Manual de sobrevivência em São Paulo
Nesta quarta (25), aniversário da capital paulista, que tal deixar a velha rixa (um pouco) de lado? Conheça um guia divertido com 10 curiosidades sobre hábitos e costumes na maior cidade do país, e aprenda a circular com mais desenvoltura entre os paulistanos, sem pagar mico
Uma ganhou a alcunha de Cidade Maravilhosa, a outra ficou com título de Terra da Garoa. A rivalidade ancestral entre Rio de Janeiro e São Paulo já começaria por aí, mas, apesar de separadas por apenas 400 quilômetros (ou 45 minutinhos de avião), as duas cidades têm diferenças que vão além da paisagem e do clima. Códigos sociais, ambiente de trabalho, hábitos de consumo e estilo de vida, tudo parece indicar o quanto são diferentes. Mas o fato é que as duas metrópoles se complementam. Não à toa, os aeroportos do Rio estão cada vez mais apinhados de cariocas que deixam para trás o lazer à beira-mar em busca da gastronomia variada e dos agitos culturais de Sampa, como mostrou reportagem de capa da VEJA Rio no final do ano passado. Para transitar pela paulicéia com a desenvoltura própria de um carioca da gema (e sem pagar micos), preste atenção às dicas a seguir e divirta-se.
Pouco depois de se mudar para São Paulo, há seis anos, a publicitária carioca Raquel Oguri foi convidada para um churrasco à beira da piscina. Ao chegar na festa, levou um susto: ela era a única de biquíni. Para que ninguém pagasse o mesmo mico, e ainda para que as pessoas pudessem conhecer, além dos programas turísticos da cidade, os hábitos e a cultura de lá, Raquel escreveu o livro Manual de Sobrevivência em São Paulo – Um Guia para Cariocas e Simpatizantes (Casa da Palavra). São delas as dicas abaixo:
1 – Aprenda a diferença entre paulista e paulistano. Muitos cariocas chegam a São Paulo sem sequer saber a diferença. Paulistano é quem nasce na capital. Paulista é quem nasce no estado. Evite a confusão, pois pode parecer mero descaso. De qualquer forma, você vai precisar ralar um bocado para se sentir amado. No Rio, é mais fácil.
2 – Na metrópole à beira-mar, é moleza econtrar o que há de bacana. Em sampa, não. As coisas mais interessantes estão camufladas, é preciso ficar antenado para descobrir. Tem sempre alguém dizendo que lá em não-sei-onde, na garagem de um tal coreano, tem o churrasquinho de vitelo asiático eleito o melhor do mundo. Desenvolva espírito aventureiro e explorador para desvendar todos os mistérios da paulicéia.
3 – A segmentação de serviços é enorme na capital paulista. Tem rua para tudo: rua das noivas, rua das maçanetas, rua dos carros importados, rua dos jeans, rua da decoração, loja só de louça branca, loja só de boneca russa e por aí vai. Não estranhe. Pelo contrário, aproveite.
4 – Em São Paulo, esqueça o conceito de Zona Norte e Zona Sul. Cariocas têm essa mania: “fica na Zona Sul ou na Zona Norte?” Em São Paulo, você encontra a Zona Norte na Zona Sul, a sul na oeste e por aí vai. É como se chacoalhassem o Rio e Madureira passasse a ficar entre Ipanema e Leblon, por exemplo.
5 – Quando estiver procurando uma rua em São Paulo, sua atenção deve ser redobrada. Se você se distrair na rua Augusta, por exemplo, quando se der conta ela já mudou de nome umas três vezes. Além disso, ao invés da praia, sua referência principal serão os rios Tietê e Pinheiros, que formam a espinha dorsal da cidade.
6 – Jamais ande de carro na megalópole sem um Guia Quatro Rodas ou algo similar. Mesmo que você tenha um GPS, previna-se.
7 – Distância não é parâmetro para nada em São Paulo. Se alguém lhe disser que o lugar X fica a “apenas cinco quilômetros” do Y, não se anime achando que é perto. Dependendo da região, pode-se levar até uma hora no trajeto entre um e outro, uma aventura que pode deixar você muito mal humorado.
8 – Todo carioca tem um lado Regina Casé, que transita bem tanto no glamour quanto na favela. Mas em São Paulo é diferente. Dificilmente sua manicure vai chamar você para um churrasquinho na casa dela, na periferia.
9 – A relação com pessoas famosas também é diferente. No Rio, rola intimidade com o mundo artístico, é supernormal comer um pão com manteiga no balcão da padaria do Leblon ao lado do Chico Buarque. Já o paulistano é mais respeitoso com os artistas.
10 – Se você quer ser sócio de uma videolocadora no Rio, mas não tem comprovante de residência em mãos, o próprio atendente diz que tudo bem, que vai quebrar seu galho e liberar a locação desde que você traga a conta de luz assim que puder. Ou seja, nunca. Ele sabe perfeitamente disso, é um acordo tácito entre as partes. Já em São Paulo, o trâmite pode ter o mesmo rigor que tirar um passaporte na Polícia Federal.
Alfinetadas, implicâncias e piadinhas à parte, Raquel confessa que, hoje, não consegue viver sem São Paulo. “Assim como não vivo sem o Rio. É como se uma cidade fosse Yin e a outra Yang. As duas se completam”, finaliza a publicitária. Coisa de histórias de amor.