Lembro de quando, adolescente, ia ao drive-in na Lagoa, aqui no Rio de Janeiro, com uma namorada da época.
Nós escutávamos o som do filme numa pequena caixa que nos davam na entrada e colocávamos na janela do carro. Era divertido estar ali e ver filmes de dentro carro, como nos filmes que víamos na época, que sempre tinham cenas de adolescentes em drive-in. Eram filmes românticos, “água com açúcar”, ou de terror bem trash.
Agora, com a pandemia, muitos países – como o Brasil – fizeram renascer essas minha memórias. Shows e teatros no drive-in para carros!! Um novo mundo!!
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No dia 15 deste mês, um sábado, fiz um show cantando old songs na Bahia, em Salvador, no Big Drive-in com minha querida pianista Claudia Elizeu e com mais dois músicos locais, Jôdir no baixo e Marquinhos na bateria.
Em vez das caixas de som, o público sintonizava numa rádio no carro e já ouvia meu show.
Do palco, quando entrei, vi aquelas centenas de carros e me senti dentro de um filme da minha memória, mas do outro lado agora, como naquele filme do Woody Allen, A Rosa Púrpura do Cairo, onde você se vê dentro da tela.
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Terminei a primeira música e ouvi buzinas e vi muitos faróis piscando em vez dos aplausos. Meu Deus, que mundo é esse novo??
Uma hora apresentei os músicos e pedi: “Uma salva de palmas, por favor”. Ato falho!!
No meio do show perguntava coisas para o público: “Qual música vocês querem ouvir? Estão curtindo?” Resposta: duas buzinas, três piscadas de farois, às vezes duas. Um novo código se estabeleceu ali. Estranho.
Tive vontade de ver meu público, de tocar neles…
No final do show, depois dos aplausos – perdão, depois do BUZINAÇO – eu não aguentei e desci com minha máscara e me aproximei de alguns carros que saíam para dar um oi, ver as pessoas, como sempre faço quando termino uma peça no teatro.
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Tenho feito algumas lives e minha peça em teatros com câmeras para transmissões on-line, porém nada se compara à experiência diferente do drive-in.
É como um filme de ficção, um livro de Aldous Huxley? Não sei, mas jamais esquecerei aquelas buzinas após eu cantar That’s Life, de Frank Sinatra.
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Sim, essa é a nova vida, porém espero que seja por muito pouco tempo. Mas a arte sempre dá um jeito de sobreviver, mesmo que por aparelhos e com todas as dificuldades.
Marcelo Serrado está em cartaz virtualmente com o show De Frank a Wando, ao lado da pianista e maestrina Claudia Elizeu. Quintas, 19h. Ingressos: grátis a R$ 30,00. Para comprar um bilhete e saber como assistir, basta acessar o site da Sympla.