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Vanessa Aragão

Por Vanessa Aragão, pesquisadora e instrutora de meditação Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Criadora do projeto Meditante Urbana
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A montanha em mim: uma experiência inexplicável

Como ser um meditante e viver no ritmo da cidade

Por Vanessa Aragão
Atualizado em 19 fev 2020, 10h17 - Publicado em 19 fev 2020, 10h17
Stupa em Boudhanath, Nepal. (Unsplash/ Prasesh Shiwakoti/Divulgação)
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Quando comecei a meditar em 2016, as pessoas achavam que eu queria fugir. Não entendiam, e eu não precisava mesmo que entendessem. Foi a minha primeira experiência reclusa em um monastério no Nepal: nada de celular, ipad, mp3, revistas, jornais e televisão. Estava decidida a atravessar o meu deserto. Ou como costumo dizer, subir a montanha. Foram 30 dias, com 8 horas e 45 minutos de fuso lá na frente. E um início de um encontro interno. 

Precisamos do deserto, um sinônimo de recolhimento, de respeito por si mesmo. O lado bom de não ser compreendido é que você pode se recolher, refletir e pensar. Com isso, você joga fora muitas bobagens e ilusões. Obviamente, eu não estava em um filme como a Julia Roberts, numa aventura cheia de comidas, mantras e romances. 

Na montanha, a confusão vem, o medo e a solidão. Então, nasce algo inexplicável, um encontro com aquilo que é realmente novo. É um alívio e uma alegria. 

Acabo de voltar mais uma vez da montanha, em uma nova temporada de 30 dias de reclusão, com 8 horas e 45 minutos de fuso. Agora, três anos depois, a descoberta continua sendo mágica porque ela não responde às leis conhecidas – cria possibilidades e desfaz antigas certezas. É por isso que precisamos de tempo, silêncio e reclusão: para ter mais clareza.

Meditação não é sobre virar uma pessoa diferente, é sobre treinar a consciência, entender como e por que você pensa e sente da forma que costuma fazer. Mais do que isso, a meditação te ensina a ficar bem com o jeito que você é, mesmo que os outros não compreendam. 

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Uma das lições que aprendi nesses 60 dias monásticos foi que mudanças dramáticas raramente são duradouras.Sigo gostando de uma boa taça de vinho e suspirando por Paulinho da Viola. O que torna a vida tão possível com a meditação é que você aprende a mudar a experiência do seu estilo de vida, ou seja, você descobre um senso mais permanente de satisfação.

O estresse pode nos levar a fazer todo o tipo de esquisitice. Podemos dizer e fazer o que não gostaríamos. No geral, afeta o jeito como nos sentimos em relação a nós mesmos e a forma como interagimos com os outros. É aí que a importância de treinar a mente e de manter contato com esse senso de satisfação podem fazer uma diferença profunda. É isso que significa ter clareza mental.

Quem sobe a montanha busca o silêncio por ter cansado das falas repetidas do cotidiano. Lá, respiramos e sentimos a ausência do tempo. Tudo é o agora. O corpo tem paz e inexplicavelmente a leveza vem. Começo 2020 orientando práticas entre Rio e São Paulo, e viver isso na cidade é um esforço grande.

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Observo que aquilo que mais pesa não é a realidade, mas a interpretação dela. Ando por aí descontraída e atenta. Carrego a montanha em mim.

Vanessa Aragão é pesquisadora e instrutora de meditação tibetana e sound healing, com estudos no monastério Kopan e no Kathmandu Center of Healing, no Nepal. É criadora do Lab @meditanteurbana, onde orienta práticas para mente e o corpo com o som de taças tibetanas, no Rio e em São Paulo. 

 

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