Nos dias 27, 28 e 29 de outubro, a Praça Mauá será palco de um reencontro global de potências femininas. Com foco em enfatizar questões que ainda afligem as mulheres brasileiras e do Rio de Janeiro, a 2ª edição presencial do FESTIVAL WOW RIO 2023 promove três dias de diversas atividades artísticas e culturais, totalmente gratuitas. O evento, organizado e produzido por mulheres, traz em sua programação debate sobre as mais diversas pautas femininas, performances, exposições, oficinas e uma feira voltada às empreendedoras cariocas.
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A feira Negócios Delas, que recebeu mais de 200 inscrições, 150 delas de empreendedoras locais, foram selecionadas por meio de edital. Este módulo do evento foca em um dos grandes desafios do gênero, que é o de empreender. Uma das expositoras selecionadas é Alexia Sant’Anna, 45 anos, secretária executiva de formação, CEO e artista visual criativa da Mimos Bantu Nagô Afro Art Décor Ancestral.
A marca, que existe desde 2017, nasceu da vontade e necessidade de atender a demanda de pessoas que buscam identidade e conceito na decoração de seus lares e espaços. A paixão de Alexia pelo o que faz é evidente em suas peças, mas, para enfrentar os desafios diários, ela se baseia em sua compreensão de que “ser mulher empreendedora necessita de equidade, cuidados e respeito no dia a dia, onde entregamos o nosso melhor, nos dá luz e força na caminhada”. Para ela, participar do Festival WOW é um marco tanto coletivo quanto individual. “É uma das maneiras de corroborar com a sinergia do feminino em ação, em todas as suas conjunturas e formas de expressão. É necessário ensinar e praticar Ubuntu – sou porque nós somos!”, afirma
No Festival WOW, outra expositora que levará sua história e trabalho para o evento é Maria Elizabeth Araújo, mais conhecida como Betinha, 58 anos, uma gastrônoma e fundadora do Denguinhos de Vó, criada em 2018. A trajetória de Betinha tem inspiração em sua avó materna, Maria Emília, uma mulher batalhadora que trabalhava como caseira em Teresópolis, região Serrana, e em casas de família. “Minha avó era uma mulher guerreira. Além de cuidar da chácara, de mim e outros primos, filhos e noras, fazia deliciosas comidas e compotas”, conta. Elizabeth tem a lembrança da bacia de alumínio, onde dona Emília colocava farinha,açúcar e água, cobria com um pano de prato branquinho e deixava no sol para fermentar e depois assar na lenha.
São essas memórias que se encontraram com sua história e inspiraram a relação de afeto através do alimento com sua netinha Manuella, 5 anos. Hoje, ela compartilha essa relação de carinho com seus clientes, que podem comprar pães de fermentação lenta embalados em panos de pratos quentinhos. Quando questionada sobre os desafios de empreender, ela dispara: “Os obstáculos são grandes. A mulher que trabalha fora é mais respeitada do que a que trabalha em casa. Mas o fato é que todas mulheres têm tripla jornada”, desabafa. Em uma roda de conversa com outras empreendedoras, ela se surpreendeu com os relatos de mulheres que perdem o sono para finalizar uma produção ou uma tarefa doméstica. “Estar em um evento desse porte e liderado por mulheres é muito importante e traz na essência suas demandas em todas as áreas” finaliza.
No auge dos seus 34 anos, a artesã e cuidadora de idosos, Kaynna Reis Xavier, conta que a sua marca Use Flores Ser foi criada em 2019 com inspiração em outra mulher empreendedora e com muito apoio de outras mulheres – entre amigas e clientes que se apaixonaram pelas peças produzidas. Os acessórios de base floral refletem a paixão de Kaynna pela natureza e a vontade de enaltecer a beleza feminina. “A variedade em produtos ecoa a diversidade da vida e a pluralidade, celebrando a individualidade de cada um. A Use Flores Ser é mais que acessório, é a confirmação em forma de beleza. Minha paixão por flores inspira a criar peças que não apenas adornam, mas também transformam”, diz.
A empreendedora conta que o maior desafio de ser artesã é a desvalorização do trabalho devido ao costume dos clientes consumirem em grandes empresas e suas produções em massa. “Os eventos voltados a nós, empreendedoras, fortalece, reconhece e apoia. São movimentos necessários para o amadurecimento e crescimento de tantas marcas pequenas”, reflete.
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O Festival, que tem curadoria da ONG Redes da Maré, inicia nesta sexta (27) com a presença de Eliana Souza (Redes) e Jude Kelly (WOW Reino Unido), no auditório do Museu do Amanhã. Para Eliana, compreender a importância que as mulheres têm historicamente nas lutas e transformações mundo afora é fundamental para a reparação necessária quando se fala em equidade de gênero. “Ao mesmo tempo as mulheres têm criado resiliência e demonstrado o seu lugar em todas as dimensões da vida e o seu lugar de protagonismo e de um jeito de fazer diferente, por exemplo, dos homens. É importante discutir e reparar esse processo histórico de desigualdade em relação aos outros gêneros”, considera.
O WOW nasceu em Londres, em 2011, dentro de uma perspectiva de olhar para as lutas das cidades por onde passa – até o momento já passou por 54 cidades e 23 países – sempre com o foco nas lutas das mulheres. “Quando a Jude Kelly criou este Festival, criou na perspectiva de que outras mulheres pudessem se apropriar do Festival e pudessem, a partir das lutas que já enfrentam em seus países pudessem fazer o Festival acontecer a partir dessa ideia. Todo nosso esforço é para contemplar a perspectiva diversa do que é mulher e também dessas experiências de mulheres que vêm de territórios distintos, de comunidades tradicionais”, explica Eliana.
Veja a programação completa no site do Festival. As inscrições são gratuitas, acesse: https://www.festivalmulheresdomundo.com.br.