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Tunga ganha primeira exposição após a sua morte

Com 200 obras, atração no MAR abrange um lado quase desconhecido da carreira do artista que transformou a cena contemporânea

Por Renata Magalhães
Atualizado em 22 jun 2018, 08h00 - Publicado em 22 jun 2018, 08h00
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  • Antigo palácio de reis e rainhas, aberto no fim do século XVIII, o Louvre é o maior museu de arte do planeta. Dividir o teto, e as atenções do público, com a Mona Lisa, a Vênus de Milo e outros muitos tesouros de importância histórica inatingível é, naturalmente, façanha para poucos. Pois bem: em 2005, um brasileiro tornou-se o primeiro artista contemporâneo convidado a exibir seu trabalho no prestigiado cartão-postal parisiense. A proeza na França é notável, mas foi apenas uma das várias surpresas causadas por Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o Tunga (1952-2016). Dois anos após sua morte, o criador libertário, influência reconhecida para contemporâneos e sucessores na arte brasileira, volta a protagonizar uma exposição. Na mostra Tunga — O Rigor da Distração, em cartaz a partir de sábado (30) no Museu de Arte do Rio (MAR), o assombro se renova. A maioria das obras escolhidas, produzidas desde 1975, é inédita.

    Desenhos dominam o acervo, selecionado e organizado em ordem cronológica. Nessa lista estão sete raros estudos para À Luz de Dois Mundos, monumental instalação com 3 toneladas de bronze, aço e ouro, sustentadas por fios trançados, apresentada no Museu do Louvre. A coleção particular do artista norteou o trabalho dos curadores Luisa Duarte e Evandro Salles. “É curioso perceber como uma mesma ideia foi explorada por ele em variadas frentes, mas sempre tendo o desenho como base de elaboração”, observa Salles, que é diretor cultural do Museu de Arte do Rio. Outra escolha da dupla foi a série de esboços da instalação True Rouge, a primeira aquisição do empresário Bernardo Paz para o Inhotim, monumental centro de arte contemporânea em Minas Gerais. Tunga, homenageado com a acomodação de suas obras (À Luz de Dois Mundos, inclusive) em um dos mais belos pavilhões que ocupam o parque, foi incentivador de primeira hora do projeto. No MAR, a celebração póstuma, realizada doze anos após sua última individual no Rio, vai contar com esculturas, filmes, fotografias e textos (veja outros destaques abaixo).

    Através da exposição, organizada com itens cedidos por ele, Antonio Mourão pretende jogar luz sobre o Instituto Tunga, que criou no fim do ano passado para a preservação e a difusão da obra de seu pai. “Eu tinha noção de sua importância, mas só agora, estudando o que ele deixou, compreendo a amplitude de seu trabalho”, conta o herdeiro. Nordestino radicado no Rio — “Nasci em Palmares, Pernambuco, ao mesmo tempo em que nasci no Rio de Janeiro, no mesmo dia e hora”, escreveu —, Tunga é filho do poeta Gerardo Melo Mourão (1917-2007). Em 1974, concluiu o curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Santa Úrsula e montou sua primeira individual, Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna. No caminho aberto por Lygia Clark e Hélio Oiticica, e ao lado de nomes como Waltercio Caldas e Cildo Meireles, explorou a performance, novos suportes e o corpo como forma de expressão, construindo uma gramática muito particular e carregada de simbolismo. Antonio Mourão anda penando com o processo de catalogação. “Não temos ainda como estimar o tamanho do acervo do instituto. Cada vez que abro uma cômoda, encontro uma gaveta com 1 000 desenhos”, diz. Vem mais surpresa por aí. ß

    Tunga
    (Daryan Dornelles/Oscar Cabral/Ratão Diniz-FolhaPress|/Divulgação)
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