Praticante de judô desde os 6 anos, Ricardo Lucio tem verdadeira paixão pelo esporte: mesmo não tendo seguido carreira como atleta profissional, decidiu fazer faculdade de educação física para continuar dedicando-se regularmente a essa arte marcial. Enquanto ainda estagiava em uma academia, ele teve o primeiro contato com alunos portadores de deficiência, já que nas turmas havia jovens com síndrome de Down. Interessado nesse trabalho de inclusão, Ricardo ficou consternado ao se dar conta de que esses potenciais atletas não recebiam a atenção merecida. A razão é simples: no judô, a categoria paralímpica só inclui cegos. “Por isso, os demais deficientes tinham de competir com atletas regulares. As limitações físicas e mentais os deixavam em desvantagem e eles acabavam não desenvolvendo o seu potencial”, diz. No fim de 2012, ao conseguir um cargo na Confederação Brasileira de Judô (CBJ), como membro da comissão técnica da seleção principal, Ricardo pediu autorização à diretoria para montar uma equipe de portadores de necessidades especiais para representar o Brasil em competições no exterior. O aval foi concedido, mas com a ressalva de que as prioridades de investimento eram na equipe de alto rendimento. Ou seja, o treinador deveria, por conta própria, correr atrás de patrocínios. Para realizar esse trabalho de inclusão, ele criou o Movimento Judô para Todos, cuja atuação começa ainda nas academias, com o estímulo à integração de atletas com diferentes tipos de deficiência.
“O judô pregao bem-estar mútuo. O que é bom para mim também deve ser para o próximo”
Nesses dois anos, a atividade de olheiro de Ricardo, que chega a buscar judocas até por meio das redes socais, fez com que o projeto se estendesse do Rio de Janeiro para outros quatro estados. Hoje, a equipe brasileira conta com vinte atletas com participação crescente em competições. As mais recentes conquistas aconteceram no início de novembro, no Dutch Open Special Needs Judo e no International G-Judo Tournament, ambos na Holanda, de onde o grupo voltou com três ouros, uma prata e quatro bronzes. “Um dos princípios do judô é o jita-kyoei, que prega o bem-estar mútuo. O que é bom para mim também deve ser para o próximo. Por isso, sinto muito prazer nesse trabalho, mesmo com as dificuldades”, diz o professor. “Minha meta é conseguir montar uma coordenadoria dentro da CBJ que administre isso e leve o movimento a todo o país, com mais investimentos.”
+ Henrique Saraiva fundou a ONG Adaptsurf, que promove o surfe adaptado para pessoas com deficiência