A oportunidade de, no mesmo passeio, visitar obras-primas de vários museus famosos leva turistas do mundo inteiro a Paris, entre outras capitais europeias. É, portanto, uma chance de ouro a que se apresenta para o público carioca interessado em arte: a caminhada enriquecedora pode ser feita por aqui mesmo, ao longo de uns poucos quarteirões do Centro. Neste momento, dividem espaço no circuito de exposições da cidade Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem, na Caixa Cultural — rica coleção de trabalhos do gênio espanhol trazida da instituição que recebe seu nome na capital francesa —, e O Triunfo da Cor, no Centro Cultural Banco do Brasil, repleta de criações de mestres do pós-impressionismo oriundas dos prestigiados museus D’Orsay e L’Orangerie. Está bom? Vai melhorar. Também no CCBB, abre as portas na terça (11) Mondrian e o Movimento De Stijl, um mergulho profundo na produção holandesa que teve como maior expoente o pintor Piet Mondrian (1872-1944).
A atração mais recente nessa lista de dar inveja tem acervo cedido pelo Museu Municipal de Haia. Curiosidade: vieram do mesmo endereço as obras de O Mundo Mágico de Escher, exposição montada no CCBB que foi consagrada como a campeã mundial de público em 2011. Desta vez, os espectadores serão apresentados ao movimento que, em reação às atrocidades da I Guerra Mundial, procurou formas de mudar o mundo (para melhor, evidentemente) por meio da arte. Designers, arquitetos e artistas plásticos uniram forças, em 1917, para lançar a revista De Stijl (O Estilo, em português). A publicação, em preto e branco, com apenas 1 000 exemplares, deu origem à escola neoplasticista, da qual Mondrian é o mais famoso representante. Trinta obras suas serão expostas na mostra, ao lado de trabalhos de setenta de seus contemporâneos, no maior acervo do gênero já exibido na América Latina. “Vieram trabalhos de fases pouco conhecidas, mas repletas de obras-primas. Mondrian sempre esteve em busca de uma linguagem que priorizasse o essencial e teve uma longa carreira, cheia de influências, antes de se encontrar no Stijl”, afirma o curador Pieter Tjabbes.
Ao passeio propriamente dito: depois de conferir desenhos, telas e esculturas que cobrem vários períodos da trajetória de Pablo Picasso na Caixa Cultural, os interessados levam menos de quinze minutos de caminhada para chegar ao CCBB. Ali, pinturas de Mondrian dividem espaço com projetos de arquitetura, maquetes, mobiliário, fotos e publicações inspirados pelo conceito de “arte total”, de cores primárias e clareza de intenções. No andar de baixo, vejam que luxo, O Triunfo da Cor exibe, até o dia 17, telas de Paul Gauguin, Vincent van Gogh e Paul Cézanne, entre 75 obras trazidas da França. A mostra passou dos 620 000 visitantes. Na Caixa, a bela exposição com 138 criações de Picasso tem tudo para fazer o mesmo sucesso, ainda que atrapalhada pela greve dos bancários, que limita a visitação de segunda a sexta ao período entre 18 e 21 horas — nos fins de semana, as portas se abrem às 10 horas. “É impressionante, e positivo, notar que o investimento em arte e o padrão das exposições foram preservados, mesmo em momento de crise”, observa Luiz Camillo Osorio, crítico e ex-curador do Museu de Arte Moderna. Na terça (11), às 22h30, quando Mondrian e o Movimento De Stijl passa a receber para o público, começam as comemorações do 27º aniversário do CCBB, celebrado no dia seguinte. A festa inclui a extensão do horário de visitação madrugada adentro, em um dos conhecidos “viradões” que agitam o espaço. Coisa de primeiro mundo.
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