O novo alvo do capitão Nascimento
Lançado neste mês nos EUA, Tropa de Elite 2 está numa campanha ferrenha para se tornar a quinta produção nacional a disputar o Oscar de melhor filme estrangeiro
Depois de enfrentar traficantes e milicianos, o capitão Nascimento, super-herói em carne e osso interpretado por Wagner Moura, está diante de uma nova missão que exige esforço concentrado e muita munição. Em vez de em becos e vielas, a praça de guerra é em Hollywood. Tropa de Elite 2: o Inimigo Agora É Outro (como aparece nos letreiros americanos, Elite Squad: The Enemy Within) concorre com outros 62 títulos de diversas nacionalidades a uma vaga de finalista do Oscar de melhor filme estrangeiro. A campanha está deflagrada. Entrevistas, jantares, recepções e sessões com figurões do showbiz estão na agenda do cineasta José Padilha. Ele embarcou para os Estados Unidos há duas semanas, a fim de acompanhar o lançamento do longa, que estreou no dia 11 em Nova York e na última sexta (18) em Los Angeles, com previsão de chegar a outras doze cidades. “Como a qualidade dos concorrentes é boa, a disputa se torna um pouco imprevisível”, desconversou o diretor brasileiro em uma coletiva recente com jornalistas americanos.
De fato, são muitos os obstáculos a ser superados até a grande noite da premiação, marcada para 26 de fevereiro, no Kodak Theatre, com a apresentação de Billy Cristal (veja o quadro na pág. 40). Logo na largada, Padilha se vê em desvantagem diante de concorrentes consagrados, caso do diretor finlandês Aki Kaurismaki e do chinês Zhang Yimou, ambos já indicados ao prêmio em edições passadas. Portanto, para ser bem-sucedido em seu objetivo, o cineasta terá de usar uma verdadeira tática de guerrilha. Na página do filme no Facebook há uma mensagem convocando voluntários residentes nos Estados Unidos para distribuir panfletos e colar cartazes. Enquanto aguarda a formação desse “exército Brancaleone”, o diretor faz um corpo a corpo para atrair a mídia e, consequentemente, os eleitores. Palavras elogiosas nos veículos especializados contam pontos preciosos e ajudam a despertar atenção para a fita. Nesse item, a produção foi saudada pelo New York Times por sua capacidade de entreter a plateia com cenas de ação eletrizantes. As revistas Hollywood Reporter, Entertainment Weekly e Time Out foram mais efusivas nos elogios, destacando a atuação de Wagner Moura.
A Academia de Cinema de Hollywood reúne 6?000 componentes, entre produtores, diretores, artistas e técnicos. Porém, apenas um grupo de 300 integrantes da comissão de filme estrangeiro tem a incumbência de selecionar os finalistas da categoria. Para facilitar o trabalho deles, cada candidato é exibido numa sessão fechada. A de Tropa de Elite 2 será no dia 3 de dezembro, um sábado, às 11h20 da manhã, no Teatro Samuel Goldwyn, em Beverly Hills. Causar uma boa impressão e cair nas graças de algum figurão torna-se uma tarefa extraordinária para atingir o objetivo. Foi o que ocorreu com Central do Brasil, lançado em 1998. O longa de Walter Salles acabou apadrinhado pelo produtor suíço Arthur Cohn, do gigante Sony Classics, e disputou as estatuetas de melhor filme estrangeiro e melhor atriz (Fernanda Montenegro) na cerimônia do ano seguinte. Empenhado em conquistar simpatias, Padilha vem participando de festivais e eventos sociais com a presença de acadêmicos. A distribuidora Variance, responsável pela colocação do filme no mercado dos Estados Unidos, contratou uma empresa de relações públicas especializada nos meandros de Hollywood, numa campanha cujos custos podem chegar a 150?000 reais. Como parte da estratégia, Tropa 2 foi exibido em junho no Festival de Los Angeles, que teve o encerramento feito por Don’t Be Afraid of the Dark (Não Tenha Medo da Escuridão, em tradução livre), longa produzido por Mark Johnson, simplesmente o todo-poderoso presidente da comissão de filme estrangeiro. Outro empecilho que Padilha terá de driblar é a conhecida aversão desse reduzido grupo, que reúne atuantes senhores de 60 a 80 anos, pela temática da violência. Para evitar injustiças gritantes na reta final do processo, uma equipe de vinte pessoas, tendo à frente Mark Johnson, escolhe três filmes, que se juntam aos seis mais bem votados pela comissão. Dessa lista de nove títulos são extraídos os cinco finalistas. Na fase seguinte, a decisiva, todos os acadêmicos estão aptos a participar.
Nesse universo de Hollywood, em que vigoram regras e códigos peculiares, o desempenho pregresso do filme é uma credencial de menor valia. Para efeito da disputa, pouco importa que Tropa de Elite 2 tenha batido o recorde de público no Brasil e de bilheteria na América do Sul, com faturamento de 102 milhões de reais. São predicados que os acadêmicos não costumam levar em consideração na hora de pinçar os finalistas de filme estrangeiro, um privilégio que apenas quatro produções nacionais já tiveram, embora nenhuma tenha vencido: O Pagador de Promessas (1962), O Quatrilho (1995), O que É Isso, Companheiro? (1997) e Central do Brasil (1998). Tropa de Elite 2 pode ser o próximo. Afinal, para o capitão Nascimento, missão dada é missão cumprida.