“O Brasil deve muito ao David Lynch”, diz professor de Meditação carioca
Kléber Tani acompanhou a viagem de Lynch por nove dias no país em 2008

David Lynch, cineasta morto nesta quarta (16/01), aos 78 anos, ficou também conhecido por amplificar mundialmente a Meditação Transcendental (MT); no Brasil, o seu Instituto David Lynch tem uma filial em SP. A causa da morte não foi divulgada, mas, no ano passado, ele revelou diagnóstico de enfisema pulmonar.
Ganhador de três Oscar, ele virou guru da MT. Defendia a meditação nas escolas, para combater a violência — em 2008, esteve no Brasil durante nove dias, para lançar o livro “Em águas profundas – Criatividade e meditação”, sempre declarando que isso ajudaria a livrar nosso país da violência.
Se tem um nome no Rio que é referência em MT, é Kléber Tani, há 45 anos ensinando a prática como discípulo Maharishi Mahesh Yogi (o mesmo que iniciou os Beatles), que conheceu Lynch quando o cineasta veio ao Brasil, exatamente quando lançou “Águas profundas”.
“David se mostrou extremamente delicado, carinhoso, respondeu a todas as pessoas sem se estressar, sem tirar uma de estrela. Foi muito humilde, muito delicado. Deu palestra em várias cidades, o que, pra nós, foi ótimo porque divulgou a MT, explicando que, quando você mergulha na meditação, percebe pensamentos mais sutis e lida com impulsos do inconsciente que determinam mais criatividade. Eu viajei com ele pelo Brasil, durante 10 dias. Tem até um filme sobre a passagem dele por aqui, feito por um carioca, o Marcos Andrade, o doc ‘Transcendendo Lynch’, lançado em 2011”, diz Kléber.
Lynch começou a praticar MT em 1973, depois de escutar uma frase que venceu o ceticismo inicial: “A verdadeira felicidade não está no exterior, mas no interior de cada um”. Em duas semanas, disse que “a raiva e a depressão começaram a sumir” e as ideias, a fluir com maior liberdade.
“Depois que descobriu a MT, ele mudou por completo, tornando-se uma pessoa muito mais estável, equilibrada. Isso ele relata no livro ‘Águas profundas’. Fala muito sobre a expansão da consciência através da MT. Então, o Brasil deve muito ao David Lynch no que tange à MT, levando a prática a escolas. Ele ensinou todo mundo do Instituto Reação (do judoca Flávio Canto) a meditar, inclusive agentes da Polícia Militar”, diz Tani.
A última participação do cineasta no Brasil, através de vídeo, foi durante a “Meditação Global”, como parte da programação do G20, em novembro do ano passado, uma parceria do Instituto David Lynch Brasil e da Meditação Transcendental.
“Perguntei sobre o motivo de os filmes dele serem tão intensos, às vezes pesados, com características tão impactantes para uma pessoa que divulga a MT. Ele ficou calmo e respondeu: “O fato de eu retratar as mazelas humanas não significa que eu viva essas mazelas. Estou simplesmente retratando’. Através dele, a minha academia encheu. Lynch tinha acesso livre a Maharishi Mahesh (mestre, criador da Meditação Transcendental) a hora que fosse. Considerava-o uma mente brilhante com a incumbência de levar a MT para o mundo todo através da arte”.