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Rock in Rio se transforma na Disney da música

Com 500 atrações por dia e o dobro do tamanho, a 17ª edição do festival receberá o público com a estrutura de um grande parque temático

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 11 set 2017, 21h39 - Publicado em 8 set 2017, 10h33
rock in rio 2017 - cidade do rock
A nova Cidade do Rock: 300 000 metros quadrados e 14 horas diárias de diversão (QUE VISTA!/Veja Rio)

O encantamento começa ainda na fila, do lado de fora, quando pequenas bandas celebram o momento tocando clássicos nacionais e internacionais. Ao atravessar a roleta, o visitante entra direto em uma tenda com projeção de luzes, som de sucessos mesclados com aplausos e um aroma, feito especialmente para a ocasião, que tem a intenção de remeter a um clima de comemoração, alegria e otimismo. Mais alguns passos e descortina-se um mundo de magia. Grandes brinquedos, ruas cenográficas, palcos temáticos, games de última geração, simuladores, desfile de personagens e lojinhas de suvenires compõem o cenário. Não, não se trata do Magic Kingdom ou do Epcot Center, dois ícones do complexo de parques em Orlando, na Flórida. Nesta edição, está mais claro do que nunca que o Rock in Rio extrapolou a fronteira do festival e virou uma verdadeira Disney da música. Estrelas mundiais como Lady Gaga, Justin Timberlake, Bon Jovi e Guns N’Roses estarão lá, mas terão a companhia de uma avalanche de atividades capaz de agradar do pai ao filho. Serão cerca de 500 atrações por dia, 150 delas concentradas nos oito palcos do evento. A orientação é que o público chegue cedo. Mas, mesmo se os portões fossem abertos de manhã (o horário oficial é 2 da tarde), seria impossível ver tudo. Como nos parques temáticos, o visitante sairá com gostinho de quero mais. “O evento será uma lufada de esperança na cidade. O público se surpreenderá com a dimensão e a quantidade de novidades. Quando se somam tantos detalhes é que surge a magia”, diz o idealizador do festival, o empresário Roberto Medina.

Ousado desde a sua concepção, no lendário verão de 1985, o Rock in Rio se agigantou. Maior e mais completa edição da sua história, a festa deste ano vai se espraiar por 300 000 metros quadrados, o dobro do espaço de 2015. Abandonados após o fim dos Jogos, o Parque Olímpico e sua área de apoio, onde era prevista a construção de um novo bairro, ressuscitarão como Cidade do Rock. Em cada um dos sete dias de diversão são esperadas 100 000 pessoas, 15 000 a mais em comparação com a capacidade anterior. Tratar o evento como apenas um grandioso espetáculo musical, de fato, não dá mais a sua dimensão. Serão 14 horas diárias ininterruptas de entretenimento, da abertura até as 4 da manhã (duas horas a mais em comparação com a última edição). Fora a programação dos tradicionais palcos Mundo, Sunset, Eletrônico e Street Dance, e os brinquedões à disposição, como a roda-gigante e a tirolesa, o Rock in Rio 2017 impressiona pela diversidade. Entre as estruturas debutantes está o Digital Stage, um palco que trará para o mundo real celebridades do universo on-line, como Whindersson Nunes, com quase 23 milhões de seguidores no YouTube. Além de dispor das habituais lanchonetes, o complexo contará com o Gourmet Square, inspirado no Mercado da Ribeira, de Lisboa. Refrigerado e com capacidade para 630 pessoas sentadas, o local terá catorze opções gastronômicas, algumas assinadas por chefs como Roberta Sudbrack, Pedro Benoliel e Ogro Jimmy. “A dinâmica é cada vez mais parecida com a de um parque temático, mas sem nunca perder a música como fio condutor”, ressalta Roberta Medina, vice-­presidente do Rock in Rio.

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Rock District: apresentações da Cia. Nós da Dança inspiradas em grandes musicais (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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A exemplo da terra do Mickey, o objetivo do parque é surpreender o público a cada instante. A rua temática agora ganhou duas versões. Na Rock Street África, com lagos artificiais e lojas em forma de casinha, haverá um palco para shows de música africana e performances na rua. Grupos de dança, percussão e um coral de refugiados se revezarão na segunda missão, junto com casais vestidos de reis e um elefante cenográfico em tamanho real. Outra rua, a Rock District, também vem com surpresas em série. Como a calçada da fama de Hollywood, seu piso ganhou estrelas com nomes de artistas e, as paredes, um muro com moldes — reais — das mãos de astros que vão da banda Iron Maiden ao jovem Shawn Mendes. Intercaladas com shows de artistas como Rogério Flausino e Dinho Ouro Preto, o local terá apresentações da Cia. Nós da Dança inspiradas em musicais do cinema e de grupos de passinho. A alguns metros dali, perto da entrada do complexo, a diversão fica a cargo de uma das principais novidades deste ano: a Game XP, que contará com a maior tela de jogos eletrônicos do mundo — 75 metros de largura por 20 de altura. Na estrutura, criada em parceria com a Comic Con Experience, feira de cultura pop, e instalada nas Arenas 1 e 2, os visitantes vão poder testar novos jogos, brincar num cenário que reproduz fases de um game, participar de batalhas virtuais e por aí vai. “Como uma plataforma de experiências, o Rock in Rio não pode ficar alheio a grandes tendências”, diz Roberta Coelho, diretora de novos negócios da marca. “Não tenho dúvidas de que o lugar surpreenderá não só os aficionados como o público em geral”, acrescenta Roberto Fabri, diretor de marketing da Comic Con.

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(Divulgação/Veja Rio)

A construção de um complexo grandioso e que carregue o encanto dos parques temáticos implica uma logística hercúlea. Para se ter a dimensão do trabalho, são mais de 80 000 metros quadrados de grama sintética e 120 quilômetros de cabos. Só nas operações de atendimento ao público foram credenciadas 20 000 pessoas. Para que toda a engrenagem funcione como o esperado, a Cidade do Rock se transformou em uma smart city. Tudo é monitorado por um centro de controle, da segurança à limpeza, passando pelo consumo de água e internet. Pela primeira vez haverá painéis nas entradas dos banheiros indicando, em tempo real, os locais com menos filas. Outra inovação são as plataformas interativas, iguais a um tablet gigante, onde se acessarão informações atualizadas sobre tudo o que acontece no Rock in Rio. Os aparelhos têm ainda molduras temáticas para selfies. A dobradinha de tecnologia e entretenimento, de fato, é a marca desta edição. Diariamente, num intervalo das apresentações do palco Mundo, 100 drones riscarão o céu do local. Operado por técnicos austríacos, o show nunca foi visto na América Latina. Para a queima de fogos, que também será a maior da história do festival, haverá sete balsas instaladas na Lagoa de Jacarepaguá. Às atrações oficiais se somam ativações feitas pelos principais patrocinadores da festa, entre eles Itaú, Heineken e Sky. A Coca-Cola, por exemplo, montará uma espécie de karaokê gigante. “O Rock in Rio ampliou seus horizontes. É uma experiência cada vez mais eclética, para todos os públicos, gostos e idades”, reforça Luís Justo, CEO do evento.

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Roberto Medina, criador do Rock in Rio: inspiração nos parques da Disney (GRUPO PRISA/DIVULGAÇÃO/Veja Rio)

Criar uma fórmula de sucesso, que se mantenha inovadora ao longo dos anos e atraia fãs no mundo inteiro, definitivamente, está longe de ser uma equação fácil. Tanto que todos os anos milhares de pessoas vão a Orlando só para participar do Disney Institute. Durante uma semana, frequentam seminários e workshops para conhecer o negócio por trás da magia. Semelhante ao curso oferecido pela meca da diversão, o Rock in Rio Academy terá sua segunda edição neste ano. Criada em parceria com a HSM Educação Executiva, que organiza alguns dos maiores eventos de gestão do país, a imersão na cultura do festival de entretenimento se concentra em um dia, entre os dois fins de semana de shows — 19, para o público em geral, e 20, reservado a grupos empresariais (com valor a partir de 2 450 reais). Como entender que a cada realização do evento, que está em sua 17ª edição, incluindo versões em Lisboa, Madri e Las Vegas, os ingressos se esgotam mais rápido? Como uma marca, idealizada numa noite insone de Roberto Medina, se multiplicou em 700 produtos licenciados, de lasanha a bicicleta? Além de acompanhar palestras com executivos do grupo, o participante conhecerá os bastidores da Cidade do Rock e terá uma aula com o idealizador da festa em cima do palco Mundo. “O programa mostra todo o modelo de negócio, do sonho à sua execução, com rigor e criatividade”, resume Denis Garcia, diretor de novos negócios da HSM. “Não é um curso para ensinar a fazer um festival, mas que se aplica a profissionais de qualquer área”, completa Agatha Arêas, diretora de marketing da marca.

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(Divulgação/Veja Rio)
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O momento do primeiro Rock in Rio, há 32 anos, guarda muitas semelhanças com o atual. Hoje, como ocorreu naquela época, o Rio está assolado por uma crise econômica, de segurança e de esperança. Defensor da cidade onde nasceu, Roberto Medina acompanha os últimos detalhes da Cidade do Rock enquanto se empenha para pôr de pé outro ambicioso projeto: um calendário de eventos que alavanque o poder de atração de sua terra natal e renda recursos à economia. Uma ambiciosa ofensiva de marketing, com campanhas nas esferas municipal, estadual e federal, também está no cronograma. “O Rio não tem plano B. Precisamos de uma política pública de turismo. Isso vai resultar em mais hospitais, mais escolas, mais recursos”, defende. Só o Rock in Rio, que neste ano teve 65% dos seus ingressos vendidos a pessoas de fora do estado, deve injetar 1,4 bilhão de reais na economia carioca. Antes mesmo do soar dos primeiros acordes e de a maratona de diversão começar, o empresário já planeja novidades para 2019. A próxima edição deve ter uma rua temática inspirada em uma favela carioca. A ideia é, através de concursos, escolher destaques musicais e gastronômicos daquele universo. Como seu ídolo, que não poderia ser ninguém menos que Walt Disney, Medina sabe que a essência dos parques se aplica perfeitamente ao seu negócio. A cada temporada ou edição — neste caso — é preciso aprimorar a estrutura existente e apresentar novas atrações que fascinem o público.

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Rock Street África: atores caracterizados como reis africanos e um elefante articulado em tamanho real (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)

 

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