Quando o policial militar Anderson Teles, de 42 anos, há quinze em serviço no Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, saiu de casa no domingo passado (23), às 8 da manhã, para cumprir o plantão no Maracanã, na Zona Norte do Rio, onde Flamengo e Corinthians se enfrentariam pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro, ouviu da esposa e da filha o pedido de sempre: “Toma cuidado. Fica com Deus”. Cerca de meia hora antes do início da partida, que começou às 17h e terminou com empate de 2 a 2, uma confusão provocada pela torcida organizada do time paulistano no estádio terminou com quatro policiais agredidos, entre eles Teles, que recebeu socos e pontapés de cerca de vinte homens. “Minha família e alguns amigos viram as imagens na televisão, ao vivo, me reconheceram e se desesperaram. Meu celular não parava de tocar”, conta o PM.
Quando voltou para casa, em Realengo, Zona Oeste, na manhã do dia seguinte, segunda-feira, após ajudar a identificar e autuar 42 vândalos em quase 24 horas corridas de expediente, foi recebido com uma salva de palmas dos vizinhos e aclamado como herói, enquanto a família corria para abraçá-lo. “Eu só cumpri o meu dever”, afirma o sargento, que faz a segurança de vinte a trinta jogos por mês e nunca havia passado por nada parecido. “A ironia é que eu estava destacado para fazer a proteção do time visitante.Mas aqueles homens não eram torcedores, eram animais. Queriam atacar uma área do Flamengo repleta de famílias com mulheres e crianças”, conta ele, que não revela seu time – “Torço para a Polícia Militar Futebol Clube”, brinca. A VEJA RIO, ele relembrou os momentos de tensão no estádio e da prisão dos envolvidos na agressão – dos 42 suspeitos conduzidos ao Juizado Especial Criminal, 31 continuam detidos no presídio de Bangu e aguardam a conclusão das investigações, a cargo da Polícia Civil.
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O que era para ser um domingo de festa e de celebração da reabertura do Maracanã lotado, com 65 000 torcedores, por pouco não terminou em tragédia. A confusão teve início com a troca de provocações entre corintianos e flamenguistas no alambrado que separava as duas torcidas no Setor Sul. Exaltados, alguns alvinegros partiram para cima da grade no intuito de derrubá-la e alcançar os adversários. “Tentamos dialogar, pedimos calma, mas eles vieram para cima da gente com violência e xingamentos que prefiro não comentar”, conta Teles, que fazia o policiamento do setor com mais três colegas e precisou pedir reforço para conter o tumulto. “Se a confusão tivesse se alastrado, uma criança poderia ter sido pisoteada ali. Na hora, eu só pensava que poderia ser a minha família, a minha filha”, afirma.
Em determinado momento, o sargento caiu de costas sobre as cadeiras da arquibancada e continuou levando socos, mas garante que não teve medo. “A morte não me assusta, é um risco do meu trabalho que encaro com naturalidade. Deixo nas mãos de Deus. Fui salvo por Ele, pelo profissionalismo e pelo meu treinamento”, explica. Evangélico, o policial tampouco pensou em usar sua pistola. “Quando um policial saca sua arma de fogo, não é para assustar, é para atirar. É o nosso último recurso”, diz ele, que se defendeu com o cassetete e agora pretende processar os envolvidos na agressão, que deixcou marcas em seus braços. “É para dar o exemplo. Que a justiça seja feita e que os clubes também façam a sua parte para coibir esse tipo de comportamento absurdo e inaceitável”, diz.