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Músicos encaram a multidão do Rock in Rio pela primeira vez

Entre astros internacionais e intérpretes tarimbados, novatos se preparam para a estreia no grande festival

Por Carla Knoplech
Atualizado em 2 jun 2017, 12h27 - Publicado em 12 set 2015, 01h00
Leo-Aversa
Leo-Aversa (Veja Rio/Leo Aversa/)
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Vendidos os 85 000 ingressos para cada um dos sete dias de programação, o Rock in Rio volta à sua cidade natal a partir de sexta (18). A lista de nomes internacionais da nova edição inclui Rihanna, Metallica, Elton John e Katy Perry, entre outras atrações. Quem tem presença garantida nessa farra está sorrindo de orelha a orelha, certo? Depende. “Nosso show é o primeiro e o trânsito até lá é aquele inferno”, resmunga Lucas Nunes, aumentando com palavras a já longa distância entre a Zona Sul, onde mora, e a Cidade do Rock, o terrenão cenográfico de 150 000 metros quadrados em Jacarepaguá, a sede do festival. Lucas vive um impasse curioso. Está quase torcendo para que boa parte da multidão aguardada no dia de abertura chegue atrasada, mas espera sinceramente arrancar aplausos entusiasmados de quem aparecer na hora. O garoto em momento de compreensível ansiedade é guitarrista da Dônica, sensação carioca surgida no ano passado e uma das atrações musicais que, agora, vivem a expectativa do momento único: vão debutar no megafestival. Eclética, a lista dos estreantes conta ainda com as cantoras Júlia Vargas, 26 anos, e Alice Caymmi, 25, o conjunto Suricato, revelado em 2014 no programa televisivo Superstar, e o experiente CPM22, que celebrará no Palco Mundo seus vinte anos de carreira.

Novatos no Rock in Rio
Novatos no Rock in Rio ()

Com ou sem trânsito no acesso à Cidade do Rock, às 15 horas da sexta (18), o primeiro dia do festival, Lucas Nunes e os parceiros José Ibarra (voz e piano), Miguel Guimarães (baixo), André Almeida (bateria) e Tom Veloso (composições) vão subir ao Palco Sunset, uma estrutura de 22 metros de altura e 44 de largura. O público máximo aguardado nesse espaço é de 50 000 pessoas. Trata-se de uma marca raramente atingida nos primeiros shows de cada dia, mas, para efeito de comparação, o número é cinco vezes superior à soma de todas as plateias para as quais a Dônica já se apresentou. “Acho que só vou me dar conta da dimensão desse show quando estiver no palco e avistar a galera”, diz o cantor José Ibarra. O desafio, que o quinteto vai enfrentar ao vivo com a participação do tarimbado instrumentista e arranjador Arthur Verocai, é para os fortes (veja o quadro com depoimentos de estreantes de outros festivais na pág. 30). “Não é qualquer artista que segura a onda nos palcos da Cidade do Rock”, atesta Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio. Neste ano, diz a empresária, o consagrado intérprete e compositor John Legend, ganhador do Oscar de melhor canção por Glory, tema do filme Selma, atendeu de bom grado à sugestão da produção para tocar no Palco Sunset e não no Palco Mundo, o espaço principal. Ali, ele se apresentará dois dias depois dos cariocas.

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+ Confira a cobertura completa do festival na página especial

A missão de dividir a cena com profissionais experientes como Legend aumenta a responsabilidade dos debutantes. No caso da Dônica, impressiona ainda mais o fato de que os garotos se conheceram na escola e têm entre 17 e 19 anos. O baixista Miguel Guimarães tinha até deixado as aulas para se dedicar à carreira, mas, para garantir a presença no Rock in Rio, precisou se matricular no colégio novamente, por determinação da produção do festival. Elogiadas apresentações ao vivo, em pontos acanhados como a Praça Santos Dumont, o Teatro Tablado e o Solar de Botafogo, contribuíram para o boca a boca favorável e a rápida chegada ao disco de estreia, Continuidade dos Parques. Na Cidade do Rock, a banda será jogada aos leões, mas cercada de cuidados. O álbum foi lançado pela gravadora Sony, a empresária da turma é Paula Lavigne e o padrinho musical, Milton Nascimento. Paula e o ex-marido Caetano Veloso são pais de Tom, o mais discreto (e tímido) integrante do grupo, o que explica em parte o backstage poderoso. No dia a dia, porém, mamãe fica só com o papel de agente. Joga duro. “Ela diz que ser músico não é bom, nós vamos sofrer muito, e tocar é apenas uma parte do negócio”, conta o cantor Ibarra. Milton também marca em cima. O cantor mineiro, um dos criadores do Clube da Esquina, grande influência da Dônica, insiste para que Tom deixe o acanhamento de lado. “Ele foi a um show nosso na Miranda e me ligou no dia seguinte, dizendo: ‘Sou o padrinho da banda, então você vai ter de tocar, assim não pode ser’ ”, lembra Tom, que atua mais como compositor e resiste a empunhar seu violão ao vivo.

rock in rio
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Desses problemas de recato, Alice Caymmi não sofre. A jovem cantora de 25 anos, famosa tanto pelo vozeirão sobre repertório encantador quanto pelos figurinos esfuziantes, estourou com o segundo disco, Rainha dos Raios, lançado em setembro do ano passado. Meses depois, já havia uma canção sua incluída na trilha sonora de uma minissérie da TV Globo — Como Vês, tema de abertura de Felizes para Sempre?, dirigida por Fernando Meirelles e exibida entre janeiro e fevereiro. Ela vai ocupar o Palco Sunset, ao lado do pianista Eumir Deodato, no domingo (20). “Do ponto de vista pessoal, é apavorante, mas como artista é uma oportunidade maior em termos de projeção. Acho que a gente tem de confiar no trabalho e pensar em fazer o negócio direito”, diz a intérprete, filha de Danilo e neta do grande Dorival Caymmi. Também no comboio dos estreantes, Júlia Vargas, a caminho do segundo disco-solo, que lança em outubro, vem chamando atenção em apresentações ao lado de Chico Chico no diminuto Beco das Garrafas. Na sexta (18), ela vai se juntar a um time numeroso de artistas em tributo a Cássia Eller (1962-2001), a mãe de Chico Chico — que, por sua vez, tem resistido heroicamente a subir ao palco para participar da homenagem. Dona de timbre límpido e afinado, Júlia vai cantar Coroné Antonio Bento, clássico do cancioneiro de Tim Maia e sucesso de Cássia. “Nunca fui ao festival. Sempre fugi de muvuca e não tinha uma galera para me acompanhar, mas agora vou participar de uma forma bacana”, conta ela, com segurança convincente.

Duas bandas de rock, mas de estilos bem diferentes, completam o time da primeira vez. O quarteto carioca Suricato, com dois discos lançados, fez sucesso no reality show Superstar, exibido pela TV Globo no ano passado. Chegou à final do programa e, munido de repertório folk próprio, ensaia voos mais altos. No dia 27, o grupo se apresenta com o cantor e guitarrista americano Raul Midón, em um daqueles encontros típicos do Palco Sunset. “Já estamos acostumados a tocar para públicos consideráveis, mas o Rock in Rio é um marco, um evento que revelou vários artistas. Nosso sentimento é de merecimento, de que nosso som foi aceito”, conta, agradecido, o cantor e guitarrista Rodrigo Suricato. Com muitos anos de estrada, o conjunto paulista CPM22 vai mostrar seu hardcore no Palco Mundo, no dia 24. A banda, premiada com uma vaga no RiR por seus vinte anos de atividade, aquece a plateia para uma noite pesada, que inclui ainda Hollywood Vampires (projeto amalucado que reúne o veterano Alice Cooper e o ator Johnny Depp), Queens of the Stone Age e System of a Down. Para Fernando Badauí, vocalista do grupo, o espírito é de festa. “Bandas gringas falam com enorme respeito do Rock in Rio, e nós, na primeira vez, já vamos para o palco principal. Vai ser o maior público da nossa carreira”, diz.

Estrear no Rock in Rio não é coisa para qualquer aventureiro. O músico Zé Ricardo, responsável pela programação do Palco Sunset, quer surpreender o público, mas evita riscos com uma orientação simples. Ele procura artistas preparados profissionalmente, que já tenham gravadora e empresário, por exemplo, além de um trabalho instigante. “O Rock in Rio proporciona mais do que um show. Busco nomes que estejam investindo na carreira, prontos para o mercado, e não para brilhar em uma única apresentação”, conta. Como não há receita para o sucesso, a mistura às vezes desanda. Carlinhos Brown, em 2001, foi bombardeado por garrafas d’água. Antes, em 1985, o tremendão Erasmo Carlos e Paula Toller, então à frente do Kid Abelha, penaram diante de metaleiros mal-educados. Lobão, em 1991, improvisou uma letra de baixo calão em resposta a vaias atordoantes. Todas essas cenas, hoje folclóricas, podem ser encontradas em vídeos na internet. O que os debutantes perseguem, no entanto, é a fama de um momento sublime como o vivido por James Taylor. No primeiro Rock in Rio, separado da cantora Carly Simon e em recuperação de problemas decorrentes do uso de drogas, ou seja, com a carreira no fundo do poço, hipnotizou a turba. Diante dele, 350 000 espectadores sentaram-se para ouvir e cantar junto baladas como You’ve Got a Friend. A bola, agora, está com os novatos do Rock in Rio 2015

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