Criada com o propósito de ambientar os atletas noviços à competição mais portentosa do mundo, a Olimpíada da Juventude chegou ao fim de sua segunda edição na quinta passada (28). Disputada em Nanquim, na China, envolveu 28 modalidades e mais de 3.700 participantes entre 14 e 18 anos, de 204 países. Trata-se de um torneio considerado estratégico pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) na preparação para os Jogos de 2016. Desta vez, o Brasil faturou seis medalhas de ouro, oito de prata e uma de bronze – mais que o dobro das conquistas em Singapura, em 2010. Os resultados obtidos sinalizam o aparecimento de algumas belas promessas que têm tudo para despontar nas quadras, piscinas e campos cariocas daqui a dois anos. Apesar de corresponderem a apenas 20% da delegação nacional, os atletas do Rio tiveram presença marcante no pódio de Nanquim, como foi o caso do nadador Matheus Santana e da ginasta Flavia Saraiva (veja o quadro). “Nosso objetivo é tornar o Brasil uma potência olímpica, e quem foi a Nanquim é o futuro do esporte”, diz Marcus Vinicius Freire, diretor executivo do COB.
É sempre arriscado ser taxativo na avaliação de alguém muito jovem, em face da inconstância típica dessa fase. Mas Matheus Santana retorna da China com três medalhas no peito e o título de o novo fenômeno brasileiro das piscinas. Especialista no nado livre, ele venceu a prova dos 100 metros, quebrando seu próprio recorde mundial juvenil com o tempo de 48seg25, a quinta melhor marca do planeta. Matheus, inclusive, já derrubou um a um na categoria júnior os recordes de Cesar Cielo, o único brasileiro campeão olímpico de natação. Mas é aconselhável não se estender demais nesse paralelo. “É muito bom ser comparado ao Cielo, mas fico meio aborrecido com a insistência nisso. Ele já conquistou muita coisa, e eu estou começando agora minha história”, afirma. Com a infância vivida em Botafogo, Matheus desenvolveu sua aptidão na piscina do alvinegro carioca, mas desde o ano passado treina num clube de Santos. Como tantos garotos, começou a nadar para atenuar os sintomas de uma bronquite, e pegou gosto pelo esporte. Por ser diabético, tem de redobrar os cuidados com a alimentação.
Como é praxe nas competições – e que graça teria se não fosse assim -, os Jogos Olímpicos da Juventude revelaram surpresas. Convocada na última hora devido ao corte de uma titular da equipe de ginástica artística, Flavia Saraiva retorna ao Rio em um novo patamar, após ganhar três medalhas. Tornou-se uma grande aposta para 2016. Ela tem 1,31 metro de altura e os mesmos 14 anos com que a romena Nadia Comaneci mesmerizou o mundo na Olimpíada de 1976 com sua apresentação perfeita nas barras assimétricas. Devido a seu talento infantil para dar cambalhotas e piruetas, Flavia ingressou em um projeto social coordenado pela técnica de ginástica artística Georgette Vidor, e logo sobressaiu. “Montamos um plano de acompanhamento dessas novas ginastas, que já ganham das mais experientes”, afirma o diretor Marcus Vinicius. Agora, o maior desafio para esses jovens é controlar a ansiedade de estrear numa Olimpíada justamente em sua cidade natal. “Nadar no Rio, com toda a família na arquibancada e o povo torcendo, não tem nem como descrever”, diz Matheus. Que o sonho se concretize.