Destino brasileiro mais procurado por quem viaja a lazer, o Rio aprimora sua indústria turística através de formidáveis provas de fogo. Recebemos 617 000 visitantes nacionais e estrangeiros na Jornada Mundial da Juventude (2013) e 886 000 na Copa do Mundo do ano passado. Agora, corremos para arrumar a casa a tempo de dar as boas-vindas ao milhão de convidados aguardados nos Jogos Olímpicos de 2016. Em meio à multidão que movimenta a economia e provoca filas intermináveis diante dos nossos cartões-postais, há quem aposte no sossego. Cresce na cidade o número de estabelecimentos hoteleiros com poucos quartos, tratamento pessoal e — eis o principal — tão cercados de verde que nem parecem se situar no perímetro urbano carioca. São negócios em que o mato é uma das atrações.
Empresários desse ramo em ascensão buscam imóveis dentro de áreas de proteção ambiental, onde novas construções são proibidas, e põem mãos à obra. Foi o caso de Pedro Duarte e André Alencar. Amigos de infância, o profissional de marketing e o advogado rodaram o mundo de mochila nas costas. Há dez meses, aplicaram a experiência acumulada ao longo das viagens na inauguração do Baobá B&B. Com apenas quatro quartos, a pousada, enfeitada por móveis de design contemporâneo, ocupa uma antiga residência de 250 metros quadrados construída há trinta anos em pleno Parque Nacional da Tijuca. A aventura de seus clientes começa bem antes do check-in. De um ponto de encontro no Jardim Botânico, os futuros hóspedes seguem de jipe por pouco mais de 10 quilômetros, pelo Horto, até seu destino no Vale da Gávea Pequena. No trajeto de beleza exuberante, que passa pela Vista Chinesa, a mudança de clima é nítida. A cerca de 700 metros de altura, a temperatura chega a cair 5 graus, enquanto os ruídos típicos da metrópole dão lugar ao canto de pássaros e cigarras.
Cerca de 85% do público do Baobá é estrangeiro. “Entre os que vêm de fora, alguns chegam a se assustar, mas a paisagem se revela e logo vem o encantamento”, conta Alencar, que, a pedidos, costuma incluir no pacote trilhas para a Pedra Bonita e a Mesa do Imperador. Com a promessa de bucólica tranquilidade incluída na diária, mesmo os cariocas têm seus dias de turista. Eles são maioria na Maison VG, aberta em 2013 entre as árvores do Parque Natural Municipal de Grumari, em Vargem Grande. Vizinha do Don Pascual, um pioneiro nesse tipo de negócio, a Maison é uma mistura de pousada e bistrô. Comandada pelo chef holandês Jos Boomgaardt, é dotada de três confortáveis bangalôs com fachadas pintadas de cores vibrantes. Adriano Siciliani, advogado, esteve lá há um mês. Chegou para jantar com a mulher e acabou esticando o programa em uma das suítes. No dia seguinte, deleitaram-se com o café da manhã preparado pelo chef. “A minutos de nossa casa, vivemos a sensação de estar em uma viagem romântica”, conta. Ele faz planos de voltar, para, com mais tempo, aproveitar as cachoeiras e piscinas naturais dos arredores.
Outras paisagens exclusivas aguardam os visitantes. Ares do campo são evocados pela área com árvores frutíferas do Les Jardins de Rio, no Cosme Velho. Na Estrada das Canoas, o charme do Casa Verde é a piscina integrada à natureza intocada. Nicho no mercado turístico da cidade, os endereços citados sobressaem pela originalidade e contribuem para expandir os horizontes do setor. Assunto na ITB Berlim 2015, importante feira da indústria do turismo realizada em março na capital alemã, um personagem que, hoje, dá água na boca dos empresários do ramo é o flashpacker. Trata-se do mochileiro (ou backpacker, no jargão do meio) de alguns anos atrás. Mais velho e bem-sucedido, ele ainda gosta de encarar desafios fora de casa, porém não hesita em pagar para ter luxo e conforto. Sensatos, flashpackers de todo lugar sentem-se particularmente à vontade em hospedagens que conciliam a santa paz do ecoturismo com a mão na roda dos serviços de cidade grande.