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“Não quero viver isso nunca mais”, diz bailarina do Theatro Municipal

Passada a crise que deixou os servidores com os salários atrasados, e até mesmo passando fome, Claudia Mota comemora espetáculo neste domingo (1°)

Por Redação VEJA RIO Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
29 jun 2018, 20h53
Claudia Mota - primeira bailarina - theatro municipal
(Felipe Lessa/Divulgação)

Primeira-bailarina do Theatro Municipal, Claudia Mota trabalha na instituição há mais de 21 anos, firme e forte apesar das turbulências. No ano passado, quando os servidores passaram meses sem receber seus salários, alguns sob ameaça de despejo e passando fome, ela foi para a rua protestar junto com o marido, também bailarino do Theatro. “Era como não poder ter a água para beber e o ar para respirar”, relembra. Moradora da Tijuca, a bailarina agora vibra com o retorno ao palco no espetáculo Joias do Ballet, que reúne três obras de célebres coreógrafos russos criadas na efervescente passagem entre os séculos XIX e XX. Dirigida por Ana Botafogo e Cecília Kerche, a montagem que estreou no fim de semana passado será encenada pela última vez no domingo (1º), às 17h, com a presença da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal e de alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (onde Claudia de formou).

Vencedora do Prêmio de Melhor Bailarina da América Latina, eleita pelo Conselho Latino-americano de Dança, Claudia já foi apontada por Natalia Makarova como um dos maiores talentos brasileiros da dança. Para a carioca, a volta do balé ao Theatro no final de semana passado foi uma das maiores emoções que já viveu. A última vez que ela havia dançado foi há um ano, em Carmina Burana, que reuniu todos os corpos artísticos para o movimento SOS THEATRO MUNICIPAL. “Nunca pensei em desistir. O Theatro Municipal me deu tudo o que tenho e o que sou hoje. Foi o que sempre sonhei. O cheiro de lá até hoje me fascina. No momento difícil que passamos, ele precisava de nós, de mim”, afirma a bailarina, embaixadora Internacional da Dança pela UNESCO.

Na época de maior dificuldade, o primeiro-bailarino Felipe Moreira, com quem Claudia trabalha diretamente, passou a dirigir Uber. Outros começaram a vender quentinha e bolos para sobreviver e pagar as contas. O barítono Leonardo Páscoa perdeu a vida: teve um infarto fulminante. “Não podemos afirmar, mas acreditamos que foi por causa de toda essa situação. Não fosse isso, talvez ele ainda estivesse vivo”, lamenta Claudia. “O ano de 2017 foi o mais difícil para todos nós. Foi um pesadelo do qual, graças a Deus, estamos saindo de cabeça erguida e com muito trabalho. Não quero viver isso nunca mais na minha vida”. Ao público, ela faz apenas um pedido: “continuem lotando a nossa plateia. O maior apoio que um artista pode ter é o retorno do seu público”.

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