Os dois são baianos, mas você conheceu Raul Seixas no Rio. Como foi esse encontro?
Era 1983, o Camisa ia fazer um show no Circo e a Maria Juçá (diretora da casa) disse que ele estava chegando para ver nossa apresentação. Para minha surpresa, ele apareceu mesmo, e eu o convidei para subir ao palco. Fizemos um medley de canções dos anos 50, e a partir daí se estabeleceu entre nós uma amizade que só acabou quando ele faleceu.
Os problemas com a censura foram outro ponto em comum entre vocês?
Era divertido. O Camisa tem um álbum, Viva, com uma série de palavrões. Aliás, foi o primeiro disco na música brasileira com palavrão, antes disso só o “bosta” que Chico Buarque colocou em Geni e o Zepelim. Eu tinha visto uma peça de Plínio Marcos em Salvador, Dois Perdidos numa Noite Suja, e, quando ele soltava aqueles palavrões, aquilo chocava e enrubescia as bochechas da classe média baiana e provinciana. Eu pensei: “Uau, se ele fez isso com o teatro, talvez eu possa fazer com a música”. Quando você toma uma topada, não diz “ai, meu Deus, que infelicidade, machuquei meu dedão”. Então nós tivemos álbuns apreendidos pela censura nessa época. Foi o primeiro disco de ouro da carreira do Camisa, e a censura federal contribuiu para isso. Com Raul também tinha essa coisa, vide o Rock das Aranhas. Nós nos divertimos muito, nunca levamos a sério.
Você já ouviu em algum show o célebre pedido “Toca Raul!”?
Desafio quem não tenha ouvido ainda. Em 1989, nós gravamos juntos o Panela do Diabo. Em 2014, pensei que os 25 anos do disco eram motivo para uma turnê comemorativa. Logo nos primeiros shows houve o retorno do Camisa, após vinte anos sem gravar um disco de inéditas. Agora, depois que fizemos a turnê da volta e lançamos Dançando na Lua, no ano passado, podemos atender ao “Toca Raul”. O repertório traz canções que compusemos juntos e outras da carreira-solo dele, sem distinção de disco ou época, além de clássicos do Camisa.
› Camisa Toca Raul (abertura: The Baggios). Circo Voador. Arcos da Lapa, s/nº, Lapa. Sábado (18), 22h. R$ 100,00.