AVALIAÇÃO ✪✪✪
Quem aprovou o tom politicamente incorreto de Borat deve gostar da comédia Santa Paciência. Se naquele filme o ator Sacha Baron Cohen provocou convulsões na comunidade judaica ao satirizar as próprias origens, agora o humorista judeu da TV inglesa David Baddiel faz praticamente o mesmo com o roteiro de seu primeiro longa-metragem. Em um registro demolidor dirigido por Josh Appignanesi, tanto judeus como mulçulmanos são espinafrados e não sobra pedra sobre pedra.
Na trama, o ótimo ator Omid Djalili interpreta Mahmud Nasir, um quarentão que mora em Londres ao lado da mulher e dos dois filhos. Muçulmano moderado, ele frequenta a mesquita, mas não pratica as cinco orações diárias, comuns em sua religião. Embora feliz em família, Mahmud anda contrariado: seu primogênito (James Floyd) quer se casar com uma moça cujo padrasto (Yigal Naor) é um intransigente militante islâmico. Os dias do protagonista vão, porém, se tornar mais cinzentos, motivo para a plateia cair no riso. Ele descobre ter sido adotado e, em premissa original, que suas raízes são… judaicas. Ao saber da existência de seu pai biológico, vai atrás dele. Contudo, antes do encontro, Mahmud terá de aprender mais sobre o povo judeu. Para isso, pede ajuda a Lenny Goldberg (Richard Schiff), irreverente taxista americano, antes um declarado inimigo, depois seu único e fiel confidente.
“O que você sabe sobre judeus?”, pergunta um severo rabino. “Eles têm nariz grande”, responde Mahmud. Essa é apenas uma das piadas mordazes de uma história cheia de acidez. O tiro certeiro mira ambos os lados. Judeus e muçulmanos são apresentados de forma até estereotipada em nome de um enredo sobre a tolerância racial. A graça vira draminha existencial nos minutos finais, acenando para um impasse. Felizmente, prevalecem a ironia, a inteligência e o bom humor.
Santa Paciência, de Josh Appignanesi (The Infidel, Inglaterra, 2010, 105min). 12 anos. Estreou em 20/5/2011. Estação Sesc Barra Point 2, Estação Sesc Espaço 2, Estação Sesc Ipanema 1, Estação Vivo Gávea 3.