A queda recorde de 9,7% no segmento de serviços, registrada pelo IBGE no segundo trimestre deste ano, indica o estrago da crise sanitária na economia do Rio: o setor responde por aproximadamente 65% do Produto Interno Bruto (PIB) fluminense, a soma das riquezas produzidas no estado. Com a oferta e a demandas retraídas pela pandemia, empresas e profissionais lutam para se manterem ativos. Empreender se torna uma alternativa crescente.
A criação de novos serviços e modelos de negócio, ajustados às condições impostas pela crise, é a saída encontrada por muitos para reduzir as perdas de renda. Segundo o professor e consultor de macroeconomia Ruy Quintans, essas inovações buscam impulsionar mecanismos para que conservar o funcionamento das etapas econômicas. Ele ressalva que o desafio maior é conservá-los: “O ‘novo normal’ não existe de fato, pois o físico é necessário. Alguns negócios que estão se reinventando nesse período terão de retornar ao que faziam antes. A grande questão é: essa realidade vai perdurar?”, pondera o especialista.
Em meio às incertezas, profissionais como Vivian Máximo tentam extrair das novas circunstâncias oportunidades de mercado. Formada em moda, deixar a empresa na qual trabalhava para empreender. Lançou a própria marca – Dye Me (@dyemeplease) – e aposta num nicho ascendente: tingimento de roupas. “Eu pinto desde que tenho 10 anos de idade. Cresci no chão de alfaiate e costureira. Tudo para mim na moda é muito natural”, conta Vivian.
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Como indica a marca, o negócio segue a tendência do tie dye. Esta técnica de tingimento ganhou destaque nas redes sociais durante a pandemia. Vivian vislumbrou nela um novo horizonte profissional: “Eu vi a foto de uma camisa oversized Tie Dye no Instagram e resolvi pegar uma peça do meu marido e pintar. Quando usei a camisa, as pessoas enlouqueceram e percebi que aquilo tinha um borogodó”, recorda
Empreender, lembra Vivian, jamais é simples. Ela faz de tudo um pouco: direção criativa, produção, aprovação de modelagem e até comunicação com o cliente.
Casos assim, observa Quintans, já formavam uma onda de empreendedorismo mesmo antes da pandemia. Um reflexo da reconfiguração profissional deflagrada nos últimos anos, com o enfraquecimento da carteira assinada, a hibridização de funções e carreiras mais flexíveis. Contexto no qual cresce o trabalho por conta própria, inclusive entre os cariocas.
A personal Anna Antunes, de 35 anos, embarcou nessa onda também pelas mudanças decorrentes da pandemia. Aproveitou a expansão online para ampliar a oferta e o público dos serviços de educação física. Com a suspensão das aulas presenciais nas academias, as adaptou para o formato digital. Das orientações por chamadas de vídeo incialmente restritas às suas alunas particulares, Anna passou a fazer lives abertas em seu Instagram nos fins de semana. A iniciativa atraiu novos consumidores e difundiu o trabalho da professora.
Antes da pandemia, o perfil no Instagram (@anna___antunes) era muito mais modesto. Com a divulgação pelas lives e a ajuda de uma aluna influenciadora, que compartilhou alguns vídeos de treinos, Anna já reúne mais de 13 mil seguidores. O salto produziu um efeito colateral preocupante: ela percebeu que perdia alunos por não conseguir atender à demanda crescente:
“Aí veio a necessidade de um olhar estético para o perfil e a busca de um método que fosse capaz de atender mais alunos”, recorda.
Com a ajuda de uma aluna, Anna abriu um perfil fechado com aulas todos os dias. Mas nem tudo se resolveu ao criar o chamado Grupo Premium. A personal preocupava-se com a qualidade do movimento: a impossibilidade de ver os alunos dificultava que ela corrigisse as posições. Para resolver isso, Anna organiza uma aula semanal no Zoom. Também recebe dos alunos vídeos nos quais verifica a execução dos movimentos.
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A adaptação de prestadores de serviços e clientes ao meio digital impõe uma série de desafios, inclusive a construção de limites para evitar um excesso de trabalho online que prejudique a saúde. Como noutras tantas atividades desafiadas pela pandemia, a busca do equilíbrio é constante.
“É um processo gradativo, que tem sido bem-sucedido, especialmente para alunos com o costume do treino funcional, sem a necessidade de muitos equipamentos”, relata a professora. Anna acredita que, passada a crise, o serviço tende a conjugar os formatos online e presencial. Uma composição supostamente favorável à ampliação do público. O meio digital, reforça Quintans, abre as portas para a participação de novos alunos. “Só vejo vantagens em funcionar nesse sistema híbrido. Cada um se adapta de acordo com suas preferências”, argumenta a personal.
A estudante Larissa Amaral, de 18 anos, também acalenta expectativa animadora em relação à inciativa impulsionada na pandemia. Nasceu quase por acaso, do incômodo com ócio gerado no início do isolamento. Determinada a sair do tédio e “achar uma atividade prazerosa e lucrativa”, ela fundou a Amor Entregue (@amorentregue). Como o nome sugere, entrega “presentes sentimentais em datas comemorativas”. Um negócio cujo crescimento está associado às restrições necessárias para conter o avanço do coronavírus.
Até então, Larissa havia tido só uma breve experiência vendendo brownies no colégio. Com a ajuda da mãe na compra do primeiro estoque de materiais, ela combinou doces, flores, bebidas, petiscos e fotos em uma cesta. Ela conta que a principal dificuldade, no início, foi lidar com a logística, desde encontrar fornecedores até desenvolver a forma mais rápida de entrega.
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Embora a venda dos presentes tenha começado no fim de maio, só duas semanas depois, no Dia dos Namorados, 12 de junho, os pedidos de cestas deslancharam: 13 em menos de 24 horas. No Dia dos Pais, o número de encomendas chegou a 25. Foi quando a jovem empreendedora decidiu contratar um motoboy, “para conseguir entregar todos horários”.
O público composto incialmente por conhecidos e familiares se diversificou com o boca a boca. O sucesso impõe à Larissa uma decisão nada fácil. Com a retomada plena das atividades acadêmicas interrompidas ou alteradas pela crise, ela não sabe se vai “conseguir continuar sozinha, devido a volta das atividades presenciais na faculdade”. às aulas da faculdade e das atividades presenciais. Passar o bastão à mãe é opção mais provável.
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*Alunos de Comunicação Social – Jornalismo da PUC – RJ