Os primeiros gestos, as atitudes, as vestimentas e as quebras de protocolo desenham uma figura extremamente humilde e simpática do pontífice que tomou posse nesta terça (19). A ordem dos jesuítas, da qual José Mario Bergoglio faz parte, no entanto, construiu sua história no Brasil e no Rio de Janeiro de uma forma bem mais esplendorosa. Ficaram famosas as histórias dos tesouros entocados pelos padres da Companhia de Jesus, sendo o mais notório deles o que estaria sob o extinto Morro do Castelo.
Com contornos de lenda, a história se torna de tal forma palpável em fins de abril de 1905. Operários trabalham na demolição de um trecho do Morro do Castelo para a abertura da principal obra da Era Passos, a Avenida Central. Este grande símbolo do progresso, da transformação da capital colonial numa metrópole moderna, topa inesperadamente com uma galeria de pedra, que reaviva uma das narrativas mais nebulosas da cidade antiga.
Aquele seria apenas um dos túneis que levaria ao salão dos concílios, onde estaria escondido 32 toneladas de ouro. Talvez por uma questão de consciência limpa ou até mesmo movido por curiosidade, o responsável pela abertura da Avenida Central, o engenheiro Paulo de Frontin, realiza incursões ao interior do morro. Para a decepção dos populares que se aglomeram à espera de novas dos crucifixos, das moedas e patacas douradas e das pedras preciosas, nada é encontrado.
Quem melhor cobriu a descoberta foi Lima Barreto, numa série de textos romanceados, assinados sob um pseudônimo para o Correio da Manhã, que ganhou uma edição bem bonitinha da editora Dantes com o nome O subterrâneo do Morro do Castelo. Também conheci histórias interessantes sobre a riqueza dos jesuítas no livro Tesouros do Morro do Castelo (Editora Zahar) e em conversa com seu autor, o diplomata Carlos Kessel. O autor nos conta sobre as inúmeras requisições feitas no século 19 para conseguir uma autorização para a exploração do Morro do Castelo.
Até o Barão de Drummond, o criador do jogo do bicho, tentou a sorte nesta caça ao tesouro. A empreitada durou pouco, as dinamites usadas causaram grande incômodo à população que habitava a colina de ocupação mais antiga da cidade até então. Se existiu ou não tesouro, pouco importa; valioso mesmo são as histórias que alimentaram o sonho de muitos cariocas.
Abaixo, vemos Bergoglio; recorte do texto de Lima Barreto para o Correio da Manhã; a abertura da Avenida Central nas fraldas do Morro do Castelo; e a capa dos livros de Lima Barreto e Carlos Kessel/ Reproduções