Dia desses acordei e fiz um post nas redes sociais com a hastag #tbt. Alguém me respondeu dizendo que era quarta. No dia seguinte, fiz outro post, mais lúcida, com a tag #sextouzen. Veio uma explicação de que era quinta. Finalmente na sexta não escrevi nada porque fiquei doente. Desde março de 2020, sinto que vivemos com o tempo em suspensão e esquecemos de abraçar a vida – sentir tristeza e dor; desejo ou aversão, sem se confundir com eles.
Acompanho a dança diária entre meditação e medicação de boa parte de alunos e amigos. O meu trabalho tem sido mostrar como inserir uma pausa entre o pensamento e o rivotril. Entre um medo e uma reação (automática). Uma fantasia e uma frustração. Uma hora ou outra, ouvimos vozes internas que mantêm nossa vida pequena. E, sinceramente, acho cada vez mais exaustivo dar nexo a disparates.
O momento que mais precisamos pausar é quando isso parece intolerável. O real aparece quando temos consciência do que dizemos, sentimos e fazemos. É sobre voltar a confiar na nossa inteligência natural, em nosso coração naturalmente sábio. É um aprender a repousar na experiência corporal do momento. Sei que numa leitura rápida, isso parece poesia demais para tempos cinzas. É mesmo. Precisamos de inteligência emocional para sobreviver e ajudar.
Não nos ensinam na escola que nossos sentimentos e pensamentos mais habituais definem o núcleo de quem pensamos ser. E na confusão da vida, que parece uma espera sem futuro, as raízes das ansiedades são expostas. Você acredita 100% que é seus pensamentos.
Se eu ganhasse R$1,00 para cada vez que digo a uma pessoa que ela não é os pensamentos eu teria muitos e muitos dinheiros…
Eu lido com os reveses de uma asma crônica desde sempre. Quando aprendi na medicina chinesa que a asma é um chorar por dentro me especializei em revirar as raízes dos desconfortos. Os meus e dos meus.
A meditação me liberta do medo de ser engolida pela crueza da raiva, da dor ou do desejo.
E assim eu transbordo.
Vanessa Aragão é pesquisadora e instrutora de meditação e sound healing, com estudos no monastério Kopan e no Kathmandu Center of Healing, no Nepal. É criadora do Lab @meditanteurbana e orienta práticas gratuitas em grupo, online, no seu espaço @c.a.s.a.s.e.r