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Ação na Favela do Mandela promove transformação social por meio do esporte

Time de futebol feminino se tornou rede de apoio solidária para onze comunidades no Complexo de Manguinhos

Por Gabriela de Sousa Dantas*
Atualizado em 7 jul 2021, 17h56 - Publicado em 7 jul 2021, 17h51
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  • Em 2002, na Favela do Mandela, localizada no Complexo de Manguinhos, Zona Norte do Rio, nascia o Estrelas do Mandela. Na época, era apenas um time de futebol feminino com meninas entre 14 e 35 anos. Entre elas estava Graciara Silva, a Gagui, uma garota que ficava muito na rua e gostava de brigar. Hoje com 41 anos, a professora de educação física é coordenadora do projeto há quase duas décadas.

    “Nós da favela já acordamos com o punho cerrado, e eu era assim. Fui uma menina rebelde e ninguém dava nada por mim. Entrei no Estrelas do Mandela como aluna e, por causa do time, tive a oportunidade de me envolver com o futebol feminino. Comecei também a estudar Educação Física e, quando conheci a educação, mudei a minha vida“, conta Gagui.

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    Já formada, Gagui viu no Estrelas do Mandela potencial para se transformar em algo muito maior, para além das quadras, na intenção de ajudar não apenas as integrantes do time, mas toda a comunidade do Complexo de Manguinhos. A primeira mudança foi a do público-alvo que o Estrelas do Mandela abraçaria. A faixa etária da equipe passou a ser de 5 a 17 anos. A coordenadora explica:

    “O projeto, inicialmente, trabalhava com meninas jovens e mulheres. Mas eram muitas meninas de 19 anos se encaminhando para a segunda gestação, e isso nos preocupava. Por isso, começamos a trabalhar com meninas menores, tentando atingir essa questão da maternidade precoce através da conscientização. Em que condições as mulheres querem estar no futuro? Começamos a trabalhar diretamente com o empoderamento feminino através do esporte”.

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    Imagem mostra meninas com uniforme rosa claro jogando futebol em uma quadra da comunidade
    Lugar de mulher: meninas passaram a treinar na quadra, antes ocupada somente por meninos (Divulgação/Divulgação)

    Além de promover aulas de futsal feminino para 60 crianças de 5 a 17 anos, o projeto conta com parceiros para ampliar seu poder de suporte. Um dos aliados é o Gerando Falcões, rede nacional de ONGs de desenvolvimento social, que atua em ações solidárias dentro das favelas do Rio.

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    Juntos, em maio de 2021, Estrelas do Mandela e Gerando Falcões lançaram a campanha Cesta Básica Digital: distribuíram cartões-alimentação, no valor de R$ 150,00, para 250 famílias cadastradas do Jacarezinho, da Maré e de Manguinhos. No início da pandemia, foi criada também a Ação Solidária Estrelas do Mandela contra o coronavírus, em parceria com a associação de moradores.

    Eles arrecadaram e distribuíram cestas básicas, além de água, sabonetes, álcool gel, máscaras e luvas. A Fiocruz também é uma parceira e, desde o ano passado, atua na campanha Solidariedade de Manguinhos. Essa ação, todo mês, desde o ano passado, arrecada alimentos para o projeto.

    Imagem mostra uma mulher e uma menina em frente a cestas básicas
    Solidariedade: Graciara Silva com aluna e doações de cestas básicas arrecadadas para distribuição durante a pandemia (Divulgação/Divulgação)
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    Hoje, além do futebol e da arrecadação de alimentos e itens de higiene pessoal, o Estrelas de Mandela desenvolveu o Gol de Letra, iniciativa literária em que as crianças da comunidade participam de rodas de leitura, principalmente de autores negros. Às terças, em parceria com a Associação de Moradores de Manguinhos, também é oferecido reforço escolar.

    Nós estamos elevando a dignidade humana na favela. Queremos mostrar além da violência, da criminalização da pobreza e da miséria. Queremos que as boas ações também apareçam“, afirma Gagui.

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    As meninas do Estrelas do Mandela viveram muitos anos dependendo do comércio local. Pediam pão na padaria, salsicha no mercado e verduras no sacolão. Além das dificuldades financeiras, o machismo também teve de ser driblado quando as meninas passaram a usar a quadra do Mandela II em horário fixo, com aulas de técnicas:

    “A partir do momento em que a gente declarou que o espaço também era nosso, começamos a sofrer vários ataques. Os meninos ficavam do lado de fora da quadra nos ridicularizando. Tivemos que vencer muitas trincheiras para nos fortalecer. Lutamos contra o machismo e a indiferença, além do olhar sobre a sexualidade do corpo da mulher em um espaço tão masculino como o futebol”, relata Gagui.

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    A partir da formalização do projeto, encontraram parcerias e criaram campanhas de arrecadação, vaquinhas e financiamento coletivo para se estruturarem como uma rede capaz de ajudar a própria comunidade, e ser exemplo para outros projetos. 

    * Gabriela de Sousa Dantas, estudante de Jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da universidade e revisão de Veja Rio.

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