A residência oficial do prefeito do Rio, na Gávea Pequena, foi cenário de momentos que variaram da euforia ao drama na noite de domingo (2), durante a apuração do primeiro turno da eleição no Rio. Foi ali que, em uma sala reservada, o prefeito Eduardo Paes acompanhou pela televisão a contagem dos votos, ao lado do candidato Pedro Paulo Carvalho e sua companheira de chapa, Cidinha Campos. Participavam da reunião o ex-governador Sérgio Cabral, seu filho e secretário estadual de esportes, Marco Antônio Cabral, sua mulher, Adriana Ancelmo, o governador em exercício, Francisco Dornelles, parte do secretariado e vereadores.
Três ausências, no entanto, foram notadas: o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, e seus filhos, o ministro dos Esportes, Leonardo, e o secretário executivo da prefeitura, Rafael, não deram as caras na mansão. Em meio à expectativa, o ex-governador Cabral se sentiu à vontade para mandar vir da adega uma garrafa de champanhe francês, pedido que chamou a atenção de todos os presentes, que até então bebiam apenas cerveja.
O tom comemorativo da reunião, entretanto, durou apenas até o percentual de urnas apuradas atingir os 62%. Nesse ponto, todas as esperanças do PMDB continuar governando a cidade como fez nos últimos oito anos, desabaram. Do lado de fora da sala onde a cúpula da campanha estava reunida, os assessores e auxiliares imediatos não escondiam a tristeza – alguns chegaram a chorar.
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Passado o choque, veio a reação natural de buscar os culpados. Enquanto os analistas políticos já começavam a apontar, nos programas de televisão, o prefeito Eduardo Paes como o principal responsável, com sua teimosia de manter Pedro Paulo como candidato mesmo depois das denúncias envolvendo o espancamento de sua ex-mulher, entre a entourage peemedebista apontava outro bode expiatório para a derrota: o marqueteiro Renato Pereira.
Em uma eleição marcada pelos orçamentos apertados, a campanha de Pedro Paulo despontou como uma vistosa exceção. Apenas na primeira semana, arrecadou 2,5 milhões de reais, pouco mais que o dobro de todos os seus adversários juntos. Tal fartura era perceptível nos comerciais. E foi esse justamente o ponto que tornou-se alvo de críticas. Segundo um membro da equipe, as convocações para que Pedro Paulo fizesse comerciais de produção complexa e demorada, o afastou das ruas – um erro grave em uma campanha tão curta.
Outro erro apontado foi a imposição de Pereira para que Pedro Paulo não desse entrevistas e até mesmo evitasse sorrir tanto (o objetivo era passar a ideia de seriedade). Também virou motivo de ataques a decisão de manter o prefeito longe do candidato, pois pesquisas qualitativas encomendadas pela equipe de marketing apontavam que a imagem de Paes era prejudicial à campanha em função de suas declarações bombásticas. Quando o prefeito entrou na briga, na última semana, já era tarde.
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A insatisfação com Pereira era tamanha que em um grupo de WhatsApp batizado de Mobiliza, peemedebistas aproveitavam para malhar o marqueteiro. Apesar das postagens evitarem criticar o prefeito, a equipe de campanha desabafava abertamente que o candidato era ruim de palanque, não tinha empatia com o eleitor e até mesmo a imagem de garoto humilde construída pela campanha soava falsa e fora de tom.
Com o baque da derrota, o prefeito Eduardo Paes se recolheu. Na segunda, na terça e na quarta, a prefeitura não divulgou sua agenda e compromissos públicos como a participação em um fórum promovido pela revista Piauí e Globonews, em São Paulo, no sábado (8), foram cancelados. Na terça pela manhã, soltou em seu Instagram, o mesmo em que publicava fotos da campanha de Pedro Paulo, uma bela foto tirada a partir da Floresta da Tijuca, com vista do Cristo Redentor, do Pão de Açúcar e da Lagoa Rodrigo de Freitas. Na legenda, publicou a nota oficial que divulgou a respeito da derrota na eleição. “Tenho muito orgulho de todo o trabalho que fizemos desde 2009, em todas as regiões do Rio de Janeiro e em todas as áreas de meu governo”, escreveu.