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A rotina dos corredores de rua e as adaptações à quarentena

Tecnologia e criatividade renovam o fôlego dos atletas amadores em meio à pandemia

Por Pedro Bueno*
Atualizado em 14 jul 2020, 18h03 - Publicado em 8 jun 2020, 17h11
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  • O professor de educação física Antônio Josiano sobe e desce as escadas do prédio para substituir a rotina corredor de rua. Pelo menos quatro vezes na semana, ele saía de casa para correr pela cidade. Josiano está entre os milhares de cariocas obrigados a adaptar os hábitos de atleta ao isolamento e à maratona online impostas pela pandemia. Uma contramão da escalada empreendida, nos últimos quatro anos, por uma das atividades esportivas que mais crescem no país: a participação em provas de corridas de rua avançou 20% no Brasil desde 2016, constata o estudo State of Running 2019

    +Atletas de alto padrão tentam manter o ritmo se exercitando em casa

    Os cariocas acostumados a correr na orla, à margem da Lagoa, no Aterro e em trilhas da mata criam alternativas para substituir o exercício – sinônimo não só de condicionamento físico e mental, mas também de mergulhos na alma do Rio. Além de subir escada, Josiano faz polichinelos e corrida (?) estática. Assim compensa, em parte, seus habitais trotes nas ciclovias da Zona Sul. Ultramaratonista, ele teve que cancelar a inscrição em algumas provas, como uma disputa programada para a Patagônia argentina. O professor de educação física ressalta que o “Importante agora é pensar no coletivo”: “Se eu pensar em correr na rua, mesmo tomando todos os cuidados, muitas pessoas podem pensar (em correr) também, e isso vai gerar aglomeração. Por esse e outros motivos, não estou indo. Tento dar o exemplo para os meus alunos não saírem de casa. Os números de casos e mortes de Covid-19 só crescem. Então, faço a minha parte de isolamento social”.

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    A nutricionista Sylvia Pozzobon também tem segurado a onda. Trocou a atividade ao ar livre por treinos funcionais em casa e pedaladas na bicicleta de treino. Há 20 anos Sylvia participa de provas de corrida de rua, e contribui para as mulheres terem se tornado maioria nesse esporte, como confirma o State of Running 2019. Ela tem experimentado alternativas para suprir os seis treinos de corrida e bicicleta semanais ruas. Nem sempre a adaptação é fácil: “Um dia corri no meu play, mas fiquei com muitas dores no joelho e tornozelo. Tentei também subir escadas do meu prédio, mas também não gostei, porque achei abafado e passei mal”.

    As alternativas miram também o benefício mental proporcionado pela corrida de rua. Para a maioria desses corredores e corredoras, o esporte funciona como uma terapia. Sylvia acusa o golpe. A falta da atividade ao ar livre tem afetado a cabeça. A psicóloga Luciana Genial observa que a troca da rotina em espaço aberto pelo ambiente interno tende a abalar o humor do atleta, deixando-o irritadiço e ansioso. 

    O sono e os hábitos alimentares também podem sofrer com as mudanças no dia a dia dos praticantes dessa atividade, inclusive aquelas relacionadas à disciplina dos treinos. Segundo Luciana, alguns apresentam desânimo semelhante ao causado por uma lesão. Para evitar reações assim, a psicóloga sugere que o corredor “trabalhe a aceitação de que a pandemia é algo fora do controle do atleta” e exercite a mente com atividades lúdicas: “É importante que o corredor se ocupe com outras atividades que tragam alguma satisfação. Leituras, culinária, cursos online e até um envolvimento com atividades domésticas podem preencher esse espaço”, recomenda. “Existe também a possibilidade de o atleta dedicar um tempo do seu dia ao mental training, ou seja, atividades na quais ele simula situações de prova e mentaliza alguns aspectos técnicos a melhorar. Além disso, é um excelente momento para leituras de biografias de atletas renomados com histórias de superação. Isso pode servir de inspiração na retomada da modalidade, no fim da pandemia”, acrescenta Luciana.

    Há muito o jornalista e maratonista Iuri Totti divide a rotina de treinos com diversos tipos de leitura. Com mais de 50 meias-maratonas e 13 maratonas no currículo, o ex-subeditor de esportes de um jornal segue à risca as recomendações médicas e as restrições para conter o avanço da Covid-19. Isso não significa que ele tenha parado de correr. Iuri passou a correr no play, três vezes por semana. É o paliativo adotado por quem há quase 15 anos faz da corrida de rua corrida de rua a principal atividade física. O pragmatismo garante-lhe o fôlego para seguir em frente: “É preciso pôr na balança o que vale mais: a vida ou a corrida. A corrida sempre foi uma terapia, uma válvula de escape para a pressão do dia a dia. Não correr com o mesmo volume de antes é complicado, mas é melhor estar quieto do que dando carona para o coronavírus”.

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    Palavra de quem conjugou a paixão por correr com a profissão. Entre 2010 e 2013, ele assinou uma página semanal e uma revista trimestral sobre corrida, chamada Pulso, publicada em um jornal do Rio. Depois de deixar o veículo, em 2015, criou o próprio site com informações sobre o mundo dos corredores de rua (corridainforma.com.br). 

    O isolamento afeta também a rotina e o humor dos atletas amadores. O estudante Victor Paiva tem malhado em casa para remediar a ausência dos treinos nas ruas. A musculação, com os pesos que tinha em casa, e os exercícios na máquina de remada de um amigo contribuem para manter a forma física. Mas estão longe da satisfação proporcionada pela corrida ao ar livre, ressalva. Paiva apaixonou-se pela atividade há dez anos, quando começou a se dedicar ao esporte depois de ouvir que corria torto. A partir daí, passou a treinar pelo menos duas vezes por semana, inclusive na areia da praia. Ele confessa já correu algumas vezes durante o isolamento social, porém não se sentiu “confortável”: “Corri bem pouco. Opto por horários alternativos e não corro mais em grupo. O clima na rua está estranho. As pessoas criticam muito. Até por isso, não me sinto confortável pra fazer esse tipo de treino”.

    Victor (corredores de rua) (1)
    Victor: malhação em casa para compensar (Arquivo pessoal/Reprodução)

    Treinos coletivos, comuns nos crescentes grupos de corrida no Rio, tornam-se temerários diante da necessidade de afastamento social. O médico intensivista Moyzes Damasceno lembra que a aglomeração representa o maior risco para a corrida ou qualquer atividade ao ar livre. “Se pessoa realmente precisar correr na rua, deve fazer isso sozinha, de preferência em horários com menor circulação, como de manhã cedo”, orienta.

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    A quarentena não deve, contudo, significar suspensão da atividade física. Pelo contrário, os exercícios regulares são, ao lado da alimentação adequada, a chave para conservar a saúde assombrada pelas privações e tensões da pandemia.  Damasceno ressalta que a rotina (adaptada) de atividade física constitui uma prevenção importante contra os efeitos do novo coronavírus: “A doença compromete o quadro respiratório. Há uma coerência em achar que as pessoas com melhor preparo físico não sofram tanto, em geral, os seus efeitos. É claro que temos que levar em conta as condições de saúde de cada pessoa, mas os praticantes da atividade aeróbia têm mostrado uma melhor reação à doença. Por isso, as pessoas devem buscar o exercício físico regular, mas de forma moderada. E devem evitar, acima de tudo, não entrar em contato com outras pessoas”, reitera.

    Profissionais de educação física e assessorias de corrida têm colaborado com as alternativas para se exercitar em casa buscada por corredores cariocas. Sylvia faz parte de duas delas: a Equipe Fox, que promove treinos online por lives no Instagram liberadas ao público e aulões no Zoom para os seus alunos; e a Equipe Thi Squad, que tem feito lives com desafios e treinos gratuitos.

    Professor e dono de academia, Zeca Lima faz lives diárias, às 10h, com aulas de ginástica gratuitas.  Para ele, tão importante quanto às orientações técnicas, são a “energia e a descontração” dessas atividades. Devem levar em conta, diz o professor, que as pessoas estão em casa, em circunstâncias adaptadas.

    O também professor de educação física Bruno Damn é outro que oferece sessões de atividades físicas em perfis do Instagram e do Facebook. Começou a postar treinos de funcional, ao observar que o isolamento social estava se tornando sinônimo de sedentarismo. Além da parte física, Damn capricha nas práticas motivacionais: “Faço desafios semanais e mensais para motivar as pessoas. Procuro também publicar alguns informativos sobre a importância da prática de atividade física e da nutrição nas rotinas mudadas pela pandemia”.

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    Serviço:

    Treinos Equipe Fox

    Todos os dias no perfil do Instagram @equipefox

    Treinos, desafios e lives Thi Squad 

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    Consultar o perfil do Instagram @thi.squad

    Treinos de ginástica com o professor Zeca Lima

    Todos os dias, às 10h, no perfil no Instagram @zecabeachclub

    Treinos de funcional com o professor Bruno Damm

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    Todos os dias no perfil do Instagram @time_damm e no perfil no Facebook @Bruno Damm

    *Pedro Bueno, estudante de comunicação, sob supervisão dos professores da universidade e revisão de Veja Rio

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