Cheiro de gasolina, cachorro-quente, sessão Coca-Cola, tecnologia duvidosa e namoro no carro. Os drive-in – versão século 21 – estão de volta em diversas cidades do mundo. No Rio de Janeiro, já há um em funcionamento, na Jeunesse Arena, na Zona Oeste. Assistir a filmes em um telão de cinema de dentro de seu próprio carro é uma das alternativas de entretenimento, no Brasil e no mundo, em tempos de coronavírus e isolamento social. Novidade para os mais jovens, o drive-in traz boas lembranças aos mais velhos.
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“Lembro de ir ao drive-in da Lagoa quando eu era criança, no final dos anos 1970. Costumava ir com a minha família, aos domingos de manhã, assistir às matinês Coca-Cola, como eram chamadas. Passavam muitos desenhos (animações) da Disney e era servido o cachorro-quente Geneal. Tinha um sistema em que você conectava uma caixa de som ao poste para pode ouvir o áudio do filme dentro do carro. Quase todo domingo estávamos lá, era bem legal”, conta João Carlos Baptista da Rocha, 55 anos.
Um dos mais longevos drive-ins do Rio foi o Ilha Auto Cine. Localizado na Ilha do Governador, teve as portas fechadas em 2007.
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“Fui uma vez no drive-in da Ilha, se eu não me engano fui assistir a ‘Sexta-Feira 13’, mas a experiência me lembrou bastante dos filmes americanos dos anos 1940 e 1950. Os carros eram simples, Chevettes, Voyages… Era bem legal todo mundo dentro dos carros. Na época, a (grife de moda) Company era bem popular, a gente usava camiseta e mochila da marca, tênis da Redley, além de calças jeans da Yes Brazil. Uns iam para namorar também… Só não gostava muito do som. Eles botavam uma caixinha dentro do carro, mas não tinha muita qualidade”, diz Luciene Silva Souza, 53 anos.
Duas telas e Del Rey bege
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Do mesmo grupo responsável pelo Ilha Auto Cine, havia o Jacarepaguá Auto Cine, na Praça Seca. Esse tinha uma diferença em relação aos outros: eram duas telas exibindo filmes diferentes.
“Fui ver Aracnofobia no final dos anos 1980 em um Del Rey bege bastante confortável. Nunca fui muito ligada em estilos de roupa, mas aos 24 anos posso te garantir que usava jeans Us Top, tênis All Star, Kichute e camiseta de malha. A tecnologia não era de excelência, o som era abafado e a imagem não era tão nítida, mas era compatível com as mídias da época. Não tinha controle de entrada dos carros, então sempre que alguém chegava, a atenção era facilmente desviada. Acho que não teria condições psicológicas para ir em um drive-in hoje em dia, com tanta violência gratuita por aí. Nos dias de hoje, é possível voltar do drive-in sem dinheiro, documentos ou até mesmo o carro”, reflete Cátia Rangel, 49 anos.
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Naquele mesmo drive-in e na mesma época, José Carlos Gomes, 59 anos, assim como muitos jovens daquele tempo, aproveitou o cinema para namorar.
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“Lembro de ter ido com uma namoradinha com quem eu estava saindo, em um Chevette que eu tinha. O ingresso era bem acessível, era mais ou menos o preço do cinema normal, mas é difícil dizer ao certo, já que o dinheiro vivia trocando de nome. Os equipamentos do drive-in estão lá até hoje… Acredito que o cinema fechou pelo fato de o local ter se tornado muito perigoso. Eu até tenho vontade de ir de novo agora, mas se já era perigoso na época, imagina agora”, observa José.
*Cadu Gomes, estudante de comunicação da PUC-Rio, sob supervisão dos professores da universidade e revisão de Veja Rio