Os artistas contemporâneos sabem que as redes sociais são potentes plataformas de divulgação de seus trabalhos e, nessa seara, os vídeos têm ainda mais apelo. De Beyoncé a Ludmilla, passando por Emicida, Diogo Nogueira e Marisa Monte, quem está antenado sabe que lançar um disco é apenas uma parte do trabalho.
Por isso, há, atualmente um boom de projetos audiovisuais, juntando letra, música e imagem. Tudo muito bem feito, é claro. A cantora Lila, amapaense de nascimento e carioca de coração e vivência, acaba de lançar o álbum Puérpera, que vem acompanhado de uma zine digital – recheada de textos e vídeos – sobre a jornada da maternidade e o duro processo de voltar a se reconhecer como mulher após se tornar mãe.
+ Para receber VEJA Rio em casa, clique aqui
No final de 2017, após lançar singles e um EP, Lila estava entrando em estúdio, já com cinco músicas prontas, quando descobriu que estava grávida. A experiência de gerar uma vida mexeu tanto com a artista que ela resolveu abandonar as canções já escritas e voltar todas as atenções para as mudanças que ocorriam no próprio corpo e mente. Os produtores Diogo Strausz, que já trabalhou com Alice Caymmi e BaianaSystem, e Tomás Tróia, parceiro de Duda Beat ao lado de Lux Ferreira, deram força.
As canções de Puérpera são um passeio sincero sobre as inúmeras sensações trazidas pela maternidade: o cansaço, os enjoos, a explosão de hormônios, a dor do parto, a melancolia que invade a mãe recém-nascida e a necessidade de reconexão com o corpo feminino. O gênero das canções é definido por Lila como MPB contemporânea que flerta com samba, trap e house.
+ Ludmilla: “Racistas não aceitam que cheguei ao topo”
“Grávida, percebi que fabricar um coração, um rim e um pulmão me deixava exausta. Transformei isso em música. O disco mudou a minha relação com o fazer artístico. Entendi que eu precisava passar por um longo processo de cura, de transformação. O puerpério é uma espécie de luto em relação ao que a mulher era antes de ser mãe. O álbum evidencia que passei por tudo isso”, explica a cantora de 39 anos, que também é vocalista do bloco de Carnaval Fogo e Paixão.
Em março de 2020, o disco estava pronto para ser lançado, no formato clássico, mas a pandemia, sempre ela, adiou os planos. Lila, o marido, o fotógrafo Pepe Garcia – criador do perfil Cartiê Bressão no Instagram – e o filho, Benedito, então com 1 ano e meio, se isolaram nas montanhas de Minas Gerais.
O cenário bucólico inspirou o casal a produzir imagens que dialogassem com as faixas de Puérpera, mas sem a obrigação de produzir videoclipes. Nascia, então, a zine, projeto digital que complementa o álbum.
+ Olimpíadas: carioca de 20 anos é a única atleta do Brasil no pentatlo moderno
“Por ficar tanto tempo na roça, prestando atenção ao tempo da natureza, percebi que o disco amadureceu em mim e surgiu a vontade de criar um visual para as músicas. Eu e Pedro pegamos a câmera, um pano vermelho e começamos a capturar imagens pela mata. O resultado é uma teia poética de melodias e imagens”, conta Lila.
“Sei que existe uma demanda do mercado para que os cantores não lancem seus trabalhos apenas em áudio. Subverti essa lógica criando uma revista digital em vez de clipes”, ressalta a cantora, que costuma dizer que a zine é a sua segunda filha.
A delicadeza com a qual ela trata os tabus da maternidade em Puérpera tem tocado outras mães, que se veem representadas pelas inúmeras sensações descritas nas letras. “Tenho recebido depoimentos emocionantes de mulheres com nenéns pequenos. As fraquezas, os medos e a necessidade de redescobrir a força da mulher são universais”, afirma a artista, que não pretende ter mais filhos.
+ Três esculturas para prestar atenção na mostra Estado Bruto, no MAM Rio
“O bebê demanda muito da mãe e nos isola do mundo. A pandemia potencializa isso ainda mais. Quando joguei a zine para o mundo fui atrás das pessoas mostrando a meu trabalho. A arte já nasce pronta para ganhar o mundo”, compara Lila.
Clique aqui para visualizar a zine Puérpera.