Cinco dias depois de a VEJA RIO anunciar que o Teatro do Leblon suspenderia as suas atividades no início do mês de julho, o burburinho gerou uma boa notícia: duas produções tomaram a iniciativa de ocupar as salas para manter o complexo aberto por pelo menos mais um mês. Sucessos de público e crítica, as peças Selfie, com Mateus Solano e Miguel Thiré, e O Escândalo Philippe Dussaert, monólogo estrelado por Marcos Caruso, dividirão uma temporada de quatro semanas. “Queremos que a nossa atitude sirva de exemplo para que outras produções percebam que é necessário tomarmos alguma medida neste momento que a cultura carioca está agonizando”, afirma Carlos Grun, produtor de ambos os espetáculos.
Quando anunciou a suspensão da programação, o proprietário do Teatro do Leblon, Wilson Rodriguez, garantiu que o teatro não seria vendido. “Sou um grande amante de teatro e nunca quis fechar ou vender o imóvel. As matérias sobre uma possível venda para a Igreja Universal do Reino de Deus não passaram de especulações. Só preciso de peças com bom poder comercial que me ajudem a sustentar as salas abertas”, explica, referindo-se a gastos como uma taxa de 30 mil por mês de condomínio. Segundo a empresa Engebanc, as duas salas, que somam 1000 metros quadrados, são avaliadas entre 12 e 15 milhões de reais – cada uma. “Quem iria comprar um teatro neste valor?”, questiona Rodriguez.
A programação segue normalmente: Luana Piovani continua com a temporada de E Se Eu Não Te Amar Amanhã até domingo (2), como já era previsto desde a estreia, mantendo uma média de 200 espectadores por sessão. No final de semana seguinte, a partir de sábado (8), Marcos Caruso leva o excelente monólogo O Escândalo Philippe Dussaert, sobre os caminhos da arte contemporânea, para o Leblon e faz duas semanas de temporada. Já no sábado (22), é a vez de Mateus Solano e Miguel Thiré (que voltará de Lisboa, onde está morando, especialmente para isso) fazerem rir com a comédia Selfie.
A iniciativa não garante que as atividades não sejam suspensas em agosto, mas abre caminho para um novo debate. Com o calote do pagamento de R$ 25 milhões do edital de Fomento de 2016 pela Secretaria de Cultura, as produções buscam caminhos alternativos e conclamam não só os empresários e o público, como também a própria classe. “Precisamos nos conscientizar que esta é a pior crise que já vivemos e, sem o apoio público, temos que nos unir cada vez mais. Quem sabe este não é um caminho?”, reflete o produtor Carlos Grun.