Há 25 anos, o preconceito contra os homens era grande na dança. Tanto que havia escassez de bailarinos no mercado brasileiro. Foi pensando nisso que a coreógrafa Regina Sauer, fundadora, em 1981, da Cia. Nós da Dança, criou o projeto Homens na Dança, que oferece bolsas de estudo integrais a jovens de baixa renda no Centro de Artes Nós da Dança, em Copacabana, sede da sua companhia. “Antigamente, havia rapazes que eram até expulsos de casa porque queriam ser dançarinos. Isso melhorou bastante, mas a participação deles ainda é minoritária, e até deficitária”, explica Regina, que não conta com nenhum apoio para custear a empreitada. Os professores são pagos pela escola. “Até tento arrumar patrocínio para bancar roupas e passagens, já que alguns interrompem o curso porque não têm dinheiro para o transporte, mas não tem sido fácil.”
Apesar das dificuldades, o projeto segue firme e forte. Anualmente, são disponibilizadas trinta bolsas, mediante uma audição seguida de um bate-papo em que os concorrentes contam sua história. Pesam na avaliação quesitos como a idade, as condições físicas e o potencial artístico. Como contrapartida, os escolhidos ajudam na produção dos espetáculos da companhia. Hoje, cerca de sessenta rapazes, entre 17 e 30 anos, fazem aulas duas vezes na semana. “Eles começam do zero e, durante três ou quatro anos, passam por todas as modalidades, do balé clássico à dança moderna. “Às vezes, a dança não está no corpo, mas 50% deles se desenvolvem bem”, atesta Regina, que, em mais de duas décadas, viu muitos meninos virar bailarinos, professores e coreógrafos profissionais. “O projeto é um grande incentivador e possibilita a eles arrumar emprego. Um dos ex-bolsistas mora em Miami há dezoito anos e tem a própria companhia. Outro está em Paris; atualmente, todos os bailarinos da Cia. Nós da Dança vieram do projeto”, conta.
O sucesso da iniciativa poderá ser medido durante a próxima edição do Rock in Rio. Os alunos de Regina, que já assinou a coreografia da abertura do Fantástico e do Criança Esperança, mostrarão números inspirados em filmes musicais, como Grease, Os Embalos de Sábado à Noite e Footloose, nos sete dias do festival. “O diferencial será a interatividade. O público vai ser chamado para participar dos espetáculos com os bailarinos”, adianta Regina, que é a criadora de todos os passos das apresentações.