O ano era 1908, e o jornalista Artur Azevedo escrevia em O País: “Visitei o Theatro Municipal e venho dizer aos leitores, francamente, desassombradamente, que o Rio de Janeiro possuirá um dos primeiros teatros do mundo. Nada lhe falta, absolutamente nada, em luxo, conforto, elegância e comodidade”. Mas não era somente elogios: “Lamento que a municipalidade não tenha feito o menor esforço para organizar uma companhia dramática própria”. O prédio ficaria pronto um ano depois, inaugurado solenemente em 14 de julho de 1909, com Azevedo já falecido. Apesar de ter sido grande entusiasta do teatro, ele não veria a festa de abertura, assim descrita pelo Jornal do Commercio: “Carros em fila interminável despejavam, desde as oito da noite, homens encasacados e enluvados e senhoras que escondiam, sob vistosas capas e amplas mantas, a riqueza de suas joias, nuvens de renda e ondas de perfume”. Histórias deliciosas como essas estão no recém-lançado O Rio de Janeiro de Artur Azevedo (editora Mauad e Faperj), escrito pela antropóloga Tatiana Siciliano, e cuja estrela maior é, para além de Azevedo, o Rio da virada dos séculos XIX e XX.