AVALIAÇÃO ✪✪✪
Do alto de seus 60 anos de idade e quarenta de carreira, Aderbal Freire-Filho poderia manter-se na zona de conforto. Bastava escolher um clássico que pegasse bem para um artista maduro representar e marcar dessa forma seu retorno ao centro do palco, após uma década de afastamento. Isso não acontece no monólogo dramático Depois do Filme, texto que escreveu, interpreta e dirige. Ele ousou voltar a Ulisses, seu papel no longa Juventude (de 2008, em coautoria com Domingos Oliveira e Paulo José), trazendo desdobramentos do personagem de meia-idade e em crise. No cinema, três amigos se reencontram no aconchego de uma casa em Petrópolis, onde fazem um balanço de suas relações amorosas e familiares. David (Paulo), um rico engenheiro, é dono da propriedade na serra. Antônio (Domingos) é um bem-sucedido escritor, diretor de teatro e cinema, enquanto Ulisses é um médico cardiologista mal pago e lotado em um hospital de São Gonçalo.
Na encenação, Aderbal adota estilo naturalista, mesmo quando representa outros tipos, como a fogosa namorada boliviana. A narrativa se desenvolve como se o protagonista fosse um cineasta explicando seu roteiro, lançando mão de adereços para ilustrar as passagens. Dessa maneira, Ulisses cativa a atenção da plateia. Indo e vindo no tempo, em um momento caminha por locais que frequentava quando jovem, a exemplo do Cine Vitória, no Centro, em cuja tela deseja entrar para bancar Burt Lancaster ? mas cai na real depois de ser interpelado por um guarda. Trata-se de um interessante exercício de interpretação.
Depois do Filme (70min). 14 anos. Estreou em 13/5/2011. Teatro Poeirinha (70 lugares). Rua São João Batista, 104, Botafogo, ☎ 2537-8053. Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 30,00. Bilheteria: a partir das 15h (sex. a dom.). IC. Até dia 26.