Maior território escravista do hemisfério ocidental, o Brasil foi, entre os países do Novo Mundo, o que mais tempo resistiu a proibir oficialmente o tráfico de pessoas e o último a abolir o cativeiro, por meio da Lei Áurea, em 1888. Mesmo após 133 anos, a população negra ainda sofre consequências de uma escravidão que durou mais de três séculos, e que persiste no racismo estrutural da sociedade brasileira.
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Lançamentos e clássicos, pesquisas historiográficas, ensaios e ficção ajudam a desvendar o mito da democracia racial no Brasil. Neste maio, chega o segundo volume da trilogia Escravidão, do jornalista e escritor Laurentino Gomes, que ganhou com o primeiro volume o Prêmio Jabuti de Literatura 2020 na categoria Biografia, Documentário e Reportagem.
Conheça a seguir este e outros livros que reescrevem a história do país.
Escravidão – Vol. 2, de Laurentino Gomes
Em pré-venda a partir de 22 de maio, depois de ter seu lançamento adiado em 2020 por causa da pandemia, Escravidão 2 – da Corrida do Ouro em Minas Gerais até a Chegada da Corte de Dom João ao Brasil é o segundo volume da trilogia do escritor Laurentino Gomes, premiado autor de 1922, 1808 e 1889.
Cobre um período de cem anos, entre a descoberta de ouro em Minas Gerais, no início do século XVIII, e o desembarque de Dom João no Rio de Janeiro, em 1808. Globo Livros.
O Imenso Azul entre Nós, de Ayesha Harruna Attah
Também lançada neste mês de maio, a ficção da escritora ganesa Ayesha Harruna Attah é ambientada em parte na Bahia, onde a autora morou ao fazer residência em escrita no Instituto Sacatar, na Ilha de Itaparica.
Conta a história das gêmeas Hassana e Husseina, separadas após um ataque brutal à sua aldeia, em 1892. Ambas são escravizadas, cada uma em um lugar diferente: Hassana fica na Costa do Ouro africana, enquanto Husseina cruza o oceano até a Bahia, onde é iniciada no candomblé. Editora Alt.
Escravidão – Vol. 1, de Laurentino Gomes
Resultado de uma pesquisa de seis anos, a obra, que abre uma trilogia, mergulha na formação da identidade nacional, contextualizando acontecimentos relacionados ao início do tráfico de africanos desde o primeiro leilão de escravizados em Portugal, em 1444, até o assassinato do líder quilombola brasileiro Zumbi dos Palmares, em 1695. Globo Livros.
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Dicionário da Escravidão e Liberdade: 50 Textos Críticos – vários autores
Lançado em 2018 com o propósito de fazer uma comemoração crítica dos 130 anos da abolição, o dicionário é composto por 50 textos de especialistas que expõem a dor da escravidão e também a luta de africanos e afrodescendentes pela liberdade.
A organização é dos pesquisadores Lilia Moritz Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes. Companhia das Letras.
Na senzala, uma flor – de Robert Wayne Slenes
O livro do pesquisador americano e professor da Unicamp analisa a formação de famílias de escravos no Sudeste oitocentista, período da produção cafeeira.
Por meio de farta documentação (registros paroquiais, livros de batizados e casamentos, inventários, censos demográficos, listas nominativas), Slenes descarta o mito de que os escravizados viviam na promiscuidade, sem família: aborda a construção dos laços de afeto e solidariedade entre
familiares, fruto das tradições centro-africanas. Editora da Unicamp.
A Abolição, de Emília Viotti da Costa
O que estava por trás da assinatura da Lei Áurea? O Brasil realmente tinha a intenção de construir um sistema democrático ou a finalidade era apenas política? A historiadora Emília Viotti apresenta o complexo cenário político,
econômico, social e ideológico que resultou na assinatura da Lei Áurea, que estabelecia a abolição da escravatura no país em 1888. Editora da Unesp.
Escravidão Contemporânea, organização de Leonardo Sakamoto
Completando a lista de obras de caráter histórico, o livro organizado em 2020 pelo jornalista e conselheiro da ONU reúne textos de especialistas do Brasil e do exterior sobre trabalho escravo no Brasil do século XXI, a que são submetidos sobretudo negros, desde a Amazônia até a Grande São Paulo.
Há análises sobre a escravidão pelo mundo e sobre as legislações que vêm sendo implementadas para mudar uma realidade que aprofunda a vulnerabilidade social, econômica e educacional do país. Editora Contexto.
Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre
O livro, lançado originalmente pelo sociólogo pernambucano em 1933, foi pioneiro no tema e na abordagem da formação do povo brasileiro pela mistura de raças e culturas. Para Freyre, foi o contato de negros, índio e brancos que criou uma sociedade original, que apresenta como um valor.
O que não quer dizer que tenha ocorrido de maneira pacífica: o próprio Freyre destaca a violência da escravidão. Foi relançado pela Global.
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* Gabriela Dantas, estudante de Jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da PUC-Rio e revisão de Veja Rio.