Micareta, apropriação malandra da expressão mi-carême, designação de um tradicional festejo francês, virou por aqui a desculpa para celebrar a folia tupiniquim longe dos dias de Momo propriamente ditos. Na semana que passou, também teve Carnaval fora de época, comandado por admiradores da Mocidade Independente de Padre Miguel. A escola foi consagrada campeã do Grupo Especial na quarta (5), um mês e cinco dias depois de outra quarta-feira, a de Cinzas. Naquele já distante 1º de março, a sempre emocionante apuração dos votos na Praça da Apoteose deu o título de 2017 à Portela. A azul e branco de Oswaldo Cruz faturou o troféu sozinha pela primeira vez nos últimos 33 anos, com um décimo de pontuação à frente da segunda colocada. Essa fração mínima, descobriu-se uns vinte dias depois, foi subtraída de nota do jurado Valmir Aleixo Ferreira concedida à agremiação de Padre Miguel, a vice-campeã. Daí o problema: Aleixo penalizou a Mocidade, no quesito abre-alas, pela ausência de um destaque, o Esplendor dos 7 Mares, que, na verdade, já não constava da segunda versão (a última, e definitiva) do roteiro do desfile apresentado ao júri. Por algum tropeço ainda não explicado, o julgador não recebeu o documento atualizado e, cioso de seus deveres na avenida, fez a avaliação. Deu no que deu. Na noite da última quarta, graduadas autoridades do Carnaval carioca — personagens de longa folha corrida de serviços prestados à cidade, como Rogério Andrade, Anísio Abraão David e Capitão Guimarães — reuniram-se para resolver a pendenga. Uma democrática votação decretou o empate técnico, e tardio, com a Portela, para a alegria dos fãs da Mocidade que, de bandeira em punho, aguardavam o veredicto diante do prédio na Avenida Rio Branco onde fica a sede da Liesa. No novo escrutínio, um mês depois do Carnaval, o resultado foi 7 a 1 — só a Portela votou contra a divisão do primeiro lugar.