando da intenção de fazer arte, e se reaproximando da iminência de assumir o compromisso de (re)lembrar, (re)viver em comum acordo com o invisível. Rezos é um rastro, uma colagem, uma aparição. Uma presença envultada, assombração da memória, ou um rezo de cura.
Involuntários da Pátria | Fernanda Silva & Sonia Sobral (PI/SP)
22 jan
HORÁRIO E LOCAL A DEFINIR
Entrada franca
Duração: 45 min
Indicação etária: Livre
Involuntários da Pátria, performance concebida por Sonia Sobral e apresentada pela atriz Fernanda Silva, baseia-se no texto da aula pública proferida pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, em abril de 2016, nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O texto apresenta os índios como os primeiros “involuntários da pátria”, que foram transformados em pobres, assim como os negros, para servirem ao sistema capitalista. De um encontro entre Sonia e Fernanda nasceu a ideia de transformar a aula em performance. Representante de tantos involuntários da pátria — índia, negra, pobre, LGBTQ+ — Fernanda grita e dança as palavras de Viveiros em todas as direções, criando com seu corpo e voz uma nova camada ao texto e um novo convite à subversão.
Panoraminha | Programação infantojuvenil
Tudo Que Não Invento é Falso | Paula Maracajá (RJ)
21 jan | 16h
Arena Dicró (Parque Ari Barroso – Entrada pela, R. Flora Lôbo, s/n – Penha)
Entrada franca
28 jan | HORÁRIO A CONFIRMAR
Arena Fernando Torres (Parque de Madureira)
Entrada franca
Duração: 45 min
Classificação indicativa: Livre
“Num palco sem pernas ou braços. Um balanço suspenso, atrás daquela moita, na lateral alta, esquerda, no fundo do peito do palco. Os rios eram verbais porque escreveram torto, como se fossem curvas de uma cobra. Só porque se botavam em movimento. Faremos agora o que não pudemos fazer na infância. Raízes crianceiras na visão comungante e oblíqua das coisas. Inventei um menino inventado levado da breca pra me ser. O menino era esquerdo e tinha cacoete pra poeta. Nada havia de mais presente senão a infância.” (Manoel de Barros)
O espetáculo de dança tudo que não invento é falso, inspirado no livro Memórias Inventadas: As Infâncias de Manoel de Barros, parte de um mergulho na poética que reverbera na dança contemporânea, literatura, artes plásticas e música.
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