Mineiro de Ponte Nova, o músico já torcia pelo Flamengo quando chegou ao Rio, em 1972. Faltava uma segunda providência fundamental para sua conversão à carioquice. Após um périplo por quadras e terreiros, ciceroneado pelo parceiro Aldir Blanc, João Bosco escolheu o Império Serrano. A beleza dos sambas do fundador Silas de Oliveira (1916-1972), compositor de Aquarela Brasileira, hino do desfile de 1964, pesou a favor, mas João, 70 anos, não sabe definir exatamente o que o levou a decidir-se pela escola de Madureira. “O Império está dentro de mim, no meu inconsciente, e isso é o bonito”, filosofa. O autor de O Bêbado e a Equilibrista (uma de suas inúmeras pérolas com Aldir Blanc) recorre a uma história para ilustrar essa afinidade paranormal. Ele conta que ao terminar Pagodespell, em 1986, samba feito com Chico Buarque e Caetano Veloso, ficou desconfiado. Levou um tempo até entender o que o estava incomodando: sem perceber, o artista se baseara na sonoridade de Exaltação a Tiradentes, samba-enredo campeão do Império em 1949. “Estava no meu inconsciente, como disse. Acho que o Chico (Buarque) percebeu, mas nunca falou nada, eu também não falei até hoje”, revela. O apoio à escola do coração inclui aparições na quadra e canjas em shows que buscam levantar dinheiro para a agremiação de Madureira. Mas evoluir na Sapucaí, nem pensar. João resiste aos convites de amigos imperianos, como os músicos Arlindo Cruz e Wilson das Neves — teme o efeito pé-frio que já vitimou a União da Ilha. Na única vez em que topou cruzar a Passarela do Samba, um carro alegórico da escola da Ilha do Governador quebrou e ele ajudou a empurrá-lo até a Praça da Apoteose. A paixão pelo Império é mantida, portanto, com recato e visitas às origens da escola, fundada no Morro da Serrinha, em 1947. “Sempre volto à Serrinha. Minhas raízes estão ali, e o samba é a minha fala”, diz.