Por aqui, houve festa na rua. Em Copenhague, Pelé chorou. O Rei estava na delegação de celebridades, esportistas, cartolas e políticos que, no dia 2 de outubro de 2009, comemorou o anúncio — em um auditório na capital da Dinamarca — do Rio como sede da Olimpíada de 2016. A euforia de bater concorrentes de Primeiro Mundo — Madri, Chicago e Tóquio — foi seguida de um frio na barriga: será que vai dar? Vai sim, indicam construções imponentes retratadas no Parque Olímpico da Barra e no complexo de Deodoro, as principais sedes dos Jogos. “O Rio está tomando forma. Devemos comparar a realidade de 2009 com a de hoje, que revela um território mais integrado e agradável de viver”, comemora o prefeito Eduardo Paes, um dos que vibraram na Escandinávia.
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Desde a escolha do Rio como cidade-sede, há quase seis anos, o carioca de fato viu sua cidade mudar — e muito. As ruas e avenidas continuam estranguladas por obras, o trânsito está cada vez pior, naquilo que parece um suplício infinito. Mas aos poucos uma nova paisagem se revela. Nos polos destinados a receber as competições, a transformação é impressionante. Erguidas ao custo de 6,6 bilhões de reais, as arenas gigantes, com capacidade para milhares de espectadores, entram na fase final de construção. Em 2014, John Coates, vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), afirmou que nossos preparativos seriam os “piores já vistos na história recente”. Na semana passada, durante reunião em Kuala Lumpur, na Malásia, o presidente Thomas Bach foi mais otimista: “O comitê organizador local está se preparando muito bem para o evento. Por um lado, houve um grande progresso; por outro, não há tempo a perder”. O recado está dado. Como Bach fez questão de pontuar, progredimos muito. Mas o prazo apertadíssimo que resta até o acendimento da pira olímpica não permite nenhum deslize. No ensaio fotográfico exibido abaixo, VEJA RIO retrata o andamento das obras nas principais instalações.
ARENAS CARIOCAS
Terraplanagem, fundações, infraestrutura subterrânea: aquela etapa das obras de que político não gosta, porque não aparece, foi vencida. No Parque Olímpico da Barra, chamam atenção as coberturas já montadas das três arenas, futuros palcos de disputas de basquete, rúgbi em cadeira de rodas, judô, luta livre, esgrima e tae kwon do, entre outras modalidades olímpicas e paralímpicas. O design arrojado das estruturas concilia cuidados estéticos e de ordem prática. Aberturas no teto, revestidas de material que funciona como uma lupa, vão direcionar a luz do sol para dentro das construções, garantindo um sistema de iluminação sustentável ao longo do dia. Trata-se de uma preocupação de longo prazo. Depois dos jogos, as arenas 1 e 2 vão se tornar o primeiro centro de treinamento para atletas de alto rendimento da América Latina. A Arena 3, a maior delas, com 16 000 lugares, continuará atraindo eventos esportivos internacionais e vai abrigar o Ginásio Experimental Olímpico (GEO), para 850 alunos do ensino fundamental, oferecendo prática esportiva em dez modalidades.
IBC
Nas imagens acima, o tamanho mínimo dos operários dá bem a dimensão monumental do Centro Internacional de Transmissão(ou International Broadcast Center, o IBC). A área prevista, de 85 000 metros quadrados, é maior que a do seu equivalente construído nos Jogos de Londres, em 2012 (60 000 metros quadrados). Entre as obras mais avançadas do Parque Olímpico da Barra, o complexo vai abrigar doze estúdios de televisão, cada um com 5 000 metros quadrados, espaço planejado para receber 10 000 profissionais da TV.
ARENA DO FUTURO
Um toque folclóricoé sempre bem-vindo:o prefeito Eduardo Paes conta que teve a ideia do projeto da Arena do Futuro ao observar o filho Bernardo distraído com blocos de Lego. Resolveu, então, usar na construçãoo conceito do brinquedode peças encaixáveis. Toda aparafusada, a estrutura metálica do espaço de 35 000 metros quadrados dedicado às competições de handebol e golbol(a versão da modalidade para atletas cegos) será esquartejada depois dos Jogos e remontada em outros endereços. Até o sistema de ar condicionado foi projetado para ser desmembrado e instalado em quatro novas escolas públicas na regiãode Jacarepaguá.
VELÓDROMO
O sinal amarelo acendeu-se em dezembro de 2014. Após a última fiscalização realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o velódromo foi apontado como a obra mais atrasada do Parque Olímpico. Levantado com investimento de 118,8 milhões de reais do governo federal e executado pela prefeitura, o projeto, em forma de capacete de ciclista, tem conclusão prevista para o quarto trimestre de 2015 (eufemismo para “até o fim do ano”) e evento-teste marcado para março de 2016. “Trata-se de uma arena de baixa complexidade, com apenas 5 000 lugares.Já conseguimos pôr os trabalhos em dia, e logo as pessoas vão se surpreendercom a rápida instalação da cobertura”, afirma o prefeito Eduardo Paes.
ARENA DE TÊNIS
Os tenistas que vão se enfrentar na próxima Olimpíada ocuparão um complexo para 19 750 espectadores, com dezesseis quadras — apenas quatro a menos em relação aos célebres campos de saibro do estádio francês de Roland Garros, construído em 1928. Astros do esporte, como RogerFederer e Rafael Nadal, manifestaram a intenção de jogar no Rio. Após algumas bolas fora, as obras, com término apontado para o fim do ano, estão no prazo. Aditivos de mais de 26 milhões de reais engordaram o orçamento original, de 175,4 milhões. “A lei faculta esse aumento, uma vez que o projeto não está 100% detalhado quando as licitações são lançadas”, explicaRoberto Ainbinder, diretor de projetos da Empresa Olímpica Municipal.
ESTÁDIO AQUÁTICO
Diferentemente de Londres (2012) e de Pequim (2008), que buscaram eternizar grandes projetos arquitetônicos como o estádio chinês Cubo d’Água, o Rio priorizou em seu projeto olímpico a simplicidade e a contenção de gastos. Com capacidade para 18 000 torcedores e duas piscinas, uma delas para aquecimento, o Estádio Aquático será uma instalação temporária. Após os Jogos, vai ser remontado na forma de dois parques aquáticos públicos. Uma curiosidade: durante as competições, o edifício será revestido de uma lona adesiva decorada pela artista plástica Adriana Varejão.
COMPLEXO DE DEODORO
Aquele clássico “deixa que eu deixo”, momento de indefinição entre os integrantes de umaequipe que costuma levar a derrotas no esporte, atrapalhou os trabalhos em Deodoro, o segundo centro esportivo mais importante da Olimpíada do Rio. Responsabilidade do governo federal, a princípio, o projeto paraa área foi passado para o estadoe, em novembro de 2013, virou atribuição municipal. Resultado: dezessete meses de atraso no início das obras. Cronograma ajustado,a expectativa é que o complexo esportivo deixe um rico legado para a região metropolitana da Baixada Fluminense. O chamado Parque Radical, com as instalações onde acontecerão competições de mountain bike, BMX (foto abaixo,à dir.) e canoagem slalom (fotos no alto), vai se transformar em uma área de lazer urbana que, no Rio, só perderá em tamanho parao Parque do Flamengo. Cerca de 60% das estruturas permanentes de Deodoro, como as de hipismo (foto abaixo, à esq.), hóquei sobre a grama e tiro esportivo, já haviam sido construídas para o Pan e osJogos Mundiais Militares e estão sendo apenas reformadas.
ARENA DA JUVENTUDE
Único estádio coberto de Deodoro, a Arena da Juventude integra o restrito grupo de obras adiantadas do complexo. É também uma das menores edificações esportivas do pacote, com capacidade para 5 000 pessoas — 3 000 lugares serão retirados depois da competição, assimcomo a aparelhagem de ar condicionado, para evitar gastos. O pequeno ginásio vai abrigar as disputasde esgrima e do pentatlo moderno, além das partidas da primeira fase do basquete feminino.