Além de seus 40 anos de existência, a Bienal do Livro Rio, que acontece de 1º a 10 de setembro no Riocentro, na Barra, terá outra importante comemoração em sua programação: os 60 anos da Mônica, a personagem de quadrinhos mais famosa do país, cujo estrondoso sucesso vem atravessando gerações.
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Criador da garotinha de vestido vermelho, Mauricio de Sousa conversou com VEJA RIO sobre ela e sobre a feira. Ele estará presente no evento em diversos momentos para celebrar Mônica, a começar pela abertura, dia 1º de setembro, quando acontecem a festa de aniversário da personagem e a primeira mesa da Bienal. Saiba mais abaixo a programação do desenhista na Bienal.
VEJA RIO: A Mônica surgiu como coadjuvante e acabou se tornando a protagonista das histórias da turma. Por que acha que isso aconteceu?
Mauricio de Sousa: A personagem surgiu em 1963, já empoderada. Enfrentou o Cebolinha de igual para igual em plena época em que o movimento feminista estava a todo vapor. Creio que esse fato, mais a personagem estar nas animações da Cica (marca de alimentos que acabou em 2003) na televisão, ajudaram ela a ter um destaque nas historinhas. O público pedia mais Mônica, e demos mais Mônica. Assim, já em 1970, quando saiu a primeira revistinha pela editora Abril, veio com o título de Mônica e Sua Turma. E, até hoje o Cebolinha tenta voltar ao poder com seus planos infalíveis.
Que características sua filha Mônica e a dos quadrinhos têm em comum, além dos traços físicos?
Para mim, são as mesmas de quando criei. Mônica tinha apenas três aninhos e corria de cá para lá com seu coelho de palha enorme, que eu havia comprado na feira para ela. Como toda criança, brigava com as irmãs e tentava usar aquele coelho como escudo e objeto de ataque. Tinha os dentinhos proeminentes e sempre teve atitude. Era bravinha. Então não criei nada: ela estava lá e coloquei no papel. Assim como a Magali, que realmente comia uma melancia inteira, e a Mariângela, que, mais doce, virou a Maria Cebolinha. Um dia, a Mônica, minha filha, me disse que eu tinha exagerado na dose e que ela não era assim. Mas dias depois ela voltou e disse que eu tinha acertado mesmo.
Para você, qual a importância da turminha ser parte da história da Bienal?
A Bienal é a festa da literatura, festa dos autores e leitores juntos, festa do estímulo à leitura. Os quadrinhos são a primeira leitura de uma criança. Quando vou à Bienal e subo ao palco com aquelas milhares de pessoas na plateia, logo falo: “Quem aprendeu a ler com a Turma da Mônica em criança levanta a mão!”. Todos levantam. Nesses anos, foram milhões de crianças alfabetizadas pelos quadrinhos. Então, neste ano farei o mesmo. E, cada vez que vejo o resultado, me sinto realizado. A Bienal do Livro é um evento nobre da literatura. Quero sempre estar por lá.
Com tantos estímulos que as crianças (e todos) têm hoje, como a Turma da Mônica consegue atrair ainda esse público? Qual o segredo (ou quais)?
Nós falamos a linguagem da criança do aqui e agora. Não deixamos essa relação envelhecer. Estamos em todas plataformas de comunicação. E, se surgirem novas plataformas, estaremos lá. Mas a revista impressa e os livros impressos são muito importantes ainda, porque criança gosta de ter em suas mãos, e não na nuvem. Querem abraçar um livro. É dela, e pode estar alí na estante para ler, inclusive quando faltar força elétrica. Vendemos mais de 12 milhões de revistas por ano, e mais de dois milhões e meio de livros por ano. É um público notável para qualquer autor.
O envelhecimento mudou muito nas últimas décadas. A ideia que tínhamos de idosos mudou muito nos últimos anos, muitas pessoas vêm derrubando antigos estereótipos. No entanto, nunca se falou tanto em etarismo (palavra que até um tempo atrás nem existia e que significa discriminação devido à idade). Seu desejo de fazer a Turma da Mônica idosa é ajudar a acabar com esses preconceitos? O que pode adiantar do que imagina para a turminha?
Em recente viagem ao Japão, conversei com empresários de lá que querem licenciar nossos personagens. Um deles disse que, por lá, já existe há tempo uma valorização das pessoas mais idosas, e que são um público cada vez mais ativo e que precisa de produtos direcionados para eles. Disse que eu estou perdendo tempo em não pensar nesse público. E concordei. Os nossos primeiros leitores, de 60 anos atrás, quando começamos, hoje são avós e conhecem muito bem nossos personagens, porque seus netos leem a turminha. Então estamos estudando, sim, trabalhar esse importante público. Já estamos fazendo uma historinha da turminha com seus 60 anos de idade para sentir a aprovação dos leitores mais avançados na idade.
A Turma da Mônica fez parte da vida de milhares de brasileiros de diferentes gerações. O que mais dá orgulho na trajetória das histórias?
Essa parte de criar e estimular mais leitores a cada ano é minha medalha no peito. Aconteceu comigo, que me alfabetizei com revistas em quadrinhos, lá com meus 4 a 5 anos de idade. Sem leitores não há autores, e vice-versa. É uma relação especial que vivenciamos na Bienal do Livro. Olhos brilhando ao sentirem o cheiro de livro novo, como pão quentinho para levar pra casa.
Programação de Mauricio de Sousa na Bienal:
Dia 01/09 – Sexta-feira
14h – Atividade Infantil: Participação de Mauricio de Sousa na Festa de Aniversário da Mônica, momento que o público será convidado a cantar parabéns para ela (Pavilhão Laranja)
16h – Palavra-Chave: Participação de Mauricio de Sousa na mesa de abertura daBienalpara celebrar os 40 anosdoevento com autores que fizeram parte dessa história. 40 Anos deBienal— Uma Celebração: com Ruy Castro, Thalita Rebouças, Mauricio de Sousa, Ana Maria Machado, com mediação de Clara Alves (Pavilhão Azul)
17h30 – Sessão de fotos após a mesa –Praça de Autógrafos ao ladodoPalavra-Chave (Pavilhão Azul)
Dia 02/09 – Sábado
15h – Páginas na Tela: Mauricio de Sousa, Daniel Rezende e Rodrigo Paiva (Pavilhão Verde)
Dia 03/09 – Domingo
11h – Ediouro – Sou um Rio – Sessão de autógrafos com Mauricio de Sousa – 50 senhas – com a presença dos personagens Mônica e Cebolinha no estande da Editora
Riocentro. Avenida Salvador Allende, 6.555, Barra. Seg. a sex., 9/21h. Sáb. e dom., 9h/22h. R$ 19,50 a R$ 39,00. Ingressos pelo Eventim. De 1º a 10 de setembro.
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